A partir da adoção de uma nova metodologia no sistema socioeducativo, profissionais podem levar atividades diferenciadas aos adolescentes
Nos centros socioeducativos do Amazonas, coordenados pela Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc), educadores sociais executam atividades que vão além de garantir que os internos permaneçam alojados. A profissão exige destas pessoas um olhar humanizado para que os adolescentes tenham experiências que engrandeçam suas vidas.
Atualmente, no Amazonas, existem cinco centros socioeducativos. São eles Dagmar Feitosa, Senador Raimundo Parente, Internação Feminina, Unidade de Internação Provisória (UIP) e a Semiliberdade. Dentro dessas unidades, encontram-se 82 adolescentes, e no geral trabalham 104 socioeducadores.
Segundo o secretário titular da Sejusc, William Abreu, houve uma mudança significativa no sistema socioeducativo. Ele relembrou que os espaços no Amazonas obtiveram reconhecimento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a partir da nova metodologia. Após a participação da Sejusc no Simpósio Nacional em Socioeducação, em Brasília, o CNJ decidiu recomendar o novo modelo, que gerou resultados positivos, como a redução na taxa de reincidência, justamente pelos socioeducadores tratarem os adolescentes de uma forma mais humanizada.
A secretária executiva dos Direitos da Criança e Adolescente, Edmara Castro, explicou que há socioeducadores que fazem muito além da sua atribuição, como acompanhar os adolescentes no futebol, na academia, nos treinos de artes marciais, criando projetos que os incluam, e o mais importante, ajudam-nos no processo de ressocialização. Edmara destacou que, muitas vezes, os adolescentes têm os socioeducadores como referência.
“Já tivemos casos de adolescentes que falaram que, quando saírem do Centro, desejam realizar um curso para ser socioeducador. Então, o profissional acaba virando uma figura positiva, e há anos não era assim”, ressaltou.
Novos olhares – O socioeducador Ernanes Souza vem fazendo a diferença, ao realizar um trabalho esportivo com os adolescentes do centro socioeducativo Raimundo Parente, no bairro Cidade Nova 2, zona norte, reconhecendo o talento escondido de cada um e os ensinando a jogar futebol. Sua história dentro dos campos começou quando era adolescente, ao participar de uma escolinha de futebol em Manaus, e desde então sempre esteve envolvido com os esportes.
“A princípio fiquei meio receoso em iniciar o projeto, mas depois nos organizamos e eu percebi o quanto valia a pena, pois muitos deles possuem habilidades para o futebol e precisam apenas de uma oportunidade para entrar nesse mundo”, disse Ernanes.
A professora e socioeducadora, Roberta Marinho, inovou ao unir a musicalidade com a alfabetização. Optou por sair da origem da educação tradicional, proporcionando uma aula diferenciada, atrativa e prazerosa para os adolescentes da unidade Raimundo Parente, uma das unidades em que funciona a Escola Estadual Josephina de Melo.
Logo no início, ela conta que sentiu uma certa timidez da parte deles, mas não resistência. As atividades envolvem objetos simples e aproveitam tudo o que é oferecido, utilizando para fazer os sons o próprio corpo ou os instrumentos musicais ao redor.
Para Roberta, existe uma grande diferença entre o trabalho educacional em uma escola e dentro do centro socioeducativo que, por muitas vezes, é discriminado. “Eu acredito que essa nova experiência por que estou passando envolve o amor, você tem que estar aqui porque quer, porque tem amor ao próximo, vai além das expectativas, então foi algo muito diferente e engrandecedor para a minha vida”, completou.
O pastor e socioeducador, André Régis, trabalha há cinco anos com os adolescentes de uma forma diferente, compartilhando a religião e como podem ter suas vidas transformadas. Ele também realiza cultos direcionados a pessoas em situação de rua. De acordo com o socioeducador, os casos de reincidência na UIP, no bairro Alvorada, zona centro-oeste, são mínimos, graças ao trabalho da equipe do Centro, mostrando aos meninos que podem se ressocializar e ter uma vida digna.
“Enquanto eu estiver nessa unidade vou fazer o meu melhor, para assim mostrar ao nosso país que o sistema funciona e que eles podem voltar para a sociedade e ter uma vida digna”, afirmou.
Importância – O papel do socioeducador, de acordo com a diretora da unidade Raimundo Parente, Gracilene Barbosa, vai além do conduzir o adolescente para suas atividades ou servir comida e água. A promulgação do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), lei que regulamenta o sistema socioeducativo, possibilitou ao socioeducador uma liberdade de apresentar seus projetos.
Foi dessa forma que Gracilene percebeu o interesse de Ernanes e o ajudou a pôr em prática o projeto da escolinha de futebol, entre outras atividades idealizadas por esses profissionais, como aulas de reforço e artesanatos.