Pela primeira vez, a obra integral para violoncelo e piano do maestro amazonense Claudio Santoro foi reunida em um CD, que ainda conta com quatro obras nunca antes gravadas. Um documentário, que estreará neste domingo (28/06), às 16h, marcará o lançamento oficial da obra e contará sobre os bastidores da produção protagonizada pelo violoncelista Hugo Pilger e pelo pianista Ney Fialkow.
O documentário irá ao ar no canal do violoncelista Hugo Pilger (https://www.youtube.com/hugopilger), que explica que o lançamento seria feito em uma turnê que teve de ser cancelada devido à pandemia de Covid-19.
“Gravamos em outubro de 2019 e a última parte em fevereiro deste ano, nos estúdios da Visom, antes da pandemia começar a ficar mais grave no país. O lançamento começaria pela sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, passaria por Porto Alegre e Manaus também estava nessa rota, mas tudo teve que ser suspenso. No documentário, vamos ter depoimentos, meu e de Ney, e de quem nos ajudou a produzir e de quem estava envolvido no projeto, além de trechos da música”, detalha.
O CD físico já está disponível na Loja Clássicos (bit.ly/lojaclassicos) e, após o documentário, estará disponível nas plataformas de streaming. Com 77 minutos, o álbum reúne obras que datam de 1943 e vão até 1982. Segundo Pilger, o ouvinte poderá ter noção das fases do maestro amazonense, suas escolhas estéticas e processos evolucionais.
“Ele não hesitava em transitar por diversos estilos e fases, e colocava sua impressão digital em cada uma delas. Nestas obras, você percebe ele saindo do nacionalismo e entrando no dodecafonismo, por exemplo, então temos essa paleta de estéticas em sua trajetória. É impressionante como em todas as obras Santoro é intenso, extremamente lírico, demonstrando um completo controle dos meios que ele tinha em mãos e a sua virtuosidade como compositor”, ressalta o violoncelista.
Das sete obras do CD, quatro são inéditas. Pilger comenta que a maioria dos violoncelistas não conhece as composições de Santoro para o instrumento. “Com a ajuda do filho dele, Alessandro Santoro, tive acesso aos manuscritos, e é incrível a convulsão cerebral da criação das obras. Eu nunca tinha ouvido em nenhum recital. A ‘Sonata 4’ inclusive foi editorada para este projeto e vamos falar sobre o manuscrito no documentário. A reunião destas composições e o ineditismo destas obras tornam este projeto algo muito especial para mim e para o Ney”, declara.
O pianista Ney Fialkow define o maestro Claudio Santoro como um compositor que não tinha medo de mudar de fases e que tinha profundo conhecimento do idioma dos instrumentos.
“A música dele é muito intensa, te pega pelas tripas, não só pelos desafios técnicos, mas também interpretativos, aquilo que não está escrito nas partituras. Já admirava obra dele, mas com este projeto pude me aprofundar ainda mais. Claudio Santoro tem uma obra idiomática, de alguém que tinha uma noção muito grande das técnicas e do idioma pianístico. Quando a gente trabalha com música de câmara, dois instrumentos se fundem e criam um terceiro, e ele foi muito feliz nisso, soube tratar o violoncelo e o piano com igual potência, trazendo diversas sonoridades para a obra”, analisa o pianista.
A contribuição para a memória e também difusão das obras do maestro amazonense também é ressaltada por Fialkow. “Esta obra estava guardada e nós estamos ajudando a difundi-la. Foi uma gravação desafiadora porque com obras inéditas não temos referências para nos basear. Para nós, que somos professores de música, poder dar essa contribuição para a obra de Santoro nos deixa muito felizes. Sou muito feliz também de ter tido o Hugo como parceiro porque é preciso muito afinação para fazer música de câmara, e quando se há confiança na parceria, o projeto cresce”, afirma.
Além do CD físico disponível para compra, ainda é possível ouvir o álbum on-line no site da Rádio Cultura FM (https://bit.ly/cdsantoro).
