13:58 – 21/11/2019
Pesquisadores identificaram, por meio de um estudo genético do hospedeiro (homem), quais genes estão associados à resposta imune e à cicatrização das lesões cutâneas em pacientes diagnosticados com leishmaniose causada pelo protozoário Leishmania guyanensis.
A pesquisa, apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), investigou o que torna um indivíduo suscetível a desenvolver a doença, enquanto outros se mostram resistentes, mesmo vivendo em um ambiente com incidência significativa de casos registrados de leishmaniose.
O fato de nem todas as pessoas infectadas desenvolverem a doença, sugere a existência de um conjunto de fatores genéticos nesse controle, embora fatores nutricionais e ambientais também possam contribuir com o desenvolvimento de doenças infecciosas.
O projeto “Perfis citocinas e variantes dos genes envolvidos na resposta imune e na cicatrização das lesões em pacientes com leishmaniose cutânea em uma população caso-controle de Manaus, Amazonas”, foi coordenado pelo pesquisador Rajendranath Ramasawmy.
A pesquisa foi desenvolvida no laboratório multidisciplinar da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), centro de referência no atendimento para leishmaniose no Estado, e amparada pelo Programa de Apoio à Pesquisa (Universal Amazonas), Edital Nº 030/2013.
Estudo – Na investigação, foram utilizadas amostras biológicas (sangue) de 1.600 indivíduos na faixa etária de 12 a 65 anos de idade, sendo 800 pacientes (amostra populacional de indivíduos com diagnóstico positivo para leishmaniose) atendidos na FMT-HVD, e 800 indivíduos do grupo controle (pessoas saudáveis sem histórico de leishmaniose, procedentes das mesmas áreas endêmicas dos pacientes infectados por L. guyanensis).
Trata-se de um estudo caso-controle de análise de associação genética, no qual os pesquisadores estudaram os polimorfismos genéticos (variações nas sequências de DNA) presentes em genes que codificam proteínas que desempenham papéis importantes para o sistema imunológico.
Com isso, os pesquisadores identificaram os marcadores genéticos associados à resposta imune do hospedeiro, os mecanismos moleculares envolvidos na cicatrização ou mesmo desenvolvimento das lesões na pele.
Resposta imune – Os pesquisadores conseguiram demonstrar que indivíduos com baixo nível de citocina IFN (Interferon gamma), proteína produzida pelo gene IFNG, associado a um conjunto polimorfismo, são mais susceptíveis à infecção, uma vez que essa substância é muito importante para o controle parasitário.
O estudo apontou que polimorfismos de IL-1B, citocina pró-inflamatória, cuja produção excessiva está ligada à severidade da doença, e baixos níveis de IL-1RA (receptor antagonista) parecem estar associados à susceptibilidade à infecção. Já polimorfismos dos genes IL-2, IL-2RB e JAK3 não conferem susceptibilidade ou proteção contra a leishmaniose cutânea.
Leishmaniose cutânea no Amazonas – De acordo com os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan/Astec), entre os meses de janeiro e julho de 2019 foram notificados 710 novos casos de Leishmaniose Cutânea. Em 2018, foram 1.612 novos casos registrados no estado.
Em um período de 10 anos (2007 a 2017), o estado registrou 18.677 casos novos de leishmaniose cutânea, e fez o Amazonas ocupar a 5ª posição no ranque dos estados com maior número de notificações.
A comparação entre todos os estados é feita com base nos dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde no portal DATASUS. Nesse portal, estão disponíveis dados até 2017.
Segundo a estratificação de risco de leishmaniose cutânea e mucosa utilizada pela Organização Pan-Americana de Saúde, o Amazonas está classificado como área com transmissão muita intensa (a incidência de Leishmaniose Tegumentar Americana – LTA no Amazonas em 2018 foi igual a 39,5 casos por 100 mil habitantes).
Leishmaniose cutânea – É uma doença infecciosa não contagiosa causada pelo protozoário Leishmania, que é transmitido ao homem e aos animais silvestres pela picada do mosquito-palha infectado. O parasita é controlado pelo sistema imunológico do hospedeiro. Indivíduos que não possuem uma resposta imunológica eficaz contra Leishmania desenvolvem úlceras na pele e nas mucosas das vias aéreas superiores. Há duas formas de leishmaniose: a cutânea e a visceral.
Genes – Os genes são sequências de DNA (molécula que contém informações genéticas) com instruções para produzir proteínas que desempenham uma função específica no corpo. Os pesquisadores identificaram que vários genes estão envolvidos na ação de cicatrização tecidual e cura mais rápida das lesões. Verificou-se também que polimorfismos em alguns genes estão associados à leishmaniose cutânea no estado do Amazonas.
Importância do estudo – Ainda não foi desenvolvida uma vacina contra leishmaniose, e o tratamento padrão para a doença é medicamentoso, com efeitos colaterais adversos. No Brasil, o Antimoniato de Meglumina é a droga de escolha para o tratamento de leishmaniose cutânea; a Anfotericina B e a Pentamidina são a segunda linha de opção terapêutica.
Recentemente, a Miltefosina mostrou ser eficaz e segura para o tratamento de Leishmaniose causada por L. guyanensis e L. braziliensis, mas ainda não está disponível no país. A dose de Antimoniato Meglumina recomendada é de 10–20 mg/kg/dia, injetada por 20 dias seguidos, com taxa de eficácia entre 26,3% a 81,6%. Para a injeção de Anfotericina B, o paciente precisa ficar sob observação no hospital para monitoramento da função renal.
Desse modo, é importante estudar os mecanismos imunogenéticos envolvidos na cicatrização ou desenvolvimento das lesões, a fim de contribuir com a futura elaboração de tratamentos mais eficazes como, por exemplo, a combinação da imunoterapia com o tratamento preconizado pelo Ministério da Saúde.
O estudo resultou na publicação de seis artigos em revistas internacionais.
Universal Amazonas – O programa tem o objetivo de financiar atividades de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, ou de transferência tecnológica, em todas as áreas do conhecimento, que representem contribuição significativa para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental do estado do Amazonas, em instituição de pesquisa ou de ensino superior ou centros de pesquisa, públicos ou privados, sem fins lucrativos, com sede ou unidade permanente no estado. A última edição do Programa foi lançada em junho de 2019.
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