A medicina legal é estruturada em diversas áreas e uma delas é a Antropologia Forense. No Instituto Médico Legal do Amazonas (IML), o núcleo especializado nesse ramo científico, formado por médicos legistas e peritos odontolegistas, vem ampliando a capacidade de identificação de pessoas com o uso de tecnologia e de um comportamento que está na moda, a fotografia selfie.
As fotos que inundam redes sociais estão sendo usadas para confirmação de identidade de corpos em avançado estágio de decomposição.
No campo medicina legal, a Antropologia Forense se concentra no trabalho de identificação de corpos localizados em decomposição. Sejam de vítimas de mortes violentas ou de acidentes, esses corpos localizados pela polícia enterrados ou nos rios e igarapés precisam de uma confirmação legal de identidade, o que ajuda a aliviar a dor de familiares e amigos e, sobretudo, no esclarecimento do fato.
O trabalho pericial requer atenção de detalhes e tempo. Todo ser humano é único. Segundo estudos científicos, não existem duas pessoas com as mesmas digitais papiloscópicas, a mesma estrutura óssea ou idêntica arcada dentária. A partir do perfil biológico, é possível estimar o sexo, idade, estatura e ancestralidade do cadáver ou mesmo de um ser vivo.
Existe uma grande distinção entre o “reconhecimento” e a “identificação” de uma vítima. Seria muito fácil e rápida a liberação de um corpo e, consequentemente, a elucidação de um crime somente pelo reconhecimento. É preciso a identificação científica do cidadão.
De acordo com a perita odontolegista Ligia Melissa, do IML, há três métodos primários para identificação de um ser humano. O papiloscópico, a análise da arcada dentária e através do DNA. Em alguns casos, o resultado pode levar até três meses para ser concluído.
O método papiloscópico consiste na coleta de digitais da vítima para comparação com os arquivos do Instituto de Identificação do Amazonas. Pela arcada dentária, são analisados detalhes da boca. Nesse método, desde a extração do dente ao exame de imagem odontológico facilita e acelera o processo. Com a análise do DNA, processo que pode levar entre dois e três meses, amostras do osso são analisadas para a comparação genética.
“Só o reconhecimento não é válido, que na realidade é um método secundário, por isso a importância do estudo antropológico na investigação, que elimina possibilidades”, explica.
Hoje em dia, a maioria da população possui e faz uso da câmera do celular para fazer registro fotográfico – as famosas selfies. Essas imagens têm contribuído no trabalho dos peritos odontolegistas do estado. Em boa qualidade e mostrando toda a formação dentária, as fotografias são excelentes aliadas dos estudos antropológicos.
A perita odontolegista Isabella Goetten realizou, pela primeira vez no Amazonas, a identificação de um caso através da linha do sorriso com base em uma selfie. Ela conta que foi feito um desenho inferior do sorriso da vítima e, posteriormente, do superior para a comparação.
“Infelizmente, em muitos casos, a família não possui a documentação do prontuário odontológico necessário para fazer o confronto. Estamos realizando no IML o que chamamos de identificação pela linha do sorriso. A família traz várias fotos da pessoa em vida, onde aparece o sorriso, e tentamos fazer a comparação com os dados coletados no cadáver, elaborando uma sobreposição de imagem, delineamento do sorriso e assim, podendo identificar o suposto com o familiar daquela pessoa”, explica Isabella.
“Com a técnica do delineamento desenhado digitalmente e comparado ao do cadáver foi possível concluir o caso”, acrescentou.
Para a identificação da idade de infratores, o estudo antropológico utiliza, ainda, a análise de imagem através do punho e da arcada dentária. Outras técnicas são pelos seios faciais, métrica e fisiológica.
“A relevância do trabalho antropológico precisa ser conhecida, muitas vezes, a família de um desaparecido, por exemplo, não compreende a espera da análise minuciosa que é sucedida”, resumiu.