No primeiro semestre de 2019, o Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, recebeu 123 pássaros resgatados por órgãos ambientais ou pelas polícias Ambiental e Federal. Metade das aves foi vítima de tráfico e maus-tratos, apresentando condições críticas com membros amputados, asas cortadas, cegueira e dificuldade de voo.
Parte do roteiro turístico da cidade, o local é referência no Brasil em reabilitação e conservação de aves da Mata Atlântica. A diretora-geral (CEO) da unidade, Carmel Croukamp, explicou que o parque é o único no país com sala de emergência e Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) criados para garantir um atendimento qualificado e a preservação das 120 espécies e subespécies ameaçadas de extinção no bioma. A equipe que trabalha no local, composta por 120 funcionários, busca garantir a subsistência de aves com até 30 indivíduos remanescentes.
Do grupo, 40 profissionais ficam responsáveis pelos cuidados diretos com as aves. Dados da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) indicam que de cada 10 animais traficados, nove morrem antes de chegar ao destino final.
Segundo a médica veterinária e diretora técnica do parque, Paloma Bosso, o papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) é o principal alvo de captura na natureza para abastecimento do comércio ilegal no Brasil e no exterior. Ela contou que, ao longo de uma pesquisa de campo desenvolvida pela equipe do Parque das Aves, os funcionários verificaram que 85% dos ninhos monitorados dessa espécie foram saqueados durante o período de estudo.
“Embora o papagaio-verdadeiro seja classificado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) na categoria Pouco Preocupante quanto à ameaça de extinção, se não iniciarmos agora um trabalho preventivo o processo de extinção pode acontecer em pouco tempo”, explica Paloma.
Por causa da ampla ocorrência, em todo o território nacional e do fácil acesso ao papagaio-verdadeiro, muitos desses indivíduos são encaminhados ao Parque das Aves, mas, na avaliação da médica veterinária, o volume recebido não representa o total de aves resgatadas, já que outras instituições também trabalham com a reabilitação dessa espécie.
Como no Paraná não há um centro de triagem para aves resgatadas, os órgãos ambientais ficam responsáveis por receber e distribuir os animais conforme a capacidade das instituições parceiras. Para os próximos meses, o Parque das Aves já se prepara para a chegada de mais 128 aves, todas em situação de resgate.
História
O Parque das Aves foi criado em 1994 pelos pais de Carmel – Dennis e Anna-Sophie Croukamp – que decidiram expressar o amor aos pássaros com a fundação de um santuário. O casal recuperou uma área de 16 hectares de mata secundária para receber, inicialmente, espécies de diferentes partes do mundo.
Atualmente, o parque abriga mais de 1.500 aves de 150 espécies. A maior parte é composta por espécies do bioma local, mas há algumas aves exóticas sob os olhares dos funcionários da unidades. “Há dois anos descobrimos que uma ave do nosso quintal, que também vivia nas florestas do Iguaçu – uma pombinha chamada pararu-espelho -, tinha sido extinta e poucas pessoas repararam. Então, nós decidimos mudar tudo o que fazíamos e nos tornamos a única instituição no mundo focada em conservação de aves de Mata Atlântica”, conta Carmel.
A diretora-geral lembrou que a mudança foi uma decisão comercialmente difícil, já que o local se mantém da taxa de visitação turística (R$ 45) e as aves do bioma local não são tão atrativas quanto as exóticas para o público geral. “A Mata Atlântica tem muitas aves pequenas, marrons, que não são carismáticas, não são glamourosas. Tanto para o visitante, quanto para as pessoas que trabalham em conservação”, explica.
Com o passar do tempo, a preocupação deixou de existir e, hoje, o Parque das Aves recebe 830 mil visitantes ao ano. É a segunda maior atração turística de Foz do Iguaçu e perde apenas para as Cataratas.
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Edição: Carolina Gonçalves