“Tudo que eu contar daqui por diante será como testemunha de vista de um tão NOVO e nunca visto descobrimento”. O trecho é parte do relato do frei Gaspar de Carvajal sobre a viagem de Francisco de Orellana em toda a extensão do rio Amazonas, escrito em 1541. Esse relato faz parte da história que permanece viva entre as águas dos rios que banham a capital amazonense e seu povo. E ele fará parte da conexão entre passado e futuro que se desenha para um dos projetos do “Nosso Centro”, da Prefeitura de Manaus, para requalificação do museu do Porto, fechado há mais de 20 anos.
O “Nosso Centro” faz parte do programa de crescimento econômico e social lançado pelo prefeito David Almeida, o “Mais Manaus”, que prevê investimentos da ordem de R$ 1,2 bilhão nos próximos anos.
Durante visita ao Instituto Municipal de planejamento urbano (Implurb), que coordena os projetos do “Nosso Centro”, a professora, jornalista e historiadora Etelvina Garcia apresentou conceitos, muita história e relatos sobre a importância da área portuária para a capital e o antigo museu, tratando da edificação histórica na rua Governador Vitória, esquina com a travessa Vivaldo Lima.
“Quando se pensa em um museu, como o museu do Porto, lógico que procuramos preservar o que foi feito pelas pessoas que nos antecederam, que criaram um acervo, mas temos que ter um museu de futuro, juntando o passado”, comentou Etelvina Garcia.
Espaço
A ideia do grupo técnico e da gestão do prefeito David Almeida, que se debruça sobre o Centro, é ter projetos que promovam diálogo forte com as populações, motivadores, tecnológicos e digitais, além do caráter didático, criativo e que possam também funcionar como centro de estudos.
“Usar o espaço onde funcionou o museu do Porto para uma área interativa, onde as pessoas entendam que tudo que aconteceu em Manaus, nasceu junto com o porto. A cidade, o rio, a floresta, tudo isso faz parte de uma coisa comum, e o homem tem uma participação interativa dentro disso”, destacou a historiadora.
Para um museu do Porto de 2022, os grupos técnicos, colaboradores e prefeitura buscam a modernidade, que a viagem deixe as canoas e navios a vapor para dar lugar ao touch screen, levando os visitantes a uma navegação no tempo, mostrando, por exemplo, a implantação da navegação comercial que cruzava águas até chegar à Bacia Amazônica. Também poderá se viajar e recordar a riqueza da borracha e as grandes transformações promovidas na capital, a partir da linha direta de navegação entre Manaus e Liverpool.
Reunião
“Porque tínhamos criado uma atividade econômica dinâmica, que já exigia um porto com aquela qualificação. E tinha a Corte portuguesa, certamente influenciada pelos livros de Carvajal, que contavam a viagem de Orellana, e a rainha dona Maria Primeira, que queria conhecer as potencialidades econômicas da sua colônia na América do Sul”, disse Etelvina Garcia.
A historiadora acredita que a requalificação da área vai promover esse diálogo com a população hoje, com as coisas vivas que aconteceram na cidade. “Neste mundo de água, floresta, desencantos, e muita esperança, e a esperança precisa se manter viva para acalentar os sonhos”.
O diretor Pedro Paulo Cordeiro explicou que o espaço trabalhado para o “Nosso Centro” estava direcionado à requalificação e ampliação das instalações do museu do Porto, incluindo o antigo prédio da Superintendência Estadual de Navegação, Portos e Hidrovias (SNPH) e a própria praça 9 de Novembro.
“A professora trouxe informações valiosíssimas. Vamos inserir e potencializar um dos eixos do programa, que é o ‘Mais história’. A questão do resgate da história do porto em relação à cidade é altamente importante não só para a memória, mas também para as novas gerações conhecerem como a cidade se formou e como o espaço do porto contribuiu para este crescimento”, disse o arquiteto e urbanista.
Espaço
As histórias narradas devem fazer parte do processo de revitalização de maneira tecnológica. “Para convidar as populações a conhecer o passado para fazer um futuro melhor”, completou Cordeiro.
história
O museu foi instalado na antiga casa de máquinas da Manáos Harbour, o prédio número 1 da história do porto, construído para abrigar a usina de eletricidade que alimentaria a execução de obras e garantiria o funcionamento dos equipamentos e instalações por seis décadas.
Ali também se reuniram fotografias, instrumentos náuticos, mobiliário dos gabinetes dos diretores da empresa inglesa, atas, livros fiscais, plantas, orçamentos e cronogramas das construções de todos os prédios, pontes, cais, muralhas, armazéns, linhas férreas e outros. Eram mais de 300 peças, incluindo uma antiga locomotiva, que ainda está no local. O prédio histórico é tombado pelo Instituto Nacional de patrimônio histórico e Artístico (Iphan).
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Fotos – Elton Viana/Semcom
Texto – Claudia do Valle / Implurb
Disponíveis em – https://flic.kr/s/aHsmWf1Kxu