Por Ana Carla Santos
Equipe Ascom
Foi em 1993 que a Universidade Federal do Amazonas chegou à região do Alto Rio Negro, levando conhecimento científico por meio das aula de Filosofia na graduação do então Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL), hoje, renomeado Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS). Três década depois, contabilizando algumas dezenas de turmas graduadas, acontecimentos históricos como os das colações de grau nas próprias comunidades, a Instituição estabelece neste 20 de março, um novo marco na educação na região: o início das atividades do curso de Pós-graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia a partir da aula inaugural proferida pela professora dra. Iraildes Caldas Torres, que também diretora do IFCHS. Na oportunidade, ela discorreu sobre a amplitude do “Educar para a Ciência: a pesquisa e a interdisciplinaridade”. Para ela, a pesquisa é “antes de tudo, um diálogo crítico com a realidade, uma constante para se obter um resultado oriundo da elaboração de diagnóstico e da capacidade de intervenção por parte de tomadores de posição, formadores de opinião e construtores do conhecimento”, contexto em que grande parte dos discentes está inserida.
Manifestação cultural
Na solenidade inicial que contou com a presença de representantes do legislativo e do executivo locais e lideranças indígenas, alguns momentos foram registrados a partir da manifestações ritualísticas dos alunos. Cânticos, danças e o dabukurí, que pode ser compreendido como a entrega de lembranças e frutos fizeram parte da programação durante a dança marcaram a atividade acadêmico-científica.
A comitiva da Universidade foi integrada pelo reitor Sylvio Puga, pela pró-reitora em exercício da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (Propesp), professora Adriana Malheiro e pelo coordenador do PPG, professor Nelson Noronha. À mesa da solenidade estavam ainda, o diretor da Foirn, Dário Casimiro, o bispo da cidade…Houve transmissão via youtube e também via meet, espaço especialmente dedicado aos professores que compõe o corpo docente do PPGSCA.
Nos pronunciamentos, a interiorização da Ufam e a valorização da identidade regional ante à construção do conhecimento foram as falas mais destacadas. O reitor, professor Sylvio Puga, foi quem iniciou os discursos.
“Hoje estamos vivendo mais um momento histórico ao lembrar que desde 1993 iniciamos na graduação e hoje passamos para outro nível da nossa missão. Tudo o que fizemos até agora, foi para nos fortalecer e chegarmos aqui. Inclusive, um dos primeiros professores à época, hoje coordenador do PPG, professor Nelson Noronha, está aqui conosco, vivenciando mais esta oportunidade. E ao passo que menciono os que deram sua contribuição, penso que seja importante citar o professor Paulo Pinto Monte como um entusiasta da Ufam no Alto Rio Negro. Essa semente foi lançada em campo fértil e fecundou, uma ideia que teve força e dominou mentes e corações”, frisou.
Puga continuou dizendo que diante da junção de forças, os resultados são tangíveis. “Não trabalhamos sozinhos e sem parcerias até conseguimos concretizar metas, mas podemos ir mais longe e mais rápido se os esforços se somam. Por isso, é oportuno e justo agradecer aos professores Heloisa Helena Corrêa, Artemis Soares, Gláucio Campos de Matos. Também enalteço o apoio das Forças Armadas, na pessoa do general de Brigada, Peixoto, sargentos Almeida e Matias e do soldado Rômulo, que possibilitaram a tradução das provas e em parte, na logística de apoio aos candidatos. Por fim, garanto aos novos alunos e alunas da Ufam que traremos grandes professores para fomentar as suas formações. A caminhada não será fácil, mas terá um retorno muito significativo para vocês, individualmente, e para a sua região. Será um aprendizado que deverá reforçar o papel social de vocês junto às suas comunidades quando da democratização do que vocês apreenderem”, ressaltou.
O coordenador do PPG, professor Nelson Matos de Noronha, salientou que o empenho na implantação do curso pioneiro em SGC não é um ato de generosidade, mas de compromisso com a luta e uma resposta à demanda indígena. “Esse curso visa garantir o exercício da cidadania, especialmente em tempos que estamos sendo obrigados a reiterar a seriedade e a eficiência das nossas instituições e, a ciência, a educação, são ferramentas poderosas nesse batalha da qual precisamos fazer parte”, disse.
Diretor da Federação das Organizações Indígenas, Dario Casimiro, agradeceu a cooperação recorrente da Universidade Federal do Amazonas com a causa indígena. “Existimos como organização há 35 anos e nos preocupamos em construir relações com aqueles que estejam imbuídos em lutar conosco. “A vinda do PPG em Sociedade e Cultura na Amazônia é fruto de planejamento, de uma construção coletiva no qual a Ufam esteve presente e comprometida. É uma devolutiva para os nossos territórios e para a nossa gente. Hoje é um dia muito importante, quando passamos a contar um novo capítulo da nossa história de luta”, considerou.
O vereador da Câmara Municipal de São Gabriel da Cachoeira, Messias Ambrósio, representante do Poder Legislativo parabenizou a Universidade e relembrou da pedra fundamental que é símbolo do intento da Instituição de se fazer presente no Alto Rio Negro. “A Ufam é eminentemente responsável pela formação dos nossos professores e de uma parcela importante de profissionais. O Parfor é exemplo disso, entregando professores para a região e levando educação escolar para os pontos mais longínquos do noroeste do Estado”, frisou.
Seguindo a mesma linha de pensamento, o vice-secretário municipal de Meio Ambiente de São Gabriel da Cachoeira, Carlos Ferraz lembrou que as dificuldades enfrentadas pelos locais em busca de qualificação profissional diminui com a presença da Ufam. “Agradecemos a iniciativa para formação de recursos humanos aqui, na própria sede ou nas comunidades de SGC. Quem já saiu daqui, sabe o quanto é difícil ter de se afastar da família em prol do aprimoramento, lidando com barreiras culturais, especialmente”.
A pró-reitora em exercício da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (Propesp), Adriana Malheiro., sentiu-se particularmente realizada pelas demonstrações de agradecimento dos alunos, que marcaram a solenidade de abertura. “Vamos trazer conhecimento científico, mas vamos aprender também na troca de saberes com vocês. Fazer ciência requer humildade e compromisso em produzir conhecimento com responsabilidade, sustentabilidade, crescimento regional com qualidade de vida, conservação da região e da identidade para que o conhecimento permeie o tempo e o espaço mas respeite o que é identitário”, observou.
A aula inaugural – “Pelo desenvolvimento a partir da formação de pesquisadores de excelência”.
A diretora do IFCHS, professora Iraildes Caldas Torres, palestrante da aula magna do PPGSCA disse que a iniciativa é uma realidade e vem para preencher lacunas histórico-sociais, ao mesmo tempo em que possibilita vislumbrar autonomia e valorização dos povos originários. “Só avançaremos no desenvolvimento local e regional se formarmos pesquisadores de excelência, cérebros pensantes (capital social) capazes de contemplar as problemáticas da região e propor estratégias para a elaboração de políticas públicas. A pós-graduação é esse ambiente e o qual os novos mestrandos ocuparão, dado que o caminho da educação é o que leva para o desenvolvimento nos moldes do que a sociedade dos povos originários anseia”, disse.
Estrutura do PPG em Sociedade e Cultura na Amazônia
Do primeiro contato com a Universidade, na atividade inicial do PPG, o reitor, professor Sylvio Puga, apresentou um breve histórico da Universidade e discorreu sobre a pós-graduação. De igual forma, deram suas contribuições, o coordenador da Pós-graduação, professor Nelson Noronha e a pró-reitora em exercício da Propesp, Adriana Malheiro.