Por Márcia Grana
Equipe Ascom Ufam
Assuntos como Energia, Mecânica e Eletricidade parecem mais complexos quando não contam com a prática laboratorial. Atentos ao fato de que a maioria das escolas públicas não possuem estrutura adequada para aulas experimentais de Física, Química e Matemática, professores do Departamento de Física da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) desenvolvem, desde 2004, o Projeto de Extensão Casa da Física, que utiliza aulas práticas para o aprofundamento dos temas de Ciências Exatas ministrados a alunos dos ensinos fundamental e médio das escolas públicas de Manaus.
Pandemia como desafio
Os encontros da Casa da Física eram realizados aos sábados, no Setor Sul do Campus Universitário Arthur Virgílio Filho e contavam com o oferecimento de aulas teóricas e experimentais de Ciências, Matemática, Física e Química, além de projetos envolvendo robótica, microbit (computador de placa única utilizado para ensinar conceitos básicos de computação e programação) e Arduino (plataforma eletrônica open-source que se baseia em hardware e software flexíveis e fáceis de usar para criar objetos ou ambientes interativos), mas a suspensão das atividades presenciais na Universidade, em virtude da pandemia de covid-19, foi um verdadeiro balde de água fria no lazer científico dos mais de 412 alunos inscritos nas atividades do projeto.
Solução on-line
Mas para todo problema existe uma solução e o desafio foi vencido. A coordenadora do projeto, professora Daniela Menegon Trichês, conta que os monitores das atividades da Casa da Física – graduandos e pós-graduandos de vários cursos da Ufam, do Instituto Federal do Amazonas e da Universidade do Estado do Amazonas – lançaram a proposta de que as aulas fossem ministradas por videoconferência. “Fizemos uma pesquisa junto aos pais e alunos matriculados para saber o nível de acessibilidade à Internet e sondar o interesse em participar de atividades on-line da Casa da Física. Para nossa surpresa, dos 412 alunos matriculados, 355 manifestaram muito interesse em participar, principalmente porque parte deles estava com dificuldade para acompanhar as aulas da rede pública veiculadas pela TV aberta e pela Internet. Então, com a orientação do professor Thierry Gasnier, docente do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e colaborador da Casa da Física, iniciamos, no dia 23 de maio, as aulas por videoconferência”, detalha a coordenadora do Projeto.
Com o suporte das plataformas on-line Zoom e Meet, já foram realizados seminários sobre o novo coronavírus, experimentos dirigidos sobre fluidos, jogos de matemática e rodas de conversa sobre as principais dificuldades enfrentadas pelos alunos nesse período de isolamento. Durante a semana, os alunos interagem com os monitores via grupos de WhatsApp e têm a oportunidade de tirar dúvidas das aulas do ensino regular.
Isolamento social com conhecimento e diversão
Uma das participantes do Projeto Casa da Física é a aluna do oitavo ano do Ensino Fundamental do Centro Educacional Inteligente, Johanna Vesenick. Ela ressalta como a versão virtual do Projeto Casa da Física tem acrescentado conhecimento e diversão a sua rotina durante o isolamento social recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para conter a pandemia de Covid-19. “A experiência atual com as aulas on-line da Casa da Física tem sido boa porque, mesmo estando em casa, posso aprender de maneira prática. Na atividade da aula passada, o objetivo era inovar, com a apresentação de um tipo de proteção para o rosto. Utilizamos materiais que temos em casa, como garrafa pet e pastas que não usávamos mais. O divertido foi que pudemos logo testar a máscara, o resultado do nosso trabalho”, declarou a aluna.
Oportunidade de aprendizado das metodologias de EAD
A iniciativa de promover os encontros virtuais também é uma excelente oportunidade para que os graduandos das licenciaturas em Física, Química, Matemática e Ciências Naturais envolvidos no projeto possam lidar diretamente com as metodologias da educação a distância e com a aplicação das mesmas no ensino básico. “Como discente, já tinha participado de alguns cursos na modalidade EAD, então já estava adaptada ao papel de aluno nesse ponto. Porém, com a inversão dos papéis e assumindo o papel de professor, confesso que as coisas realmente são bem diferentes. Arrisco dizer que o início é a parte mais difícil, desde o ato de planejar a aula até a execução da mesma, pois tentar converter todo um plano de aula feito para o ensino presencial é complicado, porém não impossível. A partir do momento que conseguimos idealizar o quanto a tecnologia nos ampara, é possível fazer muita coisa estando no conforto da nossa casa. O papel do professor na modalidade EAD fica mais amplo, pois além de fazer as aulas, nós temos que testar aplicativos, verificar se todos os nossos alunos são compatíveis com a modalidade e fazer com que todos tenham um bom rendimento e uma boa adaptação. Como monitora de física e de inovação da Casa da Física, estou bastante satisfeita com o feedback dos alunos em relação às aulas. Estamos tentando manter tudo leve para que a adaptação a esse formato seja fácil e não maçante, pois além das nossas aulas, nossos alunos possuem as aulas do ensino regular durante a semana”, ressalta Rayane Sousa, monitora da Casa da Física.
Experiência marcante
Além de monitor da Casa da Física, o graduando Jonathas Souza Pinheiro é o coordenador de Inovação do Projeto de Extensão. Ele afirma que a Casa da Física on-line é uma experiência marcante tanto para estudantes universitários quanto para os participantes dos ensinos fundamental e médio. “A Casa da Física on-line nos leva a testar nossas capacidades de ensino a distância e identificar quais ferramentas tecnológicas podem nos auxiliar no processo de testes para aulas práticas e teóricas virtuais. A interação dos estudantes do ensino fundamental e médio com os professores (monitores) tem sido motivante, pois interagimos com as particularidades e dificuldades de cada indivíduo. Mesmo que todos sejamos impelidos a entrar no mundo digital, nossa experiência prova que, com os recursos certos, somos capazes de usufruir dos auxílios que a revolução 4.0 trouxe, principalmente na educação. Isso nos faz refletir também sobre as desigualdades sociais gritantes na educação e na necessidade de adotarmos novas soluções para diminuir tais diferenças e injustiças”, conclui o coordenador de Inovação do Projeto Casa da Física.