14:04 – 15/10/2019
FOTO: DIVULGAÇÃO
Ao todo, 69 alunos das comunidades Ticuna, Cocama e Kambeba serão diplomados
Determinação, dedicação e superação são as palavras que definem os 69 alunos da primeira turma de Pedagogia Intercultural Indígena da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) que irão colar grau no próximo dia 18 de outubro, no município de São Paulo de Olivença, no Alto Solimões. O curso faz parte de Plano Nacional de Formação de Professora da Educação Básica (Pafor).
Os bacharelandos integram as comunidades indígenas de Ticuna, Cocama e Kambeba, no Alto Solimões, onde fica localizado o território étnico educacional do qual eles pertencem. De acordo com a coordenação da graduação, o curso teve ênfase na alfabetização em língua própria, tratando o português como o segundo idioma, tendo em vista que dos 69 alunos, 58 falam somente a língua indígena.
Ainda de acordo com a coordenação, o curso teve duração de quatro anos e meio, devido ao período de integralização dos alunos com uma metodologia diferenciada aplicada nas disciplinas.
“O curso ocorreu no período de férias, uma vez que os acadêmicos já são professores atuantes nas escolas indígenas do Alto Solimões. A metodologia trabalhou essa perspectiva da alternância no sentido de viabilizar o tempo deles e a permanência em São Paulo de Olivença para as discussões das disciplinas e as apresentações das pesquisas que eles realizavam em suas comunidades e que serviram de suporte para o curso”, disse a coordenadora de Pedagogia, Célia Aparecida.
A docente enfatizou ainda a participação de professores e pesquisadores específicos das linguísticas Ticuna, Cocama e Kambeba, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de Brasília (UNB) e do Museu Nacional, na formação dos novos pedagogos indígenas do Alto Solimões. Célia classificou essa primeira experiência na Pedagogia Intercultural como um grande desafio para os alunos e também para a coordenação do curso. Segundo ela, a formação traz uma grande contribuição e implicações diretas na metodologia aplicada nas escolas indígenas.
“Foi uma graduação ousada. Saímos um pouco da tradicional matriz curricular da Pedagogia para aplicar uma metodologia de acordo com a realidade deles. Foi um curso que exigiu um NDE multidisciplinar, no sentido antropológico e linguístico, tudo para poder dar conta daquilo que foi previsto como perfil dos egressos. Avalio como uma experiência enriquecedora que trouxe aprendizado para ambos os lados e abrindo uma perspectiva para que repensássemos como formadores de professores indígenas as nossas atividades e práticas docentes”, finalizou Célia.
Para a coordenadora geral do Parfor, professora Luciane Lopes de Souza, a UEA marca mais uma vez a história da Educação no Amazonas, ao se tornar pioneira na formação superior de indígenas.
“Essa turma de São Paulo de Olivença será é a primeira com alunos indígenas a serem formados pelo Pafor/UEA. A diplomação deles será um momento de extrema alegria para todos do programa. Estaremos participando da construção desta trajetória tão especial de formação de professores indígenas”, salientou Luciana.
Nova realidade – “A partir desta formação valorizamos ainda mais as nossas raízes, a nossa cultura e os nossos conhecimentos que começaram a ser aplicados de uma forma mais prática na sala de aula. Melhoramos e aprimoramos o acesso à alfabetização indígena nas nossas escolas. Hoje podemos falar de alegria e com alegria sobre a nossa docência que tem ajudado na construção de uma nova história das nossas comunidades”. O depoimento é de Cristiane Alves Mendes, uma das formandas da primeira turma de Pedagogia Intercultural Indígena da UEA.
Bastante emocionada com a proximidade da solenidade de colação de grau, Cristiane não esconde a felicidade de fazer parte do primeiro grupo de professores da etnia Kambeba oficialmente diplomados. Para ela, essa oportunidade trouxe grandes transformações para uma região que sofre há anos com dificuldades, principalmente, no que se refere ao setor educacional. A aluna revela que antes nenhum dos professores indígenas das três comunidades tinham formação superior.
“Estamos mais capacitados. O curso foi direcionando exclusivamente para os princípios da escola indígena, comunitária e intercultural. Aos poucos, as dificuldades vistas em sala de aula estão sendo superadas. Hoje aprendemos a trabalhar melhor a realidade do nosso povo, aproveitando as riquezas da nossa região. Estamos levando fortemente a vida da nossa língua para a escola. Agora me sinto realizada como profissional e como pessoa. Valeu a pena todo esforço e dedicação”, declarou Cristiane.
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