O Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP) recebeu, no fim de agosto, as atividades da São Paulo School of Advanced Science on Science Diplomacy and Innovation Diplomacy.
Na ocasião, pesquisadores elaboraram um documento, intitulado São Paulo Framework of Innovation Diplomacy, que tem o objetivo de pavimentar futuros estudos acadêmicos, estratégias de negócios e políticas relacionadas à diplomacia da inovação, que, embora tenha atividades práticas consolidadas, ainda é um termo recente no campo teórico e universitário.
Com isso, especialistas de 30 países elaboram uma proposta com uma série de sugestões estratégicas para facilitar o acesso de produtos tecnológicos a mercados estrangeiros, a internacionalização de startups, a atração de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e a mobilização de pesquisadores que atuam fora de seu país de origem.
Investimentos
Vale destacar que o evento, organizado pelo Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, sob a coordenação acadêmica de Amâncio Jorge de Oliveira, teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), na modalidade Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA).
A iniciativa reuniu 80 pesquisadores de diversas áreas do conhecimento para debater um tema que congrega a academia, empresas e o interesse das nações. “O documento está passando por um processo de revisão e será aberto para consulta entre os participantes até ser divulgado oficialmente, a partir de outubro, no site da Escola”, afirmou Pedro Ivo Ferraz da Silva, um dos coordenadores do evento realizado na USP, à Agência Fapesp.
O coordenador é diplomata de carreira e chefe do setor de Energia, Meio Ambiente e Ciência, Tecnologia e Inovação da Embaixada do Brasil em Nova Délhi, na Índia. “As embaixadas têm promovido missões de startups para facilitar o acesso de empresas tecnológicas no exterior, processo conhecido como internacionalização. Há ainda a atividade que a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos faz para atração de recursos voltados à pesquisa”, completa.
Diretrizes
A Escola também abordou a diplomacia científica, tema já estabelecido na academia e que vem ganhando relevância. As diretrizes para a diplomacia da inovação seguem os passos de outro documento, sobre a diplomacia científica, criado em 2010 pela American Association for the Advancement of Science (AAAS), dos Estados Unidos, e pela Royal Society, do Reino Unido.
“A diplomacia científica está limitada à questão da pesquisa, sem pensar em impacto mercadológico, patentes, mediação técnica, comércio ou marketing internacional comum. Isso tudo é incorporado pela diplomacia da inovação de uma maneira sistemática. Portanto, colocar a diplomacia da inovação como um objeto central nesta Escola permite dar um salto em termos de impacto”, disse Amâncio Jorge de Oliveira à Agência Fapesp.
Tradicionalmente, a diplomacia científica pode ser dividida em três aspectos, de acordo com especialistas. A primeira e mais comum delas, chamada de science in diplomacy, ocorre quando a ciência serve de base para negociações diplomáticas. Entre os principais exemplos estão o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, da sigla em inglês) ou a Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, da sigla em inglês).
O segundo aspecto diz respeito à criação de acordos de colaboração científica e pode ter a finalidade de resolver problemas comuns e construir parcerias internacionais construtivas, por meio da chamada diplomacy for science.
“Há ainda o terceiro aspecto, e talvez mais original e difícil de ser atingido, que é a science for diplomacy, quando a cooperação científica entre países ajuda na relação internacional e no diálogo político”, explicou à Agência Fapesp Pierre Bruno Ruffin, da Universidade de La Havre, da França, durante apresentação na ESPCA.
Conexões
Independentemente de qual interesse ou objetivo, para que os três aspectos ocorram, é preciso construir conexões entre ciência e diplomacia. “A comunidade científica não necessariamente conhece política externa, nem os diplomatas sabem como a ciência pode ser afetada ou beneficiada pelas relações internacionais e a situação geopolítica internacional”, avaliou Marga Gual Soler, conselheira em diplomacia científica para o EU Research & Innovation Commissioner, à Agência Fapesp.
Segundo a conselheira, a falta de conexão e treinamento nas duas comunidades cria uma série de problemas no mundo atual. “Hoje, temos desafios globais, como as mudanças climáticas. Temos tecnologias disruptivas, como inteligência artificial, blockchain e machine learning. Nesse cenário, novos atores vêm para a diplomacia, as empresas privadas, o que está mudando o cenário por completo”, finalizou Marga Gual Soler.