Trabalhando juntas há cinco anos, Sandra Onete e Cinthya Dinelly receberam o diagnóstico da doença no mesmo período e se apoiaram mutuamente para enfrentar o tratamento.
O mês de outubro é dedicado a campanhas de conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama. Batizada de “Outubro Rosa”, a ação busca estimular as mulheres ao autoexame; à realização da mamografia, seguindo os critérios recomendados pelo Ministério da Saúde; à adoção de hábitos saudáveis que possam contribuir para a redução de riscos da doença e, também, procura apoiar as mulheres que receberam o diagnóstico e têm de enfrentar o longo tratamento.
Trabalhando juntas há 5 anos na 11.a Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Amazonas, as servidoras Sandra Onete, 45, e Cinthya Dinelly, 49, dividiram essa experiência ao receberem, praticamente na mesma época – cerca de um ano e meio atrás –, o diagnóstico da doença. Sandra disse que o autoexame foi o ponto de partida para chegar ao diagnóstico. Ao perceber a alteração na mama, ela procurou o serviço médico do Tribunal, foi encaminhada para a realização de exames, através dos quais veio a confirmação da doença.
Cinthya, no entanto, percorreu um caminho mais longo, pois, ao detectar, por meio de exames de rotina, a alteração na mama, postergou a busca por um diagnóstico mais preciso. Foi necessário a alteração tomar conta do seio; os familiares pressionarem e a colega de trabalho – já diagnosticada – reforçar o alerta para que ela voltasse ao médico, confirmasse que se tratava de um tumor maligno e, finalmente, iniciasse o tratamento.
“Eu descobri o câncer de mama através do autoexame. Mesmo fazendo a mamografia, eu nunca abri mão do autoexame. Quando descobri o nódulo, no outro dia fui ao Setor Médico do Tribunal pra uma consulta com o ginecologista, dr. Edwin Ricardo, e ele me passou os exames de mamografia e ultrassom e, quando voltei com os resultados, ele verificou que realmente era sugestivo para nódulo maligno”, conta Sandra.
A servidora submeteu-se, então, a uma biópsia (procedimento cirúrgico no qual se colhe amostra de tecido ou célula, para confirmar se o tumor é benigno ou maligno) e, em menos de um mês, fez a cirurgia da mama. Em seguida, começou seu tratamento de quimioterapia e radioterapia que durou quatro ciclos, cerca de 3 meses.
Cinthya, por sua vez, relata que, em 2017, realizou os exames anuais de rotina, mas quando foi fazer a mamografia acabou se estressando com a médica e não retornou para buscar o resultado. “Eu já tinha feito a ultrassonografia de mama e a médica disse que eu tinha uma displasia e um nódulo, mas que não era maligno, então deixei de lado, não me preocupei. O nódulo foi crescendo, e eu fui percebendo, mas me negava a voltar ao médico. No fim, o nódulo tomou conta da minha mama direita. Meus filhos e a própria Sandra me alertavam sobre o que parecia ser só uma displasia, foi quando a ela me falou sobre o nódulo dela e isso me encorajou. Fui ao médico contra a minha vontade, eu me negava muito ainda, mas fiz os exames o mais rápido possível e comecei a fazer o tratamento, pois os médicos diziam que tinha chances de alcançar a cura”, conta Cinthya.
A amizade das duas tornou-se mais forte e juntas enfrentaram o tratamento apoiando uma a outra. Sandra se emociona ao falar do exemplo que conseguiu passar para a amiga de trabalho e que a encorajou a, também, buscar o tratamento. “Eu pegava no pé dela há muito tempo, ficava muito preocupada. Até falo que Deus me usou para alertá-la, porque depois que aconteceu comigo, ela sentiu forças para buscar o tratamento”, relata a Sandra.
Durante o tratamento, as amigas receberam apoio de outras mulheres que estavam passando pela mesma situação e, então, decidiram criar o grupo “Curaterapia”, que mostra como é feito o tratamento; a importância de se prevenir e de fazer o autoexame, a mamografia; procura melhorias para aquelas que são mais necessitadas e dá apoio no processo de tratamento.
Hoje, há quase um ano e meio, as duas estão curadas, mas continuam o acompanhamento por mais sete anos, realizando exames de três em três meses, e seguem ajudando outras mulheres que estão passando pelo mesmo processo que já passaram. Ao falar dos colegas da Vara, as duas são só elogios. “Tivemos muito apoio, no tempo em que precisamos ficar afastadas foram compreensíveis. A juíza Eulinete Melo e os nossos colegas até hoje cuidam muito da gente. Ficamos muito felizes em trabalhar com pessoas parceiras”, conta Cinthya.
Cuidados
As medidas de detecção precoce do câncer de mama – que ampliam as chances de cura – incluem o autoexame mensal e a realização de mamografia a cada dois anos, principalmente em mulheres acima de 40 anos. Em caso de sintomas na mama em mulheres na faixa etária inferior a 40 anos, a realização de ultrassonografia das mamas é adotada. Da mesma forma, o controle dos fatores de risco também é eficaz, assim como estimular os fatores protetores objetivando reduzir as possibilidades de desenvolver a doença.
