Oficinas de pintura em vasos de cerâmica, bordado, crochê e uma série de atividades culturais fazem parte da rotina da base emergencial de acolhimento provisório do Centro Educacional de Tempo Integral (Ceti) Áurea Pinheiro Braga, no bairro da Compensa, zona oeste de Manaus, onde se concentram 120 pessoas em situação de rua.
Uma das oficinas foi a de pintura de vasos de barro, que foi realizada na tarde desta segunda-feira (27/04) e envolveu 20 abrigados. A coordenadora da base, Ana Paula Angiole, que é gerente da Alta Complexidade da Seas, explicou que o objetivo é integrá-los em atividades que possam reduzir o nível de ansiedade.
“A maioria das pessoas que estão aqui são adictas e, sem o uso de substâncias químicas, ficam nervosas e entram no processo de abstinência, com irritabilidade e muita ansiedade. Verificamos que é muito necessário desenvolver atividades para que eles possam se integrar mais ainda, ocupando a mente e se libertando do processo da ansiedade”, acentuou.
Uma forma de extravasar os sentimentos. Para o artesão Flávio Soares de Aguiar, que trabalha com artesanato e pintura, a atividade é uma forma de libertar a imaginação e de passar o tempo de maneira saudável. “Eu gosto dessas atividades porque aproveito para fazer coisas criativas, e assim o tempo passa mais rápido”, explicou.
Acostumado a viver nas ruas de Manaus, ele disse que no abrigo é necessário exercitar o convívio com as diferenças, uma vez que cada situação gera uma reação, tornando necessário interagir de forma harmoniosa. “Estamos sendo bem tratados, temos alimentação, higiene, palestras, e ainda temos ao nosso dispor uma oficina para desenvolvermos atividades de pintura”, disse.
Além de evitar a ociosidade, a oficina tem com o objetivo estimular a interação e o bom convívio entre os abrigados. Uma das participantes é Thisianna Caresto, de 36 anos, que gosta de fazer crochê e bordar, atividades que aprendeu nos abrigos e clínicas por onde passou. Nas ruas desde os 12 anos, ela se tornou dependente química. Disse que há vários anos vem tentando se libertar da adicção às drogas, uma doença crônica como outra qualquer que afeta o indivíduo a longo prazo. “O trabalho na oficina tem me ajudado a ocupar a mente”, disse.
A assistente social Andréa Santos, uma das responsáveis pelas atividades coletivas, reforça que essas ações geram segurança, credibilidade e fortalecem os vínculos. “Durante esse período em que os moradores em situação de rua estiverem dentro do Ceti, dedicaremos um dia na semana a essa atividade de pintura, esporte e interação”, garantiu. Ela comentou ainda que, enquanto vão decorando os vasos, os abrigados compartilham suas vivências de forma leve, o que contribui para o convívio social naquela unidade.
Parcerias fundamentais – Para a titular da Seas, Márcia Sahdo, a parceria com vários órgãos do Estado e do município e com as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) que recebem fomento do Estado é de fundamental importância para essas pessoas que, além das refeições, têm direito aos serviços feitos nos abrigos. Ela disse que após serem identificados, os abrigados são encaminhados para programas do governo estadual e federal, além do atendimento psicossocial e de saúde.
“Têm sido algo grandioso essa parceria com os demais órgãos e o envolvimento da sociedade civil, que está contribuindo com a campanha de arrecadação de kits de higiene, alimentação, para manter toda a estrutura funcionando”, disse.
A base criada pelo Governo do Amazonas é coordenada pela Secretaria de Estado de Assistência Social, em parceria com as secretarias de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc), de Educação e Desporto e de Segurança Pública (SSP-AM), e com o Fundo de Promoção Social e Erradicação da Pobreza (FPS), além de entidades socioassistenciais e órgãos do município.
Além das atividades lúdicas, o espaço oferece três refeições diárias (café, almoço e jantar), higienização, roupas limpas e acomodação para dormir para 120 pessoas em situação de rua.