Em junho deste ano, mais de dois meses antes do retorno às aulas presenciais, em Manaus, a Secretaria de Estado de Educação e Desporto deu início a um dos seus principais projetos pedagógicos, que visa o regresso seguro e responsável dos alunos da rede estadual à escola: o “Busca Ativa do Escolar”, que integra o Plano de Retorno às Atividades Presenciais da secretaria, disponível no link www.educacao.am.gov.br/plano-de-retorno-as-atividades-presenciais.
A iniciativa, desempenhada por integrantes da Gerência de Programas e Projetos Complementares (GPPC), tem como objetivo assegurar o retorno, por meio do contato (via ligação telefônica e redes sociais) com as famílias e estudantes maiores de idade, daqueles alunos que, por algum motivo, não estavam acompanhando as transmissões do “Aula em Casa”, durante o período de isolamento social ocasionado pela Covid-19.
Por meio de um sistema de inteligência empresarial (BI) desenvolvido pela Secretaria de Educação, foram identificados cerca de 20 mil estudantes, somente na capital, que não assistiam às videoaulas transmitidas pelo regime especial de aulas não presenciais do Governo do Amazonas.
Dentre outros fatores que resultaram nesse número, esteve, principalmente, a dificuldade de acesso à Internet – lembrando que o “Aula em Casa” é transmitido pela TV Encontro das Águas e por alguns canais on-line, como YouTube, Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e plataforma Saber+, para citar alguns.
Após o levantamento, iniciou-se a segunda parte da força-tarefa de assegurar que o estudante volte a estudar: o contato via ligação telefônica. “Há mais ou menos duas semanas, depois de termos fechado esses dados, começamos a ligar para os alunos. Ainda não conseguimos alcançar todos os 20 mil, mas, agora que estamos nas escolas, vamos conseguir analisar quem, daqueles que já havíamos contatado, de fato retornou”, completou a gerente da GPPC, Aldenilse Araújo da Silva.
Caso não tenha regressado à escola, a equipe do “Busca Ativa” promoverá visitas domiciliares para entender o porquê do estudante não ter retornado à sua unidade de ensino.
“Um dos produtos que construímos é um guia para o ‘Busca Ativa’. Nele, nós temos algumas recomendações de postura para a abordagem com esse aluno. Inicialmente, trabalhamos com a escuta e procuramos saber o que o levou a não acompanhar ao ‘Aula em Casa’. Nessas conversas, obtivemos também informações acerca do sentimento de insegurança, até porque alguns estudantes perderam familiares e amigos pela Covid-19”, destacou Aldenilse.
De acordo com ela, ainda, por meio da escuta, foi possível identificar alunos com comorbidades, como problemas cardíacos e diabetes, além de estudantes gestantes. “Nestes casos, temos recomendado que o estudante procure a gestão da escola para buscar a melhor forma de dar continuidade aos estudos, sem que seja obrigatória a presença na unidade de ensino”, frisou.
Fora as visitas domiciliares, o “Busca Ativa” seguirá com as ligações e os contatos via rede social e grupos de mensagem. A ideia é que todos os 20 mil alunos em situação de possível abandono escolar sejam alcançados pelo projeto.
Mobilização – O Colégio Brasileiro Pedro Silvestre é uma das escolas com menor índice de abandono da rede pública estadual, em Manaus. Com projetos estudantis que incentivam desde a prática esportiva à preparação para os vestibulares, a unidade, pertencente à Coordenadoria Distrital de Educação (CDE) 1, aposta na mobilização de toda a equipe escolar para combater o abandono dos estudos por parte dos alunos.
Durante o período de isolamento social, a gestão da escola se utilizou das redes sociais para motivar os estudantes a acompanharem as transmissões do “Aula em Casa”: são vários os grupos de Whatsapp que o gestor, Sérgio Roberto Reis; professores; alunos; e pais integram, mesmo com o retorno às atividades presenciais, iniciado no último dia 10 de agosto.
“Nós procuramos estreitar essa relação com os pais e os estudantes. De domingo a domingo, manhã, tarde ou noite, ouvindo todos os componentes da nossa comunidade escolar. Durante o período de isolamento social, os pais, principalmente, tinham muitas dúvidas e estavam ansiosos, então fizemos o possível para nos mostrar presentes e dar suporte a todos”, assinalou o gestor do Colégio Brasileiro Pedro Silvestre.
Importância – O aluno Marcos Victor Duarte, da 3ª série do Colégio Brasileiro, revela que cogitou, durante a pandemia, dar uma pausa nos estudos. Ele explica que tinha dificuldades em acessar os grupos de Whatsapp e acompanhar as videoaulas do “Aula em Casa”. “Quando retornei à escola, nesta semana, não sabia o que esperar. Mas nossos professores se mostraram compreensíveis e comprometidos a nos ajudar”, pontuou ele.
Colega de Marcos, Nathan Jeisson de Lima acredita que os estudantes também têm um papel fundamental no combate ao abandono escolar. Um ponto que deve ser reforçado entre o corpo discente é a importância da escola para a vida do aluno, destaca o jovem.
“É essencial mostrar os benefícios e o que nós [estudantes] podemos perder caso desistamos dos estudos. Nós precisamos da escola em tudo, a nossa vida é à base da escola. Aprendendo a se doar mais aos trabalhos, às provas e interagindo em sala de aula, a gente se sente mais bem preparado para os desafios da vida adulta, e isso acaba resgatando aquela vontade de aprender e crescer”, finalizou Nathan.
Ação fixa – Mesmo tendo sido desenvolvido com o intuito de minimizar os danos da pandemia, no que diz respeito a abandono escolar, o projeto “Busca Ativa” deverá integrar, de maneira fixa, o calendário anual de programas e atividades da Secretaria de Estado de Educação e Desporto.
“Ele [o ‘Busca Ativa’] é uma semente. Nós temos condições de dizer que, para a rede, o projeto será muito importante em longo prazo. Nós conseguimos movimentar toda a equipe escolar, como gestores e professores, e isso, de certeza, auxiliará para o crescimento do ‘Busca Ativa’”, finalizou Aldenilse.
Fotos: Lincoln Ferreira