“Temos que pensar em todos”, diz Sylvio Puga sobre volta às aulas na Ufam
Reitor falou sobre a contribuição das unidades acadêmicas no enfrentamento à Covid-19 e o papel da universidade na produção de conhecimento científico
Com as atividades administrativas e acadêmicas presenciais suspensas enquanto durar a pandemia de coronavírus no Estado, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) adotou, em caráter excepcional, Atividades Extracurriculares Especiais (AEE) através de ferramentas de Tecnologias de Informação e Comunicação. O reitor da Ufam, professor Sylvio Puga afirmou que essas atividades iniciaram no dia 4 de maio através da adesão voluntária de professores e estudantes.
De Acordo com a portaria de nº31 da Ufam, AEE consistem na participação em cursos, eventos, programas e projetos acadêmicos, atividades de extensão e outras de ensino, extensão e pesquisa na graduação, a critério da coordenação do curso. Além do planejamento de teleaulas, fóruns seminários virtuais, uso de bases e bancos de dados entre outras adotadas pelo docente responsável pela atividade.
Em entrevista por e-mail para A Crítica, o reitor falou sobre planejamento para retomada das aulas, a contribuição das unidades acadêmicas no enfrentamento da Covid-19 e o papel da universidade na produção de conhecimento científico. A seguir a entrevista:
A Crítica – A medida não significa o retorno às aulas? Na prática, o que seria?
Sylvio Puga – O retorno às atividades presenciais dar-se-á de forma gradativa e em observância às recomendações das autoridades sanitárias do Brasil e do Amazonas, com parecer técnico do Comitê Interno de Enfrentamento à Pandemia da Ufam. Todavia, a Pró-Reitoria de Ensino e Graduação verificou a necessidade de manutenção mínima de atividades extracurriculares , em caráter excepcional, durante o período de isolamento, como forma de minimizar problemas de saúde mental e adiantar estudos pela oferta por meios digitais e tecnologia de informação e comunicação, sem prejuízo para os que não aderirem.
AC – Como estimular a participação?
SP – A flexibilização da proposta atrela adesão voluntária de professores e estudantes. O maior estímulo vai ser o aproveitamento de estudos para disciplinas do currículo ou atividades complementares e ao final, ambos, professores e alunos concluírem para que haja aprendizagem.
AC – Por que a Ufam não adotou aulas na modalidade de Ensino à Distância (EAD)?
SP – Ufam é uma universidade multicampi, instalada em Manaus e nos municípios de Itacoatiara, Coari, Humaitá, Benjamin Constant e Parintins. Logo, temos que pensar em atender a todos para ofertar EAD. Para tanto é necessário ter infraestrutura, recursos humanos capacitados e previsão legal nos projetos pedagógicos de cursos e, principalmente, acessibilidade, por internet nas casas dos estudantes, dispositivos (computador, tablet ou telefone celular) pelos estudantes, que professores e estudantes dominem as plataformas digitais. Esse momento vai instaurar um debate nas universidades sobre esse tema, que com certeza será importante para a sociedade. Há de se pensar no mundo “pós-covid” e este tema estará na agenda.
AC – Como a universidade avalia o uso do EAD? Como essa modalidade é aplicada?
SP – A Ufam, tem um Centro de Educação à Distância (CED), órgão suplementar, que oferece em EAd os cursos de administração pública, artes visuais, biologia, ciências agrárias, e educação física. Na última avaliação do MEC, ocorrida nas atividades da Ufam em EAD, a nota atribuída foi 4, sendo a nota máxima 5. Portanto o CED faz um trabalho de excelente qualidade, chancelado não somente pela sociedade, mas também pelo MEC.
AC- E em programas de pós-graduação, mestrado e doutorado?
