A homenagem aconteceu nesta quinta-feira, na véspera da aposentadoria do magistrado, em reunião por videoconferência.
Os juízes da área criminal do Tribunal de Justiça do Amazonas homenagearam o desembargador Sabino da Silva Marques, em reunião realizada na manhã desta quinta-feira (4/3), véspera da aposentadoria do magistrado, que completará 75 anos no dia 5 de março – idade máxima para atuação na magistratura brasileira. Os juízes destacaram a atuação do desembargador em comarcas do interior como a de Parintins, na década de 80, além do seu trabalho à frente do Grupo Permanente de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do Amazonas, o qual presidiu por mais de dez anos.
O primeiro a falar foi o juiz George Hamilton Barroso, que agradeceu o apoio do desembargador, sua constante colaboração para com os juízes, principalmente os que atuam na área criminal, e ainda lembrou momentos da carreira de Sabino Marques.
A juíza Anagali Marcon Bertazzo se dirigiu ao desembargador enfatizando o seu trabalho desde a época em que atuava como delegada de polícia na capital amazonense. “Ele nos recebia muito bem e ouvia nossa demanda. Sempre muito solícito e atento”, comentou.
“Eu agradeço todo o aprendizado, nós aprendemos muito com o senhor”, disse a juíza Eline Paixão e Silva Gurgel do Amaral Pinto, declarando, ainda, ele sairá da atividade judicante com orgulho do seu trabalho, desenvolvido com dedicação e zelo. “O senhor é exemplo de ser humano digno, de caráter”, acrescentou.
O juiz Luís Carlos Valois, em seguida, lembrou do seu início na magistratura, Sabino Marques ainda era juiz e sempre foi um magistrado que procurou olhar com mais humanidade para o jurisdicionado. “Aprendi muito com o senhor e não é à tôa que o desembargador Chalub o chama de mestre”, disse Valois, convidando Marques a continuar contribuindo com sua experiência na área da Execução Penal.
O juiz Mauro Antony agradeceu todo o apoio recebido de Sabino Marques e completou que aqueles que marcam as pessoas são os que se dedicam com afinco a uma causa. “Estamos vivendo tempos difíceis e lhe desejo muita saúde para que possa continuar a sua caminhada”.
Os juízes Julião Sobral e Luíza Cristina Marques também enfatizaram o legado do desembargador na magistratura amazonense, ressaltando o seu olhar humano para o jurisdicionado e que ele “não deixará o Judiciário”, pois continuará colaborando com sua experiência junto aos demais que continuarão nessa missão.
A juíza Andréa Jane Silva de Medeiros, por ser de Parintins, interior do Amazonas, disse que Sabino Marques, quando era juiz da Comarca, ainda é lembrado por sua forte atuação, principalmente em processos que tinham envolvimento de jovens – em inúmeros casos, evitou que adolescentes seguissem para a criminalidade. “O senhor teve uma brilhante atuação não somente como juiz, mas também pelo seu lado humano. Levo esse seu exemplo comigo”, contou.
Acidentes de avião e naufrágios
O juiz Henrique Veiga lembrou dos desafios enfrentados pelos membros do Poder Judiciário e de momentos extremamente difíceis como um naufrágio ocorrido durante uma viagem para o município de Nhamundá e acidentes aéreos, nos quais ele e o desembargador Sabino estavam presentes. “A vida de juiz e dos demais operadores do Direito no interior está sujeita a todos os tipos de percalços e sustos”, lembrou Henrique Veiga, que já sofreu quatro acidentes de avião ao longo de sua carreira na magistratura. “Felizmente, nada de mais grave aconteceu”. Em outro episódio, dez homens precisaram puxar uma corda, amarrada à hélice do avião, “para fazer o motor pegar” e concluiu dizendo que existem pessoas que têm um brilho na alma, como o desembargador Sabino, pois elevam e acrescentam a todos os que estão ao seu redor, indistintamente.
O juiz Rivaldo Norões pediu a palavra para lembrar de uma outra situação, também envolvendo aeronave, em que durante um retorno para a capital, após atividades em município do interior do Amazonas, o avião apresentou problemas. “Era um dia bastante chuvoso. Foram vários sustos, mas estamos aqui”. Externou os agradecimentos ao desembargador Sabino Marques, enaltecendo o seu trabalho judicante, sobretudo no que se refere ao sistema carcerário.
Curso natural da vida
O juiz Fábio Alfaia salientou que a aposentadoria faz parte da vida e que era importante não deixar de celebrar e enaltecer o bom trabalho realizado. “Temos uma grande admiração pela pessoa e pelo magistrado Sabino da Silva Marques”, disse, citando servidores do TJAM que tiveram a oportunidade de trabalhar diretamente com o desembargador. “O senhor é uma grande referência como magistrado”.
A juíza Ana Paula Braga fez um agradecimento pessoal ao desembargador Sabino Marques. “Enquanto estava na Comarca de Presidente Figueiredo (a 102 quilômetros de Manaus) sempre obtive o seu apoio desembargador. O município é cortado pela BR 174 (Manaus-Boa Vista), que é rota também para o tráfico. E todas as vezes que precisei de apoio do Grupo de Monitoramento Carcerário sempre obtive. Muito obrigada”.
Também estavam presentes na reunião os juízes Glen Machado, Celso de Paula, Suzi Irlanda Silva, Edson Rosas Neto, Mateus Rios, Rafael Lima, Rômulo Garcia Barros, Adonaid Abrantes, Sabrina Cumbra, além do representante da 10.ª Vara Criminal da Comarca de Manaus.
Ao final, o desembargador Sabino agradeceu a manifestação de todos, salientando que a atividade judicante muitas vezes é solitária. “Nós abraçamos esse mister, que é sermos julgadores, uma das missões mais difíceis. Nem sempre o jurisdicionado ou a população entende o posicionamento do Judiciário, mas temos que continuar. Esses 75 anos foram bem vividos e agradeço a todos os que estão há mais tempo na magistratura, assim como também aqueles que estão há pouco tempo”, disse. Sabino Marques foi aplaudido por todos.
Perfil
Sabino da Silva Marques é descendente de imigrantes oriundos de Barbados – seu pai era funcionário público e a mãe, doméstica. Foi criado na área da Compensa, na região conhecida como Ponta do Ismael, bairro da zona Oeste de Manaus. Conseguiu ingressar no curso de Direito da Universidade Federal do Amazonas com muita dificuldade. Ao mesmo tempo em que fazia o curso superior, trabalhou no Sindicato dos Estivadores à época e na Moto Importadora. Atuou como advogado parecerista do Incra e, em 1983, tomou posse como juiz do Tribunal de Justiça do Amazonas. Após atuação na 1.ª instância, passou a integrar a Corte de Justiça do Amazonas. Ele foi aclamado desembargador em sessão ordinária do Pleno do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), que, coincidentemente, na época, o presidente da Corte era também o desembargador Domingos Chalub, atuando em mandato tampão.
Na aclamação de Sabino Marques como desembargador, Chalub destacou que ele sempre foi um magistrado muito ativo, conduzindo a atividade judicante como zelo e independência.
Texto: Acyane do Valle
Fotos: Raphael Alves