A Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror) tem a missão de desenvolver a agricultura, a pecuária e a piscicultura, com respeito ao meio ambiente.
Em entrevista à Agência Amazonas, Petrucio Magalhães fala sobre o potencial do estado, os desafios da produção de alimentos no meio da floresta, além do legado para a população.
Com o engenheiro agrônomo Petrucio Magalhães Júnior no comando, a secretaria lançou mão de programas inéditos voltados pescadores e produtores rurais, tem fortalecido a economia local, fomentado setores estratégicos e intensificado sua presença em todos os 62 municípios do interior.
Petrucio Magalhães: O Amazonas tem uma dimensão continental e o Brasil tem uma vocação natural para a produção de alimentos. O Amazonas é Brasil. Aqui nós temos terra, nós temos água, nós temos um povo muito trabalhador e que tem essa vocação para produção de alimentos, tanto para o país quanto o mundo todo. Isso ninguém tira de todos nós brasileiros.
Confira a entrevista completa:
Agência Amazonas: O Amazonas é um estado muito diverso, com possibilidade de muitas cadeias produtivas para gerar emprego e renda para nossa região. Quais são as principais, atualmente?
O importante é dizer que, embora a gente tenha essa biodiversidade, essas riquezas naturais aqui na região, lamentavelmente a gente tem ainda um dado de 50% da nossa população vivendo na linha da pobreza. Portanto, o grande desafio que nós temos é justamente garantir a manutenção, a conservação dos nossos recursos, da nossa sociobiodiversidade, mas também garantir dignidade para o povo da floresta.
Embora nós estejamos na maior cobertura vegetal do planeta, na maior floresta tropical do planeta, com 97% da nossa floresta intacta, nós temos um potencial muito grande de produzir alimentos nesses 3% que já foram antropizados, ou seja, que já foram utilizados pelo homem.
É importante destacar que nós temos uma agenda 2020/2030 estabelecida pela ONU, onde foram definidos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em nível global.
AA: O Amazonas foi o estado brasileiro que mais abriu o mercado para agricultura familiar. Qual a importância do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) como mecanismo para geração de renda e diminuição da pobreza no nosso estado?
“O Amazonas, em 2019, foi o estado que mais comprou da agricultura familiar do Brasil”
O primeiro ODS é justamente erradicar a pobreza em todas as suas formas e lugares. Esse programa que nós abraçamos foi um programa muito importante para garantir renda para os nossos produtores familiares.
O PAA é programa extraordinário, operacionalizado pela Secretaria de Produção Rural. Só para você ter uma ideia, quando nós entramos no Governo, nós tínhamos um orçamento de R$ 4 milhões, hoje, o orçamento da Secretaria de Produção Rural para a compra dos agricultores familiares passa de R$ 13 milhões, então nós crescemos três vezes o orçamento que herdamos, para garantir justamente a compra dessa produção e a doação desses alimentos para as pessoas que mais precisam.
Esse é um dado do Ministério da Cidadania e que mostra que as ações do Governo estão chegando lá na ponta, garantindo a compra da produção e, ao mesmo tempo, fazendo a doação para pessoas em situação de vulnerabilidade social.
PM: Um grande desafio é justamente interiorizar o desenvolvimento econômico nesse estado de dimensões continentais, é importante implementar novas matrizes econômicas e aí o setor primário tem um papel de grande relevância.
AA: Como é a atuação do sistema Sepror em várias frentes para conciliar assistência técnica rural para os municípios mais distantes e mais isolados?
É um desafio grande porque nós temos 62 municípios e nós temos, dentro do sistema Sepror, 66 escritórios do Idam, com a presença tanto do Idam, quanto da Adaf, que é a Agência de Defesa Agropecuária Florestal, e agora interiorizando no nosso Governo as ações da ADS (Agência Desenvolvimento Sustentável) e da Sepror.
Levar esse desenvolvimento sustentável passou a ser uma meta do Governo, fazer com que o setor primário garanta emprego, renda e melhore a vida dessas pessoas que estão no interior.
Olha, é muito importante porque, embora nós tenhamos uma população pobre, nós também temos muito desperdício. Nós tínhamos um dado de que, mensalmente, 90 toneladas de alimento iam para o lixo e ainda alimento próprio para o consumo humano iam para o lixo, por falta de uma destinação adequada.
AA: A atual gestão também implantou programas inéditos de assistência à população, como o Peixe no Prato e o Programa de Combate ao Desperdício de Alimentos. Qual a importância dessas ações de incentivo aos piscicultores e para as pessoas em situação de vulnerabilidade?
Da mesma forma, nós também temos o programa “Peixe no Prato”. O peixe é o principal alimento do povo amazonense e nós ainda importamos peixe de outras regiões, então nós colocamos de forma clara que a piscicultura e a pesca artesanal seriam prioridade do Governo do Estado e nós temos fomentado muito a piscicultura e garantindo também a comercialização desse pescado.
Nós criamos um programa de Combate ao Desperdício de Alimentos, colocando equipes técnicas, colocando caminhões, infraestrutura para recolher semanalmente das principais feiras de Manaus, para trabalhar esse produto adequadamente, por meio de profissionais da área de nutrição, e colocar para pessoas em vulnerabilidade social na nossa cidade. Tivemos mais de 150 toneladas nesses dois anos colocadas à disposição de pessoas dentro desse quadro de extrema pobreza.
