No chamado marco zero da capital, no Centro Histórico e na praça Dom Pedro II, o prefeito David Almeida reconheceu os povos indígenas como os primeiros moradores de Manaus, às margens do rio Negro. E para dar uma maior representatividade para esses povos, a Prefeitura de Manaus está elaborando, em parceria com comissões indígenas, mais uma grande ação de revitalização da área com o projeto “Nosso Centro”, com a criação das Casa dos Saberes e Casa dos Fazeres, no entorno da praça, fazendo resgate ancestral, cultural e gastronômico nos espaços.
Uma reunião realizada na segunda-feira, 24/5, no Palácio Rio Branco, no Centro, serviu para alinhar entendimentos, perspectivas e a busca pelo resgate da memória histórica e ancestral. A iniciativa faz parte de uma ação compartilhada entre a Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime) e Comissão Indígena, e Prefeitura de Manaus, via Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb), Fundação de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult) e Conselho Municipal de Cultura (Concultura).
A Casa dos Fazeres terá um papel para fomentar negócios, empreendedorismo e resgatar traços culturais dos povos a partir do artesanato, sendo ainda palco para realização de oficinas e eventos. A Casa dos Saberes será mais dedicada ao conhecimento tradicional, à medicina e à importância das ervas e atendimento por pajés, por exemplo.
“A Casa dos Fazeres terá espaço para os artesãos confeccionarem seus produtos e venderem diretamente a turistas. A Casa dos Saberes será usada para a medicina tradicional, utilizada por pajés, parteiras e pelos benzedores. É um importante passo para se conhecer mais a nossa cidade, nossos povos e lugares sagrados. Manaus nasceu dos povos indígenas e esse reconhecimento é especial para nossa ancestralidade”, falou Ludimar Kokama, da Copime.
Eixos
“Três eixos fundamentais compõem o projeto “Nosso Centro”: o “Mais Vida”, “Mais Negócios” e “Mais História”. Dentro deste contexto, a proposta da Comissão Indígena de criar as casas está totalmente integrada ao projeto que resgata os traços culturais da cidade, potencializando as atividades econômicas dos povos indígenas, como o artesanato, a gastronomia, ervas medicinais, toda a temática”, explicou o diretor-presidente do Implurb, engenheiro Carlos Valente.
A reunião serviu para alinhar pontos de ação, estratégias e definir o compromisso já firmado pelo prefeito David Almeida com o reconhecimento dos povos indígenas. O amplo projeto “Nosso Centro” será apresentado nos próximos meses, estando na fase de tratativas técnicas, desenhos arquitetônicos e alinhamento institucional.
“Nossas essências, quando falamos de culinária amazonense, pensamos num pato no tucupi, uma caldeirada. Nosso registro gastronômico é eminentemente indígena. Grandes chefs, internacionais inclusive, utilizam esses ingredientes como o novo caminho para as Índias em termos de especiarias para dar o diferencial. Levam tucupi, jambu, cumaru. São ingredientes e princípios indígenas presentes em frutas, raízes e condimentos. Precisamos aprender a valorizar, resgatar e não perder essa memória real”, comentou o diretor do Implurb.
Para Valente, é essencial a participação das representações indígenas para assegurar o resgate histórico e a legitimidade do empoderamento das matizes dos povos.
Cultura
Desde o início do ano, a Manauscult e Concultura vêm realizando uma série de encontros e intervenções com representantes e vozes indígenas da capital. Visitas técnicas in loco também ajudaram a definir estratégias de ações e processos de ocupação para o Centro Histórico e sua revitalização, com foco em empreendedorismo cultural, artes, gastronomia, eventos e turismo.
“A reurbanização do Centro Histórico passa por todo o processo de modernização, sem esquecer o conhecimento tradicional, onde se entende a Ilha de São Vicente. Estabelecemos então o Distrito da Indústria Criativa, com todos os polos e setores inseridos na cadeia produtiva”, afirmou o diretor-presidente da Manauscult, Alonso Oliveira.
Para Alonso, a Casa dos Saberes e a Casa dos Fazeres integram o fruto de um diálogo promovido nos últimos três meses com os povos. “Essas duas casas certamente estarão revolucionando esse segmento que vinha sendo excluído da sociedade. O prefeito chegou a pedir perdão publicamente por esse hiato de 350 anos, demonstrando claramente o compromisso com nossa memória ancestral indígena”, comentou o diretor da Manauscult.
“O resgate da ancestralidade é um ato de grande valor histórico e impacto econômico para o turismo cultural”, analisou o presidente do Concultura, Tenório Telles.
Comissão
A Comissão Indígena foi formada para a criação do Memorial Aldeia da Memória Indígena reconhecida e inaugurada pelo prefeito David Almeida no último dia 19 de abril, onde está a praça Dom Pedro II, área do cemitério ancestral, considerada território sagrado, há muito reivindicado pelos povos. A comissão é formada pela Copime, Centro de medicina indígena Bashserikowi, uma associação do Alto Rio Negro, e algumas lideranças de vários bairros de Manaus, todos ligados à coordenação.
Memória
No dia 19 de abril, a Prefeitura de Manaus inaugurou, na Praça Dom Pedro II, via projeto da Manauscult, no marco zero da capital, a Aldeia da Memória Indígena. Além do memorial, foi entregue um mural de 34 metros, pintado pelo artista Fábio Ortiz, representando o mapa das calhas dos rios, o guerreiro Ajuricaba, os manaós e o cemitério indígena na visão do colonizador.
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Fotos – Divulgação / Implurb e Manauscult
Texto – Claudia do Valle e Cristóvão Nonato/ Implurb e Manauscult
Disponíveis em – https://flic.kr/s/aHsmVRJ8t5