A história do violista Gabriel Lima com o Caprichoso começou em janeiro de 2018, quando ele recebeu o convite do bumbá azul, através de Neil Armstrong e Labamba, para montar o trio de cordas para gravação do CD e para fazer um solo. Professor na Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e integrante da Amazonas Filarmônica desde 2007, além da Orquestra de Câmara do Amazonas (OCA), o músico também passou a escrever as partituras para violino, viola e violoncelo combinarem com o ritmo de boi.
No último fim de semana de junho, o palco certo deles é o Bumbódromo, em Parintins, para defender as cores dos bumbás Caprichoso e Garantido, no Festival Folclórico de Parintins. Do lado azul estão Giovanny Conte e Gabriel Lima, e do lado vermelho estão Elena Koynova e Ênio Prieto, todos integrantes dos Corpos Artísticos do Amazonas, para mostrar versatilidade na principal arena da Ilha Tupinambarana.
O violista destaca que a diferença entre os estilos é minimizada com os arranjos. Ele explica que, para escrever as cordas no boi-bumbá, são necessárias adaptações, uma vez que uma noite na arena tem variações nos ritmos conforme a performance dos itens.
“A minha função é arranjador das cordas e desde então consolidamos o trio no Caprichoso, inovamos ao trazer arranjos escritos em partituras já que os dois bois ficam competindo a todo tempo”, afirma Gabriel Lima. “Optei por essa formação de trio porque eu consigo compreender das vozes graves a voz aguda, trabalhando um timbre de orquestra”, pontuou.
O violinista Giovanny Conte, integrante da Amazonas Filarmônica há 16 anos e também da OCA, faz parte da banda oficial do Caprichoso desde 2018, o primeiro ano dele no Festival Folclórico de Parintins. Ele lembra que, na época, a toada que mais marcou foi “Dowari – O Caminho dos Mortos”, que tinha solo do trio de cordas.
“Eu gosto de tocar os dois estilos, é uma diferença que existe mais para a receptividade do público do que para quem toca, porque trabalhamos com a mesma seriedade no erudito e no popular, com ensaios, preocupação de afinação e timbre”, comenta o músico. “É intenso o trabalho em Parintins, eu ensaio todos os dias com as cordas, é o mesmo nível de exigência”, explicou.
Giovanny Conte diz que, apesar dos estilos distintos, não tem muita diferença no sentido da paixão pelo fazer musical, tanto que, atualmente, os compositores do Caprichoso já compõem uma toada pensando na inclusão dos instrumentos eruditos, da música de concerto nas obras.
“Foi a nossa estreia e encantou a nação azulada, inclusive, nesse ano, o Caprichoso ganhou. A sensação na arena do Bumbódromo, ao sentir o vibrar dos tambores da Marujada de Guerra, foi contagiante e assim começou essa paixão pelo boi”, comenta o músico. “Eu participei do festival em 2018, 2019 e, em 2020, quando começou a pandemia, participei da live Ópera Amazônica, onde fiz a abertura com a cantora Paula Gomes, um momento muito bonito”, acrescentou.
Veteranos
A búlgara Elena Koynova, desde 1999 como violinista da Amazonas Filarmônica, defende as cores do Garantido há 20 anos. Ela conta que a trajetória no bumbá vermelho e branco iniciou com um convite para participar da gravação do CD, mas não imaginava o que estava por vir.
“É um casamento perfeito, como se fosse o encontro das águas, parecem tão diferentes, mas, lá na frente, se encontram e se transformam em um só”, compara o artista.
A musicista diz que admira as pessoas que trabalham na produção musical e artística dos dois bois, pelo talento e pelo trabalho com paixão.
“Esperava que fosse gravação e ponto final, só que, quando chegou a época do festival, em junho, me chamaram para participar na arena também e, para ser sincera, eu nunca imaginei me sentir daquele jeito, uma coisa inesquecível”, lembra Elena Koynova. “Quando a Batucada começou a tocar, eu fiquei toda arrepiada e as lágrimas caíram, foi tão emocionante, que começou minha paixão pelo boi. Participei do festival em 2013, 2014, 2016, 2019 e, sempre que estive na ilha, o Garantido ganhou, então eu acho que sou pé quente”, enfatizou.
Ênio Prieto, saxofonista da Amazonas Jazz Band há 11 anos e professor do Liceu Claudio Santoro, também está no universo dos bumbás desde 2001, mas a porta de entrada foi pelo Bar do Boi do Caprichoso, no Sambódromo, quando tocou na banda do Prince. Já a primeira vez em Parintins aconteceu em 2006, a convite do Garantido.
“Paixão é uma coisa muito importante quando se trata de arte, então eu fico muito feliz de fazer parte desse projeto, de estar com eles, do mesmo jeito que me sinto muito feliz de fazer parte da Amazonas Filarmônica, da Orquestra de Câmara do Amazonas, do Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro”, comenta Elena. “Tenho um imenso prazer de trabalhar com profissionais de alta qualidade em todos os segmentos que eu atuo, no erudito, popular, no boi e no rock”.
De volta a Ilha Tupinambarana neste mês, para a Parintins Live, Ênio destaca que fez reflexões sobre a representatividade do festival para a sua carreira profissional.
“Comecei as atividades na arena do Bumbódromo ao mesmo tempo que passei a trabalhar nas gravações dos CDs, principalmente do Garantido, que eu mais gravei. Mas fiz parte das duas bandas oficiais”, conta o artista. “Foram 12 festivais, seis participações no Garantido e seis no Caprichoso”.
“Não esperava tocar no festival e, quando eu vi, eu já estava inserido dentro no processo, é realmente muito representativo, porque é um conjunto de fazeres artísticos onde você encontra várias cabeças de alta qualidade, para que aquilo possa acontecer”, elogia. “Posso falar pelos dois bois, até porque somos profissionais, eu visto a camisa de qualquer um que eu for trabalhar e fico orgulhoso pelo festival, do que representa como cultura realizada no nosso Estado”.
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Por Agência Amazonas
FOTOS: Michael Dantas