Os alimentos recolhidos são armazenados em caminhão do Programa de Desperdício de AlimentosPrograma de Combate ao Desperdício beneficia mais de 29 mil famílias em situação de insegurança alimentar em 2020
AA: Secretário, como está o planejamento para a execução do Plano Safra este ano, dada as dificuldades da pandemia de Covid-19?
O “Peixe no Prato” é uma iniciativa inédita do nosso Governo que garante a comercialização desse peixe nas comunidades mais pobres da cidade de Manaus, onde as pessoas não têm acesso a uma proteína saudável.
“O Agro foi muito importante porque garantiu o alimento na mesa do cidadão”
PM: Tivemos ao longo de mais de um ano a pandemia, que causou muitos impactos econômicos, além de perdas de pessoas. Nesse momento, o Agro não parou.
Nós temos agora um Plano Safra bianual, nós fizemos um de 2019/2020, com um lançamento em 2019. Agora lançaremos, em breve, o plano Safra 2021/2022, com orçamento estimado de quase R $1 bilhão de reais para fomentar o setor.
Graças ao trabalho dos nossos produtores rurais, dos nossos piscicultores e pescadores, não faltou alimento nas mesas da cidade.
PM: O nosso Governo resgatou a Expoagro, que é a principal vitrine do setor agropecuário do estado, ela estava parada há seis anos e, em 2019, nós resgatamos a feira, que era um desejo do produtor rural amazonense, e foi um sucesso em termos de negócios, em termos de acesso à tecnologia, em termos de capacitação e formação de pessoas.
AA: Secretário, a Expoagro é uma vitrine para fomentar o setor primário no Amazonas. Já é possível falar sobre os preparativos da feira?
Nós tivemos acessos de vários países, de pessoas interessadas em cadeias produtivas, em produtos regionais da nossa sociobiodiversidade e agora, em 2021, nós temos a previsão de realizá-la novamente, mas com um desafio duplo, que é realizá lo presencialmente, se a pandemia assim o permitir, e também de forma virtual, digital, porque é uma necessidade que estamos vendo de também promover a inclusão digital do nosso produtor.
Em 2020, nós tivemos uma pandemia que impediu de realizar eventos presenciais, mas não deixamos de realizá-la. Nós, de forma também inédita e inovadora, criamos a Expoagro 100% digital, que movimentou R$ 60 milhões de reais em negócios.
PM: O nosso Governo tem apoiado o desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis.
AA: Os dados da Conab apontam um crescimento no setor de grãos em nosso estado. Quais ações vêm sendo implementadas para promover o avanço desse setor aliado às tecnologias já disponíveis?
Em algumas áreas nós temos uma produção de grãos que tem um grande potencial, que tem grande níveis de potencialidade tanto da produção de soja, do milho e uma pecuária que está hoje na elite da pecuária brasileira.
“É perfeitamente possível produzir alimento no bioma amazônico com respeito ao nosso meio ambiente”
A pecuária avançou muito, as tecnologias estão disponíveis. Isso garante a produção de carne sem a necessidade de muitas áreas de pastagem e aí reduz a pressão sob a nossa floresta. Nós temos avançado muito na região sul do estado com a produção sustentável de carne e de grãos.
O Ministério da Agricultura reconheceu aqueles 13 municípios do sul do Amazonas como área livre de Febre Aftosa sem vacinação. Isso representa uma conquista para a pecuária do Estado porque a nossa carne, que era apenas comercializada no Amazonas, vai poder agora ser comercializada para o resto do Brasil e estamos próximos de receber o reconhecimento dessa área sem febre aftosa, que vai garantir novos mercados para a carne produzida no Amazonas.
PM: Eu vejo a regularização fundiária, a regularização ambiental e também o acesso ao crédito rural, como grandes desafios para que a gente possa ter uma produção dentro da sustentabilidade no nosso estado.
AA: Falando sobre os grandes desafios do Agro no Amazonas, quais os gargalos que ainda precisamos superar para um caminho de equilíbrio entre meio ambiente e produção rural?
PM: Eu vejo grandes legados que nós já, dentro desses dois primeiros anos, pudemos dizer que fizemos. O primeiro deles foi o chamamento dos concursados, pelo governador Wilson Lima, do Idam e da Adaf.
AA: O senhor é engenheiro agrônomo por formação, com mestrado em Agricultura e Sustentabilidade na Amazônia, e certamente já vivenciou muitas experiências no campo. À frente da pasta da Sepror, o que mais ficou marcado para o Petrucio?
Da mesma forma, o resgate da nossa Expoagro e das feiras no interior. Acho que o último legado é, sem dúvida alguma, o parque de exposição multiuso, que nós já temos o orçamento, elaboramos um projeto belíssimo e, certamente, vamos entregar à sociedade um parque multiuso, um parque agropecuário que fica localizado ali no quilômetro dois da BR-174, que vai permitir todas essas ações de formação, de tecnologia, inovação que o setor precisa para interiorizar o desenvolvimento econômico.
Nós tínhamos um quadro técnico muito reduzido, quando assumimos o Governo, uma necessidade muito grande, por esses agricultores, de assistência técnica e extensão rural, de orientação profissional. Então houve essa recomposição já nesses dois primeiros anos, e isso vai representar um avanço muito grande na produtividade, na garantia de renda e na melhoria de vida dessas populações.
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Por Agência Amazonas
Foto: Divulgação