Claudio Santoro – Claudio Franco de Sá Santoro nasceu em Manaus, no dia 23 de novembro de 1919. Na adolescência destacou-se na cidade participando de recitais, o que lhe rendeu uma bolsa de estudos, concedida pelo Governo do Estado, para estudar música no Rio de Janeiro, de onde, anos depois, seguiu para o mundo com sua música.
Foi maestro, compositor, professor. Recebeu diversos prêmios e condecorações no Brasil e no mundo; foi fundador e maestro titular das Orquestras de Câmara da Rádio MEC e da Universidade de Brasília; das Orquestras Sinfônicas da Rádio Club do Brasil e do Teatro Nacional de Brasília; membro da Academia Brasileira de Música, da Academia Brasileira de Artes e da Academia de Música e Letras do Brasil, da qual foi presidente.
Também regeu, como convidado, as mais importantes orquestras do mundo, entre elas a Filarmônica de Leningrado, Estatal de Moscou, RIAS Berlin, ORTF Paris, Beethovenhalle Bonn, Sinfônica da Rádio de Praga, Filarmônica de Bucareste, Filarmônica de Sofia, PRO ART (Londres), Île de France (Paris) e Filarmônica de Varsóvia. Santoro faleceu no dia 27 de março de 1989, em Brasília, regendo, durante o ensaio geral do primeiro concerto da temporada.
Em 2019, ano do centenário do seu nascimento, Claudio Santoro foi o grande homenageado do Festival Amazonas de Ópera, com a apresentação da ópera “Alma”, além de um recital com canções compostas pelo maestro amazonense.
Hugo Pilger – Doutor em Música pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), Hugo Pilger iniciou seus estudos de violoncelo na Fundação de Artes de Montenegro (Fundarte-RS) com Milton Bock. Em 1987, passou a estudar no Rio de Janeiro com Marcio Malard, e em 1994, na classe do professor Alceu Reis, formou-se com nota máxima no curso de Bacharelado em Instrumento Violoncelo da UniRio, instituição na qual concluiu seu mestrado em Música, em 2012, e doutorado em Música, em 2015.
Como solista, apresentou-se à frente de várias orquestras, dentre elas Orquestra Sinfônica Brasileira, Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, Orquestra de Câmara da Cidade de Curitiba, Orquestra Sinfônica da Bahia, Orquestra Petrobras Sinfônica, Orquestra Ouro Preto, Orquestra Sinfônica Nacional, Orquestra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Realizou turnês em diversos países da Europa, América do Sul e do Norte.
É integrante do Trio Porto Alegre, juntamente com o pianista Ney Fialkow e o violinista Cármelo de Los Santos e professor da classe de violoncelo da UniRio.
Ney Fialkow – Premiado em diversos concursos, destacando-se o cobiçado título de melhor pianista do VII Prêmio Eldorado de Música, em São Paulo, o pianista Ney Fialkow é hoje um dos destacados músicos do cenário nacional. Concilia uma movimentada carreira de solista e camerista com a atividade de professor titular do Departamento de Música Instituto de Artes Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre. Tem cativado plateias de diversas salas de concerto no Brasil e no exterior, sendo suas masterclasses apreciadas por jovens pianistas de diversos países.
Em parceria com o violoncelista Hugo Pilger, tem realizado inúmeros recitais, divulgando primordialmente o repertório brasileiro para violoncelo e piano. Ao lado do violinista Cármelo de los Santos, gravou o premiado CD “Sonatas Brasileiras”. Suas gravações incluem obras para piano e orquestra de Vagner Cunha e Bruno Kiefer, além de obras para piano de Camargo Guarnieri e Edino Krieger.
Realizou diversos concertos no Brasil e no exterior como membro integrante do Trio Porto Alegre. Ao lado da mezzo-soprano Angela Diel, tem se apresentado divulgando especialmente o repertório das canções alemãs.