SP – É aplicado na pós-graduação em nível de especialização nos cursos de gestão municipal, gestão pública, gestão de saúde, ensino de filosofia, mídias na educação e ensino de matemática no ensino médio, todos esses cursos oferecidos pelo CED. A Pró—Reitoria de Ensino e Pós-Graduação, antes da pandemia, á havia iniciado essa tratativa através do Edital nº82/2019, de 20 de dezembro de 2019, propondo apresentação de propostas de mestrado e doutorado EAD na Ufam.
AC – Há plano ou calendário para retomada das aulas?
SP – Estamos com frentes de trabalhos e estudos planejando a retomada das atividades de forma gradativa e responsável, pois nossa comunidade universitária é de mais de 25 mil pessoas e temos que ter responsabilidade com suas vidas. Ouviremos o Comitê Interno de Enfrentamento ao Coronavírus para tomar a decisão administrativa mais correta e no tempo certo para a retomada.
AC – De que forma a universidade tem contribuído no combate ao coronavírus?
SP – São inúmeras iniciativas das unidades acadêmicas e órgãos suplementares da Ufam no enfrentamento da Covid-19, a cada dia temos inúmeras frentes de trabalho em todas as áreas de conhecimento, desde atendimento psicológico a produção de tecnológica e pesquisa científica. Todos estão engajados para contribuir de alguma forma em ações como: Impressão 3D de Equipamentos de Proteção Individual; Produção de álcool líquido 70% e gel em parceria com empresas e indústrias; aplicativo móvel AGENDE.ME para evitar aglomerações em locais públicos; Produção de artigos científicos sobre Covid-19 em periódicos internacionais; Elaboração de projetos de pesquisas sobre Covid-19 e submissão a agências de fomento; Card informativo online para acolhimento e cuidado da saúde mental em tempos de distância social; Cartilha aos discentes voltada para a melhoria da qualidade de vida durante a pandemia; Manual digital de orientações sobre nutrição e saúde na pandemia; Atendimento personalizado em saúde pelo aplicativo Telegram pelos alunos de graduação e os residentes da residência multiprofissional do HUGV; Cartilha funcional para idosos; Guia prático de exercícios físicos e pesquisa para diagnosticar as formas de acesso e utilização das tecnologias pela comunidade acadêmica da Ufam.
AC – Como está se dando essas parcerias?
SP – No âmbito privado, com o apoio da Federação das Indústrias do Amazonas, tivemos a doação de insumos para produção de álcool líquido e em gel das empresas: ATEM, Fábrica Virrosas, ENTEC, Grupo Simões, Via Certa, Sindicato das Indústrias de Alimentos do Amazonas, cujo trabalho foi efetivado por docentes, técnicos e alunos nos laboratórios do Departamento de Química e da Faculdade de Ciências Farmacêuticas.
AC – E com o setor público?
SP – Com o Governo do Estado em parceria com a Susam, a Prefeitura Municipal de Manaus em parceria com a Semsa, do Centro de Biotecnologia da Amazônia através do projeto de produção de insumos para a detecção da Covid-19.
AC – E nos municípios em que a Ufam têm unidades acadêmicas?
SP – Em Parintins e Benjamin Constant, nossas unidades, a pedido da prefeitura municipal cederam a residência universitária do ICSEZ em Parintins e INC em Benjamin Constant para abrigar quem foi acometido de covid-19. Em Itacoatiara, em parceria com a prefeitura do município, o ICET produziu máscaras em 3D e álcool gel. Em Humaitá, o IEAA em parceria com a Prefeitura Municipal, produziu material didático, inclusive em libras, cartilhas e banner, e também em áudio visual, que foi compartilhado com a população. Em Coari, O ISB, em parceria com a Prefeitura, também produziu material informativo e didático nas áreas saúde, que congrega a maioria dos cursos daquele Instituto, que também foi distribuído à comunidade. Ressalto que em todos esses municípios a Ufam atua em outras atividades, como participação no Comitê Municipal de Enfrentamento ao Coronavírus, além da produção de álcool gel e máscaras.
