A Secretaria de Estado de Infraestrutura e Região Metropolitana de Manaus (Seinfra), responsável pelas obras do Governo do Amazonas na capital e no interior do estado, possui no quadro de servidores a indígena Lindomar da Silva Vargas, da tribo Marubo, situada na cabeceira do Rio Curuçá, no Vale do Javari, no município de Atalaia do Norte, distante 1.138 quilômetros de Manaus, na região do Alto Solimões.
Formada em Administração Pública pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e em Gestão Pública pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM); com especialização em Planejamento Governamental e Orçamento Público pela UEA; Lindomar da Silva Vargas é assessora direta da Secretaria Executiva Adjunta de Administração e Finanças da Seinfra, desde 2019. Lindomar traz na bagagem, além da formação, a experiência de já ter chefiado o Departamento de Orçamento e Finanças da antiga Secretaria de Estado para os Povos Indígenas, a SEIND; e dirigido o Departamento de Programas e Projetos da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária – SEAP.
Visita aos Estados Unidos
Em 2009, Linda participou do Programa Mundial de Formação de Líderes Políticos, o Alumini Small Grants Announcement, nos Estados Unidos, por onde passaram nomes como os de Bill Clinton, Barack Obama e o também brasileiro e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
No evento, Linda participou de um encontro com o então Presidente Barack Obama, quando falou um pouco de seu povo e das políticas de estado voltadas para as populações indígenas na Amazônia brasileira. Na ocasião, Linda Marubo, como é conhecida, recebeu o convite para fazer Mestrado na Trachetenberg School Policy and Public Administration, da George Washington University, pelo Programa Mundial. O sonho do mestrado foi adiado por conta de uma gravidez.
História de vida da indígena
Primeira indígena a se especializar em Planejamento Governamental e Orçamento Público, Lindomar da Silva Vargas tem uma história pessoal emocionante, que mostra que com determinação e dedicação não existe obstáculo para a realização de seus sonhos.
Uma tradição de seu povo determina que o primeiro neném de um casal da tribo deve ser homem, para herdar os dons curativos do pai. Linda foi o primeiro bebê de seus pais e por ser mulher teria que ser morta, de acordo com os costumes da tribo. Sua mãe se opôs a essa tradição e salvou sua vida. Seu pai, entretanto, determinou que ela deveria se casar com um integrante da tribo que ela sequer conhecia.
Revoltada com o fato, ela fugiu de sua aldeia aos nove anos de idade e foi levada por um missionário para estudar em um colégio de freiras em Cruzeiro do Sul, no Acre.
Terminado o Ensino Fundamental no colégio de freiras, ela viajou para Porto Velho, em Rondônia, onde concluiu o Ensino Médio, vindo em seguida para Manaus, onde foi aprovada na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em 2006, para o curso de Administração Pública, concluindo em 2010.
Realizada profissionalmente e mãe de três filhos – Andreza, Marcos André e Marlon -, Linda tem como lema jamais desistir.
Segundo ela, “Ser mulher no Brasil não é fácil, mulher indígena então, é praticamente impossível, tanto que eu não ousava nem mesmo sonhar e hoje, ao olhar para trás e ver onde eu cheguei é ao mesmo tempo inacreditável e reconfortante”.
Considerada um exemplo para sua tribo e para sua família, Linda Marubo diz que nunca teve receio da vida, que sempre enfrentou todos os desafios, e que embora tenha colecionado algumas derrotas ao longo do caminho, também teve grandes vitórias, e o melhor de tudo, alcançou seus objetivos de vida. “Continuo lutando, mas agora sei perfeitamente por onde caminhar”, finalizou.
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Por Agência Amazonas
FOTO: Divulgação/Seinfra