Uma websérie produzida pela Prefeitura de Manaus, por meio do Conselho Municipal de Cultura (Concultura), com o apoio da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult), apresenta ao público, desde o último dia 11 até 25/10, como parte das comemorações do aniversário de 352 anos de Manaus, os artistas indígenas que participam da 1ª Mostra de Arte Indígena, exibida nas redes sociais.
São registros importantes, que apresentam um pouco do universo desses artistas e o seu segmento estético. “Desde 19 de abril, com a criação do ‘Memorial Aldeia da Memória Indígena’, pelo prefeito David Almeida, com orientação de promover ações que ajudem a fortalecer a memória de Manaus, uma série de realizações vêm resgatando a importância do protagonismo dos povos indígenas no processo histórico de formação de nossa cidade”, explicou o presidente do Concultura, Tenório Telles, sobre a realização da mostra e da websérie lançada nas redes sociais do Concultura.
A websérie tem direção e produção de Walter Santos, e foi concebida para gerar oportunidades aos criadores indígenas, além de valorizar a memória ancestral local, concluiu Telles.
e https://www.instagram.com/tv/CU5vKjKF-aZ/?utm_source=ig_web_copy_link
O primeiro episódio foi lançado no dia 11/10 com o artista plástico e escritor do povo Dessana (Alto Rio Negro), Jaime Diakara, antropólogo e doutorando em antropologia social pela Universidade Federal do Amazonas. Os links do primeiro episódio são: https://fb.watch/8AnlHCakcr/
A artista visual, Chermie Ferreira, do povo Kokama está no segundo episódio, lançado dia 13/10, em vídeo em que testemunha sobre sua vida e obras, com relatos da trajetória artística e existencial, culminando no reencontro com sua ancestralidade indígena de origem Kokama.
“Chermie é uma criadora polivalente, dedicando-se às artes plásticas, ao Grafitti e às artes visuais em geral, destacando-se nacionalmente. Seu trabalho é a confirmação da força, beleza e qualidade estética da produção cultural dos artistas indígenas”, analisa Telles.
Para acessar o episódio, basta clicar o Link https://www.instagram.com/tv/CUPs7VlABD/?utm_source=ig_web_copy_link
Pássaro branco
A história da artista Chermie Ferreira tem como motivação inicial buscar nos espaços urbanos, o meio de expressão social e da presença feminina na sociedade. Ela usa a arte como forma de expressão das causas que lhe tocam fundo: ancestralidade indígena e igualdade da mulher na sociedade.
Chermie é uma artista manauara com presença forte também na cena nacional das artes visuais com obras expostas em galerias e realizou recentemente um projeto de grafite urbano em São Paulo (SP), no icônico espaço Beco do Batman, no bairro Vila Madalena.
“Participei de uma ação da ZIV Gallery, galeria de arte urbana que me representa em São Paulo, grafitando a imagem da cacique Bia, líder do povo Kokama. O mural fica na rua Gonçalo Afonso, próximo do ponto mais central do famoso beco”, diz a artista, também chamada de Wira Tini (Pássaro branco) na língua Kokama.
Ela acrescenta que seu trabalho traz a representatividade do povo Kokama, da população ribeirinha, das mulheres e crianças, e da cultura amazônica.
Chermie Ferreira apresenta na 1ª Mostra de Arte Indígena de Manaus, quatro obras da série “Andiroba e Copaíba”, que ela explica serem plantas naturais da Amazônia, ancestrais de cura do povo indígena.
Cosmologia Dessana
O artista plástico do povo Dessana, Jaime Diakara, mestre e doutorando em antropologia social da Ufam, apresenta na mostra coletiva, quatro obras inspiradas no grafismo do seu povo, em exposição na Mostra Indígena.
Os símbolos são obtidos pelos demiurgos (artesãos divinos) e transmitido pelos antepassados às futuras gerações de benzedores, conhecedores dos saberes ancestrais dos povos originários da região do Alto Rio Negro; o grafismo dessana (Ümũrĩ Mahsã: gente do universo) é um traço forte e uma linguagem especial que expressa um conjunto de pressupostos sobre o mundo, os seres e as coisas.
Jaime não assina seus quadros por achar que esse conhecimento e concepção dos traços não são criação sua, e sim dos seus antepassados. Ele explica que sua arte é uma linguagem de perspectiva antropológica, construída e comunicada a partir da leitura de como os indígenas conceberam seus grafismos a partir de sua cosmologia.
“Não são apenas traços aleatórios, mas sim uma expressão das formas da vida com suas cores e sentidos que retratam o universo, a terra, os rios e tudo que neles vive, sejam humanos ou não humanos”, explica.
Calendário
A exposição reúne dez artistas, que têm a missão de mostrar, por meio da pintura, os traços materiais e imateriais de seus povos, e vai marcar a reabertura da galeria pública, com acesso controlado e uso de máscara obrigatório.
Os episódios estão sendo lançados diariamente até o dia 25/10, aniversário de Manaus, em um total de nove vídeos, programados: Os próximo episódios são: Tchanpan Maricaua (15/10), Kina Kokama (18/10), Paulo Olivença (20/10), Otilia Valdez Malalo (22/10), Tuniel Mura (25/10), Kawena Kokama e Ivan Barreto Tukano (25/10).
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Texto – Cristóvão Nonato / Concultura
Foto – Walter Barbosa / Concultura