Há quase dois meses à frente da seleção feminina sub-20 de futebol, o técnico Jairo Urias já colocou em prática a meta estabelecida para a base: “Formar e vencer”. Após quatro vitórias em quatro partidas, a equipe se sagrou campeã da Liga Sul-Americana, na Argentina. Esta competição, de categoria sub-19, serviu de preparação para o Sul-Americano sub-20, que acontece ano que vem.
Ex-técnico da equipe feminina do Sport, Jairo assumiu a seleção sub-20 ao lado da auxiliar Jessica de Lima, após a categoria ficar quase um ano sem comando. Simone Jatobá está no comando na categoria sub-17, tendo Lindsay Carvalho como auxiliar.
Assim como na base do futebol masculino, na qual o atleta encara muitas dificuldades, no feminino as atletas estão muito distantes de uma formação adequada. Ciente do desafio de buscar jogadoras nessa realidade, e em um momento no qual a maior parte dos clubes estão começando a desenvolver equipes de bases, a comissão técnica tem boa expectativa do futuro justamente porque os times começam a se adequar à resolução da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que determina a criação de equipes de futebol femininas de base.
Tendo também como referência para o trabalho a técnica da seleção adulta, a sueca Pia Sundhage, Jairo espera elevar as atletas que comanda hoje à seleção principal.
Antes de embarcar para a competição na Argentina, o repórter da TV Brasil Igor Santos conversou com Jairo Urias na concentração da equipe na Granja Comary. Confira um trecho da entrevista:
Pergunta – Qual a principal diferença entre o trabalho em um clube e agora na seleção?
Resposta – Ter o privilégio de pensar em futebol o tempo inteiro. Pensar no trabalho o dia inteiro. Estar aqui concentrado. Essa é a grande diferença. Nos clubes se trabalha bem, há muitos recursos, fazemos coisas parecidas. Mas fazer isso o tempo todo enriquece muito.
Pergunta – Há um intercâmbio de trabalho com Pia Sundhage? Em quanto tempo as jogadoras do sub-20 podem aparecer na seleção principal?
Resposta – Pia é uma referência por si só. Ter a oportunidade de trabalhar com ela, de estar perto dela, já é enriquecedor. A princípio ela está apresentando o que sabe, o que pensa. Aos poucos vamos integrando com que temos, que é especial. O futebol brasileiro é especial. E com que ela tem a questão competitiva internacional.
Sobre as meninas que têm potencial para subir, acho que o momento é ótimo. A Pia está aqui, de certa forma está aberta em relação às atletas. Nunca houve um momento tão bom para galgar um lugar na principal. Assim que terminar o ciclo na sub-20, a Pia pode lembrar: “Quero essa menina comigo pelo o que ela fez lá, pelo que vi”. Porque quando troca o trabalho, entra alguém sem os condicionamentos normais, naturais que a gente vai ter. Todo treinador tem e pensa: “Gosto dessa jogadora, já resolveu um jogo para mim”. E é claro que vai ter uma tendência de, nos momentos de competição, contar com essa jogadora. Como a Pia não viveu isso aqui, ela está aberta. Por isso acho que existe sim uma chance grande de vermos muitas dessas meninas pleiteando um lugarzinho lá.
Pergunta – Seu trabalho é chamar meninas da base, mas como é feito isso considerando que a estrutura dos clubes ainda não é ideal?
Resposta – Creio que chega menos informação até nós. Então nós temos que buscar as informações. Isso é bom porque somos do feminino, temos contato com os principais clubes. Usufruímos disso pra monitorar as meninas. Conhecemos a maioria dos treinadores, convivemos com essas pessoas, isso ajuda muito. Outro detalhe é que estão a cada ano melhor em relação à base. Ainda não é o ideal, mas está sendo trilhado o caminho da evolução. Estamos começando a viver isso. Há meninas aqui que são da base de seus clubes, que treinam todos os dias, têm campo, têm estrutura, moram em alojamento adequado, têm boas refeições, são bem assessoradas, apoiadas. Quando têm referência, quando têm clubes fazendo, isso mostra que dá certo, então puxam outros pra cima. Aos poucos vai ser cada vez mais comum, e vamos ter mais bons projetos no feminino de base.
Pergunta – A base é feita para formar atleta. Há algum estilo que você deseja implantar nessa seleção?
Resposta – Formar e vencer. É importante criar o espírito competitivo. O brasileiro é um pouco intolerante no futebol. Vencer é a meta. Formar é também. Vamos tentar trazer as duas coisas juntas. A responsabilidade de formação aqui na seleção é a cereja do bolo, mas não é o principal foco de formação. Mas acho que os clubes estão fazendo um trabalho cada vez melhor nisso. Até por natureza, ela vai ficar uma semana aqui e dois meses nos clubes ou mais. Por naturalidade ela vai absorver muito mais o que está lá. E aqui a ideia é lapidar o fino, que é a competição internacional, a experiência mais alta competitiva. Esse contato de viver e respirar futebol o tempo inteiro. Mas tentar vencer porque é a cultura do nosso país.
Edição: Fábio Lisboa