Dados foram apresentados na Defensoria Pública do Estado, em evento voltado à saúde mental em tempos de pandemia
Em 2019, 124 pessoas se suicidaram no Amazonas e, no primeiro semestre de 2020, o número de suicídios no estado passa de 60, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP/AM). Estas são algumas informações compartilhadas pela psiquiatra Alessandra Pereira e pela psicanalista Mônica Portugal no evento “Sem saúde mental, não há saúde”, realizado pela Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM), na manhã de quinta-feira, 24, para tratar dos cuidados com a saúde mental. As especialistas também alertaram para o risco maior de adoecimento mental na pandemia de Covid-19.
O evento foi realizado de forma híbrida, com a presença das duas especialistas, defensores públicos e servidores, na sede da Defensoria, e com transmissão pelo canal da instituição no YouTube. O número de participantes presenciais foi limitado para cumprimento de medidas de segurança que visam minimizar os riscos de contágio pelo novo coronavírus.
Médica psiquiatra e membro da Associação Brasileira de Estudo e Prevenção do Suicídio, Alessandra Pereira falou sobre os sentimentos de desvalorização, desamparo e desesperança, que estão mais comuns e exacerbados no contexto da pandemia, e abordou ainda questões como a maior vulnerabilidade de crianças, adolescentes e idosos, além das pressões sociais que podem contribuir para o adoecimento.
Ao abordar sintomas que estão mais comuns no contexto de pandemia, a psiquiatra apresentou dados recentes de pesquisas em todo o mundo, que apontam grande percentual de pessoas com algum tipo de adoecimento mental. A médica informou ainda os dados da SSP sobre suicídio no Amazonas, que apontam números expressivos de casos neste ano, quando, somente no primeiro semestre, mais de 60 pessoas se suicidaram. No ano passado, segundo o dado da SSP apresentado pela psiquiatra, houve 124 registros de suicídio no estado.
“O que nós precisamos é nos desconectar desse ritmo acelerado em que vivemos hoje, nos conectar mais com os que amamos, mesmo que virtualmente, de forma individualizada, pessoal, e tentar encontrar a nossa forma, aquela que serve para nós, e não aquela que tentam nos impor”, disse Alessandra Pereira, durante a palestra.
Isolamento – A psicanalista Mônica Portugal, mestre em educação pela Universidade Federal do Ceará e autora do livro ‘A Formação do Analista: um sintoma da Psicanálise’, falou sobre o entendimento de saúde mental e física como uma coisa só, interligada, interdependente. A especialista também abordou questões, como o sentimento de isolamento, que já se fazia presente antes e que a pandemia tornou mais evidente.
Mônica Portugal também ressaltou que o discurso de individualismo da sociedade pode ser prejudicial porque o ser humano não é um ser isolado, em bolhas, e precisa do outro, do reconhecimento, do acolhimento do outro.
“Talvez, a palavra-chave seja ouvir. É preciso escutar o outro, escutar a comunidade. E aqui é preciso diferenciar o ouvir do escutar. Ouvir implica que você seja tomado por aquilo. Precisamos ter algo de reconhecimento da comunidade, pelo outro. Esse mecanismo dá algum sentido à vida. E ele parte do outro”, afirmou a psicanalista.
Reflexão – Para o defensor público geral, Ricardo Paiva, a pandemia e o chamado ‘novo normal’ a que estamos sendo obrigados a vivenciar, trouxeram uma série de dificuldades que exigem um maior cuidado com a saúde mental, e a campanha Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio, ganha assim uma importância maior.
“O Setembro Amarelo é um mês de reflexão. Que nós possamos fazer uma higiene mental, refletir sobre tudo aquilo que tem acontecido neste ano”, disse o defensor geral, aos participantes do evento. Também participaram do evento o subdefensor geral, Thiago Nobre Rosas, o defensor da Saúde, Arlindo Gonçalves, e servidores e defensores públicos.