23/08/19 11h55
FAPESPAs fundações estaduais de amparo à pesquisa (FAPs) têm firmado nos últimos anos diversos acordos de cooperação internacional com o objetivo de aumentar o impacto e a visibilidade da ciência feita no Brasil, entre outros objetivos. Agora, pretendem qualificar a participação nesses acordos de modo que seja possível obter o máximo de benefícios gerados nessas colaborações.
O assunto foi discutido em um painel sobre cooperações internacionais e estratégias para o avanço do conhecimento científico, no dia 21 de agosto, antecedendo a abertura do Fórum do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), realizada nesta quinta-feira (22/08), na FAPESP.
“A cooperação internacional das FAPs avançou muito nos últimos anos. As possibilidades aumentaram tanto que precisamos agora elaborar uma política para orientar a participação em novos acordos, de modo a não só estimular a mobilidade, mas permitir que os pesquisadores brasileiros tenham protagonismo nos projetos em colaboração”, disse Evaldo Ferreira Vilela, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e do Confap, durante o encontro.
“Queremos que a cooperação internacional não seja um fim por si só, mas um meio de atingir os objetivos das FAPs no financiamento de projetos colaborativos de pesquisa”, afirmou.
Possibilitar que os pesquisadores brasileiros tenham protagonismo e liderança nos projetos é um dos objetivos da FAPESP nos acordos de colaboração internacional, destacou Marilda Solon Teixeira Bottesi, assessora para colaborações em pesquisa da Fundação.
Uma das estratégias que têm permitido atingir esse objetivo é a participação de pesquisadores brasileiros em grandes projetos de colaboração internacional, disse Bottesi.
“Temos observado que, em decorrência da participação de pesquisadores brasileiros em grandes experimentos internacionais, por meio de projetos financiados pela FAPESP, tem sido possível colocá-los em posições de protagonismo e de governança”, afirmou.
Por meio de um projeto apoiado pela FAPESP, um grupo de pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) projetou e desenvolveu um chip, chamado de Sampa, que será instalado no sistema de detecção do ALICE (A Large Ion Collider Experiment), um dos quatro grandes experimentos do LHC (Large Hadron Collider), na Suíça.
Outro grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveu, também por meio de um projeto financiado pela FAPESP, o detector de luz Arapuca, que será instalado no Deep Underground Neutrino Experiment (Dune), nos Estados Unidos.
O Dune é um projeto internacional com o objetivo de descobrir novas propriedades dos neutrinos, partícula elementar com pouquíssima massa e que viaja a uma velocidade muito próxima à da luz.
“Nesses projetos, a participação dos pesquisadores brasileiros é par a par com os estrangeiros. Eles não são meros membros de equipe, mas exercem liderança”, afirmou Bottesi.
Segundo ela, uma das estratégias usadas pela FAPESP para potencializar os resultados de acordos de cooperação é estimular mais os projetos de pesquisa em colaboração do que meramente a mobilidade.
“A mobilidade pode ser uma ferramenta para chegar a ter projetos de pesquisa, mas nosso foco é financiar projetos de pesquisa conjuntos”, afirmou.
Outra estratégia empreendida nos últimos anos é aumentar o esforço para ampliar as colaborações com países asiáticos. “Estamos vendo que a Ásia cada vez mais ocupa uma parte relevante do sistema de ciência, tecnologia e inovação”, disse.
Novos acordos e editais
Durante o encontro, foi anunciado um novo acordo de cooperação internacional entre o Confap e a Itália. O acordo prevê o lançamento, em setembro, de uma chamada conjunta com as FAPs, que apoiará cinco projetos em cinco áreas prioritárias: espacial, materiais estratégicos, energias renováveis, agricultura e alimentos e agricultura de precisão.
“Cada projeto pode receber financiamento de até € 200 mil, sendo que metade desse valor será aportado pelo governo italiano e, a outra metade, pelas FAPs participantes”, explicou Elisa Natola, assessora de cooperação entre a União Europeia e o Brasil do Confap.
O acordo foi intermediado pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil. A instituição possui um programa de promoção tecnológica e desenvolvimento de inovação, com participação de 30 embaixadas do país no exterior.
“À exceção da FAPESP, que tem uma atuação internacional com peso próprio, é muito importante que as outras FAPs apresentem o Confap como ponto de apoio na interlocução com outros países, na tentativa de estabelecer acordos de cooperação internacional. Foi isso que permitiu o acordo com a Itália”, disse Achilles Emilio Zaluar Neto, diretor do departamento de promoção tecnológica do Ministério das Relações Exteriores.
No evento, também foi apresentada uma nova chamada de propostas do Newton Fund Impact Scheme, aberta até 13 de setembro.
O objetivo da chamada é apoiar projetos já realizados ou em andamento, financiados pelo Fundo Newton, que possam iniciar ou aumentar os impactos em políticas públicas ou elevar o engajamento com multiplicadores de impacto, como startups, ONGs ou instituições do terceiro setor.
Os projetos terão duração de 24 meses e poderão receber até £200 mil. Participam da chamada 10 FAPs, entre elas a FAPESP.
“As propostas precisam se basear no projeto original, já realizado ou em andamento, financiado pelo Fundo Newton. Mas a ideia é que não seja uma continuidade dele e sim uma base a partir da qual o pesquisador vai criar um novo projeto que atenda uma das duas linhas”, explicou Vera Oliveira, gerente de Educação Superior e Ciências do Conselho Britânico.
Ainda durante o evento, Diêgo Lôbo, gerente de comunicações da Global Health Strategies – organização que representa a Fundação Bill & Melinda Gates na América Latina –, anunciou que será lançada, ainda este ano, uma nova chamada de propostas do programa Grand Challenge Exploration (GCE), na área de ciência de dados em saúde materna e infantil.
Serão apoiados 10 projetos que usem ferramentas de computação para análise e visualização de dados e gerem informações que possam ser usadas na avaliação de políticas públicas ou para a criação de programas voltados à melhoria da saúde de crianças e mulheres.
“A parceria com as FAPs é muito importante, pois sem elas não seria possível ter capilaridade para atrair projetos de pesquisadores de todo o país”, avaliou Lôbo.