Flamengo coloca a alma em campo, consegue vitória improvável sobre o Corinthians e mostra característica tão cara de nosso futebol: o coração na chuteira
O futebol mudou. Em qualquer mesa de bar, onde se travam os mais importantes debates da bola, as discussões nem sempre falam do que acontece dentro de campo. Quantas cifras valem o craque do seu time? Quantos milhões serão gastos para contratar a estrela que pode chegar? Na manhã deste sábado, pela final do Campeonato Brasileiro Sub-17, mais do que um grande jogo, Corinthians e Flamengo nos proporcionaram uma volta no tempo. E essa talvez seja a grande magia do futebol das categorias de base.
Porque a tática entra em campo, é claro. É parte fundamental de tudo que é feito pelos jogadores de cada time. Mas muitas vezes, um resultado é definido pela capacidade que cada um tem de deixar o coração, veias e tripas dentro de campo. O futebol é um esporte que não permite o desinteresse. É possível ganhar uma partida sem ser o melhor time, sem ter o melhor treinador, sem estar em casa. Mas sem a alma, é para lá de complicado.
O Flamengo viveu uma montanha russa dentro de 90 minutos. Fora de si no primeiro tempo, foi engolido pelo Corinthians. Os meninos do Terrão, empurrados pela Fiel Torcida, pressionaram de todo o jeito. Pelo alto, por baixo, chutando de fora da área ou cruzando. Não foi à toa que, rapidamente, transformaram esse sufoco em bola na rede. Duas, para ser mais exato, em gols de Cauê e Danilo. Com 2 a 0 no placar, os times foram ao intervalo com estados de espírito completamente diferente.
Mas o futebol de base tem uma beleza intangível que, vez ou outra, se manifesta da melhor forma. No fim do dia, é um jogo feito por jovens, adolescentes, que ainda há pouco eram crianças que brincavam de jogar bola. Com uma leveza que cria coragem para acreditar no que for preciso, nem mesmo que pareça difícil. Foi assim com o Flamengo neste sábado..
O Rubro-negro voltou fulminante para o segundo tempo. Descontou rapidamente com o artilheiro Lázaro. No ataque seguinte, porém, viu o Corinthians ampliar com Cauê. O gol tinha tudo para ser um balde de água fria para o Flamengo. Mas os Garotos do Ninho não pareciam dispostos a abrir mão de suas chances na partida.
– O Flamengo passou por um momento difícil no início do ano (incêndio no Ninho do Urubu) e o mínimo que a gente pode dar é nossa superação. É a palavra que conduz o time. É característica do Flamengo, jogar com o coração na ponta da chuteira. Se não tiver, não consegue jogar aqui e acho que nossa equipe consegue se encaixar bem nisso – desabafou o meia Daniel Cabral.
Foi com esse espírito que o Fla foi buscar uma virada improvável. A resposta veio minutos depois, com Lázaro, agora de pênalti. Em 13 minutos vieram dois gols. O primeiro de Ryan Luka, deixando tudo igual, e Carlos Daniel, aos 23, para colocar o Flamengo na frente.
O técnico Phelipe Leal vibra com a virada do Flamengo
Créditos: Carlos Santana/Portal da Base Brasil
O esforço foi tanto que, sintomaticamente, vários jogadores foram ao chão com cãibras. A mistura entre superação, correria e juventude cobrou um preço no fim da partida. Esgotado fisicamente, o próprio Daniel Cabral, um dos destaques do segundo tempo, teve de sair de campo.
– O torcedor do Flamengo quer que a gente vá no nosso limite. Os jogadores saíram extenuados de campo. A gente sabe que o primeiro tempo que a gente apresentou poderia ter colocado tudo a perder, mas o que conseguimos fazer no segundo tempo mostra nossa força – resumiu o técnico Phelipe Leal.
Os jovens do Timão ainda correram atrás. Sentiram o pulsar da torcida, o calor da Fiel a empurrar, mas não conseguiram o empate. Não faltou disposição de lado a lado. O Flamengo ganhou o jogo, mas ainda está longe de ter vencido o Brasileiro Sub-17. Afinal, o futebol tem a sina de nos presentear com o que não se espera. Principalmente quando é jogado assim, com a juventude de quem não sabe dizer não aos próprios sonhos.
Corinthians teve grande exibição no primeiro tempo
Créditos: Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians