O Governo do Amazonas manifesta profundo pesar pelo falecimento do indígena Higino Pimentel Tenório, da etnia Tuyuka, que morreu na noite desta quinta-feira (18/06), aos 65 anos, vítima de complicações causadas pela Covid-19.
O paciente deu entrada no Hospital de Combate à Covid-19 (Nilton Lins), no último dia 29 de maio, transferido do Hospital de Guarnição de São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros de Manaus). Ele ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), na ala indígena do hospital, onde recebeu todo o tratamento padrão, que é realizado em casos de Covid-19, com as especificidades direcionadas aos pacientes indígenas.
Higino, que não apresentava registros de comorbidades, teve o quadro agravado por uma insuficiência respiratória aguda, que evoluiu para pneumonia viral aguda, com hipoxemia (baixo nível de oxigênio no sangue).
Histórico de liderança – Higino Tuyuka era um líder com grande representatividade, defensor da cultura indígena, que construiu uma história de lutas pelos povos do Alto Rio Negro. Conhecido como doutor da educação escolar indígena, Higino era professor indígena e fazia questão de repassar às novas gerações tradições indígenas, como línguas, cantos, histórias e cerimônias.
Grande articulador das políticas de educação escolar indígena, não só do Alto Rio Negro, mas também brasileira, ajudou na criação dos 10 Princípios da Educação Escolar Indígena nos anos de 1990, na Comissão dos Professores Indígenas do Amazonas e Roraima (Copiar), que norteou as políticas do Ministério da Educação (MEC) naquela década.
Contribuiu na implantação do Ensino Médio Indígena no Alto Rio Negro, na criação da Comissão de Educação Escolar Indígena do MEC, entre outras contribuições importantes para a concretização da atual política brasileira de Educação Escolar Indígena.
Junto a outras lideranças indígenas, Higino foi um dos fundadores da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) em 1987. Com sede em São Gabriel da Cachoeira, a entidade representa 23 povos indígenas do Brasil e articula ações em defesa dos direitos e do desenvolvimento sustentável de 750 comunidades indígenas em uma das regiões mais preservadas da Amazônia, na tríplice fronteira do Brasil com a Venezuela e a Colômbia.
O líder indígena também integrava a Associação Brasileira de Arte Rupestre (Abar), entidade interdisciplinar e interepistêmica, dedicada ao estudo da arte rupestre e da história indígena do Brasil. Com o trabalho na Abar, Higino Tuyuka ganhou reconhecimento internacional como o primeiro investigador indígena da arte rupestre no Brasil.