JOTA ABREU
DA REDAÇÃO
O depoimento da paratleta Adriele Silva comoveu os participantes da audiência pública realizada nesta sexta-feira (13/09), na Câmara Municipal. Adriele sobreviveu à sepse, também chamada de infecção generalizada, quadro clínico que se caracteriza pelas complicações decorrentes de infecção, com alto grau de letalidade. É frequente em pacientes internados em hospitais.
Segundo o médico Reinaldo Salomão, professor da Escola Paulista de Medicina e membro do conselho do ILAS (Instituto Latino Americano de Sepse), entre 27 e 30 milhões de pessoas adoecem por sepse no mundo, anualmente – e 5 milhões morrem como consequência. No Brasil, que não entra nessas estatísticas globais, cerca de um terço dos leitos hospitalares estão ocupados por pacientes com sepse, e a taxa de mortalidade passa de 50%.
A audiência discutiu o PL (projeto de lei) 664/2018, que institui 13 de setembro como Dia da Sepse em São Paulo. E o PL 665/2018, que trata da adoção de protocolo de prevenção, diagnóstico e tratamento da sepse em unidades públicas de saúde. Os dois PLs são do vereador Aurélio Nomura (PSDB). “Prevenir a sepse significa poupar vidas, além de reduzir custos de tratamento e tempo de internação”, disse Nomura.
Adriele Silva, 32 anos, enfrentou a sepse em 2012. Na época, trabalhava em uma indústria, mas estava em casa quando sentiu cólicas renais. Foram horas no hospital sendo medicada apenas com analgésicos e soro, até que uma enfermeira cogitou a possibilidade da infecção mais séria.
Àquela altura, Adriele já tinha problemas nos rins e em outros órgãos. Ela precisou ser levada para a UTI, onde ficou mais de 50 dias – e precisou ter os pés amputados, com sequelas nas mãos e cérebro. Com as próteses, descobriu a saída pelo esporte. “Hoje tudo o que eu faço é em função do que me aconteceu. Foi difícil tomar a decisão de ser paratleta, mas segui por esse caminho porque nas empresas ainda não existe uma cultura de empregabilidade para pessoas com deficiência com o devido respeito no ambiente de trabalho”, afirmou Adriele.
Especialistas dizem que o protocolo de procedimentos e a administração de antibióticos poderiam ter sido feitas mais precocemente e os efeitos, minimizados.
Presidente do ILAS, o médico Luciano Azevedo lembrou diversas personalidades que morreram em decorrência de sepse, como o papa João Paulo II e Tancredo Neves. O ILAS trabalha para a melhoria do atendimento com formações em unidades de todo o Brasil, com estudos epidemiológicos. “Uma pesquisa que fizemos mostrou que 93% das pessoas nunca ouviram falar de sepse. Mesmo entre os profissionais de saúde, a porcentagem é bastante significativa”, afirmou Azevedo, que defendeu o trabalho de conscientização.
Um caso exitoso foi apresentado pelo médico Paulo Rogério Soares, diretor do Pronto Socorro do INCOR (Instituto do Coração). Segundo Soares, em dois anos, o tempo para início de atendimento, diagnóstico e tratamento de sepse caiu de 3,8 horas para 36 minutos, em média. E a taxa de mortalidade caiu de 61% para 17%. “Passamos por um processo de implantação do protocolo. Antes, a administração de medicamentos demorava porque os antibióticos ficavam em outro lugar. Uma das mudanças foi colocar um kit em cada sala do PS com os medicamentos para agilizar a administração após a prescrição médica”, explicou o médico.
Titular da Autarquia Hospitalar Municipal, a médica Ivomar Gomes Duarte afirmou que será firmada uma parceria com o ILAS para a formação nos principais hospitais municipais de adequação ao protocolo.
Já Adalberto Kiochi Aquemi, assessor-técnico da Secretaria Municipal da Saúde, também declarou que existe a intenção de colaborar para a elaboração e aperfeiçoamento dos projetos de lei. “Um dos avanços que podemos buscar é oferecer melhores condições para as pessoas que sobrevivem à sepse”, argumentou.