Professor e alunas da Escola Estadual Nossa Senhora de Nazaré, em Manacapuru (a 99 quilômetros de Manaus) foram homenageados na manhã deste sábado (19), como parte da programação do II Simpósio Internacional Sobre Gestão Ambiental e Controle de Contas Públicas.
Eles fazem parte do projeto “Escama de Peixe”, que transforma escamas de aruanã que são descartadas nas feiras, igarapés e ruas do município em fibras resistentes, capazes de serem aplicadas na produção de curativos e filtros para gases tóxicos. Coordenado pelo professor de física e biologia da instituição, Galileu Pires, o projeto conta com a participação de 12 alunas do primeiro ano do Ensino Médio.
“Nosso grupo de alunos recolheu essas escamas nas feiras e, no laboratório da escola, começamos a transformar em um novo tipo de papel. Durante a pesquisa, verificamos que com o tratamento adequado, conseguimos produzir uma fibra muito parecida com as fibras de algodão e que, pelas suas propriedades bioquímicas, é ideal para ser utilizada como bandagem para ferimentos de diabéticos”, explicou o professor.
Ainda segundo o coordenador do projeto, as principais vantagens do tecido desenvolvido pelos estudantes é a grande resistência e a rápida decomposição ambiental.
“Os filtros de gases produzidos por nós, por exemplo, levam 2 meses para se decompor, contra os cinco anos que levam os filtros sintéticos. Então o impacto ambiental é zero”, ressaltou.
De acordo com Galileu, a ideia surgiu há três anos, a partir do desafio de transformar uma escola pública em uma escola modelo, por meio de pesquisa. Ele percebeu que o ensino tradicional na escola, sem a aplicação do aprendizado na prática, estava deixando os alunos desestimulados. Então, ele criou um desafio: utilizar os conceitos aprendidos em sala de aula nas pesquisas.
A estudante Laura Martins, de 14 anos, é uma das integrantes do projeto. Para ela, a maior contribuição de seu trabalho para a comunidade é poder colocar em prática as lições sobre desenvolvimento sustentável.
“É muito gratificante participar do Escama de Peixe. Com esse projeto nós já aprendemos muita coisa sobre sustentabilidade e temos a oportunidade de contribuir com a preservação do meio ambiente”, disse.
Reconhecimento
O coordenador de ações ambientais do TCE-AM, conselheiro Júlio Pinheiro acredita que reconhecer iniciativas como esta é de extrema importância.
“É preciso fazer com que a juventude se engaje e este projeto é a grande prova de que vem se engajando. Precisamos fazer com que todos se conscientizem e o Tribunal exerce esse papel preventivo e de controle, agindo de ofício e se adiantando aos danos ambientais”, comentou o conselheiro.
No início de outubro, a pesquisa foi uma das vencedoras na votação do júri popular do projeto “Respostas para o Amanhã”, promovida por uma empresa multinacional do setor de tecnologia. Mas, para o professor Galileu, o maior reconhecimento é servir de inspiração para estudantes das escolas públicas do Amazonas.
“Essa fibra desenvolvida em Manacapuru é inédita. Não existe em lugar nenhum do mundo. Então, criar algo inédito a partir de uma escola pública nos dá o orgulho e a responsabilidade de sermos exemplos para outras escolas”, garantiu o mestre.
E depois do sucesso da pesquisa com as escamas de aruanã, os estudantes da escola Nossa Senhora de Nazaré já estão trabalhando no próximo desafio: desenvolver o primeiro drone ecológico do mundo, feito a partir de fibras do açaí.
“Tentamos, e estamos conseguindo, transformar a escola pública em uma escola modelo para o resto do Amazonas”, comemorou Galileu.
Texto: Lucas Raposo | Edição: Elvis Chaves