Em artigo publicado na revista Comunicação e Inovação, o professor da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC), Renan Albuquerque, verificou que graças a sua rede de comunicação e seu modo de vida, os Sateré-Maué conseguiram minimizar os efeitos da pandemia em sua população.
Pesquisador dos Sateré-Maué há dez anos, por meio do grupo de pesquisa Núcleo de Estudos e pesquisas em Ambientes Amazônicos (Nepam), o professor afirma que os Sateré perceberam o quanto estar informados sobre a covid-19 e a pandemia poderia fazer a diferença entre ser muito ou pouco impactados pela doença.
“O Estado do Amazonas vive um processo de negacionismo, segundo a ONU, então, o problema da desinformação é crônico e cada vez mais não vem sendo resolvido, então, os indígenas resolveram, por suas próprias ações, realizar esse trabalho entre a sua população. E, então, colocaram as rádios comunitárias das aldeias para trabalhar melhor, assim como a rádio Yandê, uma web rádio, instalada no Sudeste do Brasil, e ela distribui informação para todos os povos indígenas do Brasil”, explica.
De acordo com o pesquisador, a decisão tomada pelos Sateré foi totalmente acertada, pois evitou o alastramento do vírus, protegendo vidas, portanto. “A gente verificou que, conforme a comunicação foi tomada pelos próprios indígenas como ação estratégica, de proteção, a gente notou uma coisa muito importante que foi ver o quanto a boa informação, as boas práticas de comunicação, ajudaram na contenção do espalhamento da covid-19. A gente nota que a informação comunitária, de base originária indígena, ajudou muito no processo de contenção, tanto é que até o fim de junho, começo de julho, praticamente não existia casos de Covid-19 entre indígenas. A gente notou que quando esse sistema de informação foi montado, isso só ajudou”, detalha Renan Albuquerque.
Além da informação, os Sateré contaram com o seu próprio modo de vida para ajudar no combate à pandemia. “A vivência Sateré é uma vivência de base nativa, de base indígena. As pessoas ainda caçam, pescam, plantam suas hortas, vivem em casas coletivas e esse modo de vida foi fundamental para que eles pudessem ficar isolados na Terra Indígena Andirá-Marau” revela. “Esse isolamento foi necessário para a contenção, mas, claro, eles não puderam ficar isolados por muito tempo por falta de assistência do Estado. A Terra Indígena Andirá-Marau tem muito peixe, muita caça, mas às vezes, falta um remédio, uma consulta e aí alguns deles tinham que vir para a área da cidade e foi isso que enfraqueceu a contenção do espalhamento da covid-19. Mas até fim de julho praticamente nenhum indígena havia sido contaminado”, conclui.
A Terra Indígena Andirá-Marau, está localizada no Baixo Amazonas, Amazônia Central, há 353 km da capital, Manaus.