A diversidade das cadeias produtivas do Amazonas está sob permanente acompanhamento do Sistema Sepror. Formado pelo Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam), Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Amazonas (Adaf), Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (ADS) e coordenado pela Secretaria de Produção Rural do Amazonas (Sepror), o sistema tem intensificado inclusive o apoio à produção em unidades de conservação, a exemplo da cultura do cacau encontrada em municípios do interior do estado, responsáveis pelo abastecimento da capital.
Dados do IBGE, de 2018, mostram o Amazonas produzindo 689 toneladas de amêndoa de cacau, ocupando o quinto lugar no país, precedido pela Bahia, Pará, Espírito Santo e Rondônia. Cerca de 95% do cacau produzido no estado é de origem silvestre e atende às condicionantes de conformidade orgânica.
Já em 2019, de acordo com dados do Idam, o estado produziu 998 toneladas de cacau, beneficiando 1693 produtores. Nova Olinda do Norte, Maués e Urucará foram as cidades que mais produziram a fruta no ano passado.
“No caso do Amazonas, nós temos uma particularidade em relação ao resto do mundo. Nós produzimos cacau silvestre manejado de forma sustentável em unidade de conservação, feita por produtores familiares. Isso é ímpar. Isso só nós temos aqui. Cacau de qualidade, sendo industrializado por uma indústria local. Com excelente qualidade no seu produto e sendo reconhecida internacionalmente”, destacou o diretor- presidente do Idam, Valdenor Pontes Cardoso.
De olho neste potencial oferecido pelo Amazonas, uma família paraense decidiu ser a pioneira a investir na indústria cacaueira exclusivamente regional. O projeto começou a ser formatado, em 2013, a partir de informações obtidas sobre a cadeia do cacau na Feira do Cacau de Urucurituba e foi concretizado anos depois, com a instalação da empresa Na’kau Chocolate Amazônico.
Sobre a Na’Kau- Instalada desde janeiro de 2017, em Manaus, no bairro Gilberto Mestrinho, a empresa produz aproximadamente meia tonelada de chocolate por mês, com projeto em andamento para chegar a 15 toneladas de Cacau mensais, entre amêndoas e chocolate, segundo informou o fundador da empresa, biólogo e mestre em Sustentabilidade, Artur Bicelli Coimbra. A chocolataria apresenta um portfólio composto de vários sabores com base em quatro ingredientes primários (amêndoa de cacau orgânica, açúcar demerara orgânico, manteiga de cacau orgânica e leite de coco orgânico) e outros quatro ingredientes secundários (polpa de cupuaçu desidratada, castanha da Amazônia, café Apuí e pimenta Baniwa), que formam os chocolates em embalagens de 5, 40 e 80 gramas.
Artur Bicelli fala com orgulho do sistema adotado por sua empresa, cuja produção atual abrange mercados permanentes, como o do Japão (venda de cacau fermentado e seco), dentro de um protocolo de pós-colheita desenvolvido no Amazonas para o cacau selvagem, que permite a produção de um excelente produto também exportado para os Estados Unidos. “Não temos rede de lojas próprias, mas entregamos nosso cacau genuinamente amazonense em 200 pontos de venda, em Manaus, e mais 16 estados. Mantemos as vendas permanentes para Japão e EUA e atendemos de forma pontual alguns países europeus”, informou.
Matéria-prima – “Nossa matéria-prima vem de 32 produtores familiares exclusivos do interior do Amazonas, com os quais, só este ano, já negociamos oito toneladas de cacau, operando com recursos próprios e financiamento da Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam) e do Programa Idesam (do Instituto de Desenvolvimento da Amazônia)”, explica Bicelli, cuja empresa também sofreu os efeitos da pandemia provocada pela Covid-19 e foi obrigada a reduzir, mesmo que temporariamente, seu quadro de funcionários.
Para ajudar na captação de recursos a fim de enfrentar a situação econômica atual, a Na’kau Chocolate Amazônico criou uma campanha que já é sucesso, oferecendo kits de seus produtos a preços diferenciados, os quais podem ser adquiridos através da rede social Instagram: @chocolatenakau.
“Os produtos da Na’kau passam por rigorosas fiscalizações de qualidade feitas por órgãos de controle municipal, que analisam o cacau desde sua origem até ser considerado pronto para comercialização, seja em amêndoas ou processado, como o mais puro chocolate”, ressalta o fundador da empresa.
Acerca do relacionamento empresa-fornecedores, Artur Bicelli comenta: “Não queremos ser apenas uma empresa socioambiental convencional. Pagamos valores justos aos cacauicultores para que aquelas famílias possam satisfazer suas necessidades econômicas e com isso, diminuir eventual interesse em extrair ilegalmente outros recursos naturais para complementar a renda. Todos fazem parte de um programa que motiva permanecerem na cadeia do cacau cada vez mais focados em ampliar suas áreas de plantio. Estabelecemos uma parceria em que os produtores estão fazendo parte de nossa história, mostrando que cada um deles é importante neste processo”, informou.
Ele frisou ainda que os produtores recebem treinamento, financiamento de equipamentos, construção de locais de fermentação e secagem de cacau (chamados tendais) e ainda, maquinário, tudo restituído em valores representados pelos produtos que nos fornecem. E periodicamente, durante três vezes ao ano, cada agricultor familiar recebe nossa visita. “Queremos ver de perto como está a realidade de cada um”, completou.