Os documentos contam parte da história do avô da magistrada, quando este atuava na Infantaria do Império, e revelam um pouco da história do Brasil.
O ano era 1881, século XIX. O Brasil vivia o momento do Império. Um jovem rapaz, chamado Luiz Antônio Bezerra, nascido na região de São José da Tapera, hoje município do Estado de Alagoas, “assentava praça” junto à Infantaria Imperial. A expressão da língua portuguesa, muito usada durante o Império, significa alistar-se no Exército, uma vez que o termo “praça” representava “praça de armas” ou “local de formatura das tropas”, conforme sites especializados.
“Em 1881 assentou praça, voluntariamente, na 8.ª Companhia de Infantaria da Província de Sergipe, em 13 de setembro, recebendo a quantia de Cento e Trinta e Três Mil Centos e Trinta e Três Réis. Assinado por João Neponuceno da Silva, Oficial Imperial à Ordem do Coronel Comandante do 17º Batalhão de Infantaria”. Esse trecho foi extraído de documentos datados do período do Império, com mais de 133 anos de existência e preservados pela juíza aposentada Denilza Bezerra, do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), neta de Luiz Antônio.
De acordo com a magistrada, esses documentos, que revelam um pouco da história do período imperial no Brasil, foram deixados pelo avô ao primeiro neto que aprendesse a ler, no caso, Denilza. “Trata-se da história do meu avô, mas também de como era o dia a dia no Brasil entre 1881 e 1886. São documentos históricos e que estamos procurando conservar e repassar às próximas gerações”, contou Denilza Bezerra, que nasceu em Arapiraca, interior de Alagoas, em dezembro de 1954, e se tornou juíza da Corte de Justiça do Amazonas no ano de 1989.
Os documentos revelam parte da vida de Luiz Antônio enquanto esteve atuando na infantaria. O papel já gasto e bem amarelado pelo tempo, ainda conserva a caligrafia característica da época e os termos comuns do período do Império, que começou no País quando a corte portuguesa deixou Portugal em 1808 e veio para a então Colônia, iniciando um novo estágio na história do Brasil.
“Meu avô atuou inicialmente na 8.ª Companhia de Infantaria do Império em Sergipe e de lá foi deslocado para a 13.ª Companhia, que tinha sua base no chamado, à época, Rio Grande. É interessante como os documentos descreviam fisicamente meu avô: Luiz Antônio Bezerra; natural da Província de Pernambuco; cor branca; cabelos ‘lizos’; olhos pretos; ofício nenhum; estado solteiro e altura de 1,50 m. Se fosse nos tempos atuais, acredito que ele não conseguiria ingressar no Exército com essa altura”, comentou, bem-humorada, a magistrada.
Denilza Bezerra que, como juíza atuou nas Comarcas de Jutaí e Parintins e depois na capital amazonense, na 7.ª Vara do Juizado Especial Cível da Comarca de Manaus, ressaltou que faz questão de conservar os documentos porque não apenas preservam a memória de momentos vividos no Brasil e de sua família, mas porque também eles registram aspectos sócio-culturais e econômicos desse período do País, além de mostrar às atuais e futuras gerações a escrita e como se falava na época. “Representam também fonte de estudo e de aprendizado, pois trazem, para nós, fatos reais do passado, um testemunho verdadeiro de momentos da história brasileira”, comentou a juíza.
Justamente em função disso, a magistrada vem buscando a tecnologia para conservar os papéis de cunho histórico, que ainda estão costurados, com linha confeccionada pelo Brasil Imperial.
Luiz Antônio Bezerra pediu “baixa” da infantaria em 1887 para cuidar dos filhos da irmã, que havia falecido. Ele se casou e teve cinco filhos: Mamede, Soledade, Alzira, Amélia e José Luiz – o pai da juíza Denilza.
Texto: Acyane do Valle | ESMAM
Fotos: Lucas Lobo | ESMAM