A crise da peste suína na China deve impactar a dinâmica de exportações do Brasil ao longo do ano. A redução do rebanho no país asiático pode alavancar embarques de carnes e aumentar a demanda de soja no mercado interno.
“Tanto a peste suína quanto a guerra comercial com os Estados Unidos têm criado a expectativa de uma demanda maior da China pela carne brasileira. Há potencial de aumento de 242% nas importações se 25 novos frigoríficos forem habilitados para a exportação”, declarou o consultor em gerenciamento de riscos da INTL FCStone, Caio Toledo, nesta terça-feira (16) em evento da consultoria.
Ele explica que, no último ano, o aumento foi bem inferior porque apenas 15 frigoríficos brasileiros são autorizados para exportar para a China. “Havia a expectativa que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, retornaria com a primeira lista de novas unidades habilitadas de sua viagem à China, em maio, mas isso não aconteceu.”
De acordo com Toledo, o mercado esperava que o anúncio fosse então realizado durante a reunião do G-20, em junho, mas a ocorrência de um caso atípico de mal da vaca louca no Mato Grosso fez com que o processo recuasse. “Decidiu-se por rediscutir a questão, para que um problema isolado como esse não afete todos os frigoríficos liberados.”
Ele acredita que, pela necessidade chinesa, a questão deva ser solucionada no médio ou curto prazo. “A China precisa de carne. Com os EUA bloqueados pela guerra comercial, quem pode atender a demanda é o Brasil e a Austrália.”
Ele assinala que o mercado acredita que a lista de frigoríficos habilitados pode ser finalmente anunciada após a visita do presidente Jair Bolsonaro ao país asiático, prevista para ocorrer em agosto.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), as exportações totais de carne bovina cresceram 17% em receita no primeiro semestre do ano na comparação com o mesmo período de 2018, chegando a US$ 266,7 milhões. A China corresponde a 38,4% desse montante e aumentou o volume de importações de 296 mil para 317 mil toneladas no período.
As exportações de carne de frango alcançaram alta de 11,4%, com 2,045 milhões de toneladas embarcadas no primeiro semestre de 2019, conforme a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). A China incrementou suas compras em 22,6% no período, totalizando 257,9 mil toneladas.
As exportações de carne suína totalizaram 346,6 mil toneladas, volume 24,5% maior que o total embarcado no primeiro semestre de 2018. A China aumentou as exportações em 30,7% no período, com total de 91,2 mil toneladas. Os dados também são da ABPA.
Soja
De acordo com o governo chinês, os surtos de peste suína africana reduziram 23,9% de seu rebanho. Porém, o mercado especula que o número real pode ser o dobro disso. A situação tem um impacto direto na demanda do país por soja e milho, utilizados na alimentação dos porcos. “A China está comprando menos soja no volume total e o Brasil está exportando menos”, comentou a analista de inteligência de mercado da FCStone, Ana Luiza Lodi.
A estimativa é que o Brasil irá exportar 71,5 milhões de toneladas na safra 2018/19, número inferior ao recorde de 83,6 milhões registrados na temporada passado. “Os chineses deverão importar menos que o previsto”, destaca.
Para Toledo, a redução do rebanho chinês e o favorecimento das exportações de carnes brasileiras deverão aquecer o mercado doméstico por soja. “Essa demanda alta por carne pode alavancar a procura por soja e milho pelos pecuaristas brasileiros.”
De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia, o Brasil exportou 56,503 milhões de toneladas do complexo de soja no primeiro semestre, 1,8% acima do mesmo período de 2018. Porém, a receita caiu 9% no período e os embarques de junho apresentaram queda de 11,3% no volume e 24,6% em receita, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Ante maio de 2019, a redução foi de 15,8% no volume e 17,8% na receita.