Estão presos os dois seguranças acusados de torturar um adolescente no supermercado Ricoy, na Vila Joaniza, zona sul paulistana. Ontem (8), Valdir Bispo dos Santos se entregou na 2a Delegacia de Atendimento ao Turista no Aeroporto de Congonhas. O caso é investigado pelo 80° Distrito Policial.
O outro segurança, David de Oliveira Fernandes, havia sido preso na sexta-feira (6). A prisão deles foi pedida pela Polícia Civil e autorizada pela juíza Tatiana Saes Ormeleze, do Fórum Criminal da Barra Funda, no dia 5.
O inquérito sobre o caso foi instaurado após as imagens em que o rapaz, de 17 anos, aparece sendo chicoteado circularem pelas redes sociais. No vídeo, o adolescente está nu e amordaçado enquanto apanha e é ameaçado pelos agentes de segurança do estabelecimento.
Ontem (7), uma manifestação em frente ao Ricoy chamou atenção para a responsabilidade do supermercado pela tortura. As portas do local foram baixadas enquanto ocorria o ato. Uma faixa com os dizeres “Contra o genocídio” foi aberta em referência às mortes de pessoas negras.
Segundo a última edição do Atlas da Violência, estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 75,5% das vítimas de homicídio no país são negras.
A tortura é considerada crime hediondo e ocorre quando alguém é submetido, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental. A Lei 9.455, de 1997, prevê pena de 2 a 8 anos a quem cometer esse tipo de crime.
Depoimento
Na última segunda-feira (2), o rapaz prestou depoimento. Ele contou não lembrar o dia exato em que o fato ocorreu, apenas que foi no mês de agosto. Segundo relatou aos policiais, ele pegou uma barra de chocolate da gôndola e tentou sair do supermercado sem pagar, mas foi abordado por dois seguranças, que o levaram para um quarto nos fundos do estabelecimento.
No quarto, ele foi despido, amordaçado, amarrado e passou a ser torturado com um chicote feito de fios elétricos trançados, por cerca de 40 minutos. Ele disse ainda que não registrou boletim de ocorrência porque temia por sua vida. No depoimento, relatou que um dos seguranças, disse que o mataria se relatasse o caso a alguém.
Além da vítima, foram ouvidos outros funcionários do supermercado, que negaram conhecimento dos fatos.
Procurado pela Agência Brasil, o supermercado informou que “repugna esta atitude” e que tomou conhecimento dos fatos pela imprensa com “indignação”. A empresa informou que “não coaduna com nenhum tipo de ilegalidade” e que vai colaborar com as autoridades competentes para a apuração do caso.
Edição: Aécio Amado