Uma programação interna com os usuários acolhidos marcou o aniversário de 27 anos da Casa do Migrante Jacamim, na última quarta-feira (20/05). Sem festa, para evitar aglomeração de pessoas, o evento teve troca de relatos de experiência entre os usuários, apresentação da trajetória do serviço de acolhimento, e a reafirmação do compromisso da casa em executar o serviço essencial, mesmo durante a pandemia de Covid-19. O acolhimento imediato e emergencial, na modalidade casa de passagem, é um dos serviços socioassistenciais oferecidos pelo Governo do Amazonas para atender o cidadão em situação de vulnerabilidade.
Administrada pela Secretaria de Estado de Assistência Social (Seas), a casa situada na avenida Mário Ypiranga Monteiro, no bairro Flores, zona centro-sul, desde sua instalação se distingue por ter um fluxo rápido, uma vez que recebe indivíduos em trânsito, seja de nacionalidade brasileira, seja estrangeira, com uma permanência máxima de 90 dias. O local foi estruturado para receber no máximo 50 pessoas.
“Foi um momento de partilha, alegria, gratidão, registro fotográfico das famílias e reafirmação do compromisso do Governo do Amazonas, por meio da Seas, de executar a política de assistência social através do Jacamim”, disse a diretora do Jacamim, Soraya Bezerra de Araújo, sobre o aniversário, ressaltando ser gratificante ouvir dos usuários que a casa de passagem é um porto seguro, local de referência em Manaus.
Atividade essencial – Mesmo com a pandemia de Covid-19, assinala a diretora da Casa Jacamim, o planejamento anual de atividades na unidade não foi interrompido, sendo respeitadas as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) relativas a procedimentos de combate ao vírus. Além da conscientização sobre a doença, os migrantes que chegam ao local vão direto para o lavatório, onde lavam as mãos, mudam de roupas e recebem um frasco de álcool em gel para se manterem higienizados.
“Não deixamos de atender. O serviço continua acontecendo por ser essencial a essa parcela da população, porém, agora passou a ter uma conotação diferente”, afirma Soraya.
Em virtude da disseminação do coronavírus, a Seas, por meio do Jacamim, redobrou as atenções para atender as pessoas em vulnerabilidade social que se encontram em trânsito, neste período de pandemia. Soraya Araújo explica que tudo mudou, incluindo os espaços coletivos, que foram reorganizados, e a maneira de acolher, que nesse momento segue procedimentos de segurança como forma de resguardar a integridade e a saúde dos acolhidos.
Segundo a diretora, ao chegarem a Manaus os migrantes hoje passam por um período de isolamento no Centro de Convivência da Família Maria de Miranda Leão, situado no Alvorada, uma das três bases de acolhimento provisório criadas pelo Governo do Amazonas, por meio da Seas, para atender moradores em situação de rua. Após 14 dias, são avaliados por um médico e por uma equipe psicossocial do centro e, se estiverem no perfil da Casa do Migrante Jacamim, são encaminhados para lá ou para outro espaço.
“A casa redobrou as atenções para atender o cidadão em vulnerabilidade social neste período de pandemia”, garante Soraya Araújo.
Ambiente conciliador – Considerando que o isolamento pode ser angustiante por diversos motivos, principalmente para pessoas que estão fora do domicílio e até do país de origem, o corpo técnico da Casa Jacamim, formado por assistentes sociais e psicólogos, tem realizado várias atividades com os usuários, como rodas de conversa a diálogos sobre a temática, visando melhorar a convivência no ambiente e as questões emocionais. “Temos mostrado para eles que a quarentena pode interromper a propagação da pandemia e salvar vidas”, sintetizou a diretora.
Para a venezuelana Yeliannis Del Valle Zambrano Lira, a ida para a Casa Jacamim foi o que de melhor aconteceu em sua vida nos últimos quatro meses. Vivendo em situação de rua desde que chegou a Manaus, grávida, ela disse que ao sair da maternidade, com seu bebê nos braços, foi encaminhada para o abrigo. “Aqui estou sendo muito bem tratada, alimentada, e ainda estou podendo fazer o acompanhamento médico com meu filho. Só tenho a agradecer pela ajuda recebida e pela solidariedade de todos os funcionários da casa, que são muito atenciosos”, disse.
Outra venezuelana, Eliana Hernandez Gonsalez, que se encontra no Jacamim juntamente com o marido e a filha, expressou ser grata pelo serviço oferecido no local. Há dois meses em Manaus, com o fechamento dos aeroportos, ela e a família não tiveram como retornar ao país de origem. “Estamos sendo alimentados, bem tratados”, assegurou. “Temos uma rotina diária muito boa”.
Assistência Social – A Casa do Migrante Jacamim tem como público-alvo os migrantes estaduais, nacionais e internacionais. A casa oferece cinco refeições ao dia – café da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia, por meio de contrato de fornecimento de alimento com uma cozinha terceirizada, especializada, que faz toda a manipulação, preparação e ainda serve o alimento. Atualmente, a maior parte dos usuários da casa é de venezuelanos, que se encontram em situação de rua.
Antes da pandemia, o fluxo de entrada e saída na Casa do Migrante era muito grande. Das 50 vagas ofertadas, 20 eram destinadas aos migrantes brasileiros, outras 20 para estrangeiros, e as dez vagas restantes eram utilizadas por pessoas que fazem Tratamento Fora do Domicílio (TFD), que vêm de outros municípios amazonenses e até de estados da região Norte, para fazer tratamento de saúde em Manaus.
Soraya avalia que a casa é de extrema importância, principalmente para o usuário que vem dos municípios, de outros estados, porque dá suporte não só de moradia e alimentação, mas de acompanhamento técnico.
“Nós acompanhamos todas as demandas de quem chega na cidade não tem onde ficar; de quem precisa fazer o seu tratamento de saúde fora do domicílio; de quem está em trânsito ou está desabrigado. A casa acolhe e identifica as demandas, faz todo o acompanhamento e a pessoa recebe também o acompanhamento psicossocial, que vai dar embasamento para que ela possa compreender inclusive o seu processo e estar caminhando a partir disso e seguir o seu destino”, assinalou a diretora do Jacamim, frisando que muitas pessoas chegam sem perspectiva e a partir dos atendimentos passam a ter um olhar para a casa para além de um espaço de acolhida.