AC – De que maneira isso pode ser ampliado?
SP – Todas as parcerias podem ser ampliadas por meio de acordos de cooperação e investimentos financeiros para aquisição de insumos para fabricação de material e equipamentos.
AC – O governo do Amazonas pediu autorização para operacionalizar o Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV). De que forma o hospital pode contribuir no combate ao coronavírus?
SP – O HUGV/EBSERH contribuiu com 100% da sua capacidade instada, seja para leitos destinados a pacientes infectados com a COVID-19, seja para pacientes com outras doenças que necessitam de serviços hospitalares.
AC – O ambulatório Araújo Lima e outras instalações laboratoriais dos cursos da área da saúde da Ufam podem dar suporte à realização das análises de testes de Covid-19?
SP – Os serviços essenciais de saúde da Ufam não pararam. Todas nossas instalações de assistência estão em pleno funcionamento para atender a população.
AC – Como está a demanda pelo atendimento psicológico?
SP – Um trabalho de excelência e vital para esse período de confinamento e isolamento social. Todos os psicólogos da Ufam estão unidos numa força-tarefa de atendimento psicológico online.
AC – Qual a importância desse acolhimento no momento?
SP – Os transtornos mentais estão assolando a população e esse serviço tem salvado vidas de pessoas com problemas de ansiedade, depressão e até ideação suicida.
AC – A pandemia também trouxe a ciência para o debate. Países buscam uma solução científica para a covid-19 seja um remédio ou a cura através de uma vacina. Como o senhor avalia esse processo?
SP – O papel das unidades no mundo e suas missões estão mostrando a importância da academia e o quanto ela é capaz de produzir conhecimento científico para um mundo melhor. Espero que depois disso, especialmente no Brasil, seja dada a devida importância pelos governantes das esferas federal, estadual e municipal.
AC – Como analisa as decisões que foram tomadas no Brasil com o corte verbas e de investimentos em pesquisas nas universidades?
SP – As universidades precisam de um olhar valorativo da sua finalidade no campo científico. Sem ciência não há progresso, não se transforma o mundo.
AC – Em que patamar ficará a ciência, principalmente, no imaginário popular após o coronavírus?
SP – A sociedade sempre esteja ao lado da universidade e estando do lado da universidade, ela sabe e entende que os cientistas ou profissionais de universidade pode ajudá-los a viver melhor e todos os cursos de graduação e pós-graduação contribuem cientificamente para o bem social.
AC – Há uma revalorização da ciência?
SP – Não entendo como revalorização, mas como uma reflexão necessária para a devida valorização da ciência no mundo. Volto a dizer, sem ciência não há progresso e a universidade é um espaço de construção científica.
AC – O senhor avalia que isso irá acontecer no país?
SP – Já está acontecendo, a união dos cientistas, o investimento na pesquisa para testes, medicamentos para tratamento e cura já é realidade, são não pode ser um momento pandêmico.
AC – Como se deu o processo de antecipação da formatura de estudantes finalistas de cursos da área da saúde?
SP – O governo federal lançou a ação estratégica ‘O Brasil Conta Comigo’ e a Ufam regulamentou para que estudantes finalistas de medicina, fisioterapia, farmácia e enfermagem, voluntariamente, e que preenchessem os requisitos, requeressem a antecipação de colação de grau por webconferência, ata e assinatura de ata por meio digital e eletrônico, entrega de certificado de conclusão de curso e histórico escolar por meio eletrônico. Isso mostrou nossa responsabilidade social, de forma legal de atender à solicitação de 56 estudantes finalistas de medicina e dois estudantes de fisioterapia que colaram grau e hoje estão prestando seus serviços profissionais para a sociedade.
AC – Estudantes de outros cursos também terão a colação antecipada?
SP – Todas as formaturas que estão pendentes, estão sendo programadas para ocorrerem até o final de junho deste ano.