O ginecologista Edwin Ricardo Noli Lazo, do Setor Médico do TJAM, destaca a relevância da campanha “Outubro Rosa” e de as mulheres cultivarem o hábito de fazer o autoexame. “É importante porque na nossa realidade, no Brasil, cerca de 50% dos cânceres de mama são descobertos pelo autoexame.
Ricardo Lazo frisa que as mulheres devem ficar atentas a alguns sinais e sintomas que podem sugerir alterações na mama: “nódulos; secreções anormais pelo mamilo e deformações na anatomia da mama devem ser investigadas e, por isso, ao notar alguma dessas alterações, é importante consultar o médico”, destaca.
O médico do TJAM frisa que há fatores de risco que podem influenciar nos casos de câncer de mama, com o tabagismo; antecedentes familiares de câncer de mama ou ovário em parentes de primeiro grau”, afirma o médico. Por outro lado, ele cita fatores que podem atuar como proteção ao desenvolvimento da doença, como os exercícios físicos contínuos, como uma hora de caminhada por dia; hábitos alimentares que tenham como base uma dieta hipocalórica; com a ingestão de muitas frutas e verduras, reduzindo o consumo de carboidratos.
A nutricionista do Setor Médico TJAM, Tereza Beatriz Barbosa de Oliveira, reforça a importância da dieta como fator de proteção para várias doenças, inclusive do câncer de mama, com destaque para o consumo das chamadas hortaliças brássicas (brócolis – preparado al dente –; repolho; couve-flor; couve; acelga; rabanete). “Comer ao menos uma porção diária delas é o ideal”, destaca Tereza Beatriz. Ela acrescenta que usar fitoquímicos das ervas e especiarias também ajuda muito.
“Já os alimentos que colaboram com o desenvolvimento do câncer são os xenobióticos, alimentos que consumimos e que o nosso corpo não interpreta como comida/nutriente, assim como agrotóxicos e defensivos usados nos alimentos; os açúcares pela glicação e oxidação exacerbada; os alimentos altamente processados/industrializados”, explica a nutricionista.
Cuidando das emoções
“O diagnóstico do câncer é um momento muito doloroso para qualquer ser humano. O câncer de mama, em especial, além de mexer diretamente com medo da morte, também envolve a autoestima da mulher, pois o tratamento, muitas vezes, inclui a retirada da mama, além dos efeitos colaterais do tratamento quimioterápico, como a queda de cabelo. São questões que deixam a paciente ainda mais fragilizada, pois, perde alguns de seus ‘símbolos femininos’’”, observa a psicóloga Aline Ferreira Gomes, da equipe do Serviço Médico do TJAM.
Ela explica que o trabalho do psicólogo – desde o momento do diagnóstico, passando pelo tratamento e pós-operatório, quando é o caso –, é atuar em conjunto com a equipe multidisciplinar de maneira a informar essa paciente sobre o seu diagnóstico; respeitar o tempo de cada mulher em relação a que tipo de informação ela está preparada a receber naquele momento; amparar também os familiares e explicar a importância que o apoio desses naquele momento.
“Sem saber como lidar com a situação alguns familiares acabam se distanciando e deixando o paciente sem apoio. O fortalecimento do equilíbrio emocional é importante tanto para a paciente quanto para a família nesse momento delicado. O resgate da autoestima também é um trabalho a ser realizado com a paciente, pois a falta dos ‘símbolos femininos’ pode vir a interferir em sua sexualidade, qualidade de vida e autoconfiança. É importante informá-la sobre as possibilidades de ressignificar esses símbolos de outras formas e continuar sendo mulher”, ressalta Aline Gomes.
A psicóloga frisa a importância também de estimular e possibilitar o protagonismo da paciente no tratamento, aumentando seu sentimento de capacidade. “Ela acaba sendo a responsável pelo seu tratamento e melhora, e precisa estar à vontade para segui-lo ou mesmo questioná-lo diante de dúvidas ou discordâncias. É fundamental se priorizar. O cuidado que antes era dedicado a outros agora precisa ser voltado a ela mesma”, acrescenta Aline.
Campanha ampliada
No Amazonas, em virtude do elevado número de casos de câncer de colo de útero, a campanha “Outubro Rosa” também se volta para a prevenção da doença. No TJAM, como parte das ações alusivas à campana, o Subcomitê de Atenção Integral à Saúde dos Magistrados e Servidores, que é coordenado pelo desembargador Elci Simões, organizou uma agenda de coleta de exames preventivos direcionada a servidoras e estagiárias da Corte.
Realizados com o apoio do laboratório LAB.AMO, os exames – mediante agendamento prévio já iniciado – vão ser coletados no período de 14 a 18 deste mês, nos Setores Médicos que funcionam no Fórum Henoch Reis e no Anexo do TJAM. Mais informações pode ser obtidas no Serviço Médico, pelos telefones 3303-5257 (Fórum Henoch Reis) e 2129-6747/6749 (Anexo).
Na segunda-feira (14), às 8h, com a presença do coordendor do Subcomitê de Atenção Integral à Saúde dos Magistrados e Servidores, desembargador Elci Simões, a Divisão de Serviços Médicos promove a abertura das atividades do Outubro Rosa, na entrada do Setor Médico que funciona no Centro Administrativo Des. José de Jesus F. Lopes (Anexo) do edifício-sede.
Yanna AndradeFotos: Chico BatataRevisão de texto: Joyce Tino