Está prevista para 2020 a entrada em operação na Amazônia, em caráter experimental, de um dirigível responsável por coletar dados do ar, do solo e da vegetação, além de sinais de rádio emitidos por colares em animais.
O projeto temático InSAC, iniciado em 2014 e que vai até 2021, envolve sete grupos de trabalho, dos quais um da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), por meio da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) e de outras instituições e empresas.
A aeronave não tripulada recebeu o nome de Noamay, que, na língua nativa yanomami, significa “cuidar e proteger”. Antes denominada Droni (Dirigível Robótico de Concepção Inovadora), a aeronave foi rebatizada quando executou seu primeiro voo teleguiado, no ano passado.
Inovações
Professor da FEM e pesquisador principal do grupo de trabalho da Unicamp, Ely Carneiro de Paiva, explica que o dirigível representa um projeto inovador em razão dos quatro motores elétricos dotados de hélices orientáveis, para que possam girar em 360 graus, no chamado sistema de vetorização multidimensional.
“A aeronave é muito eficiente para monitoramento por ser silenciosa, quando utiliza motores elétricos, como em nosso caso. Ela deverá realizar ensaios preliminares próximo a Tefé, a 500 quilômetros de barco de Manaus. Perto desse município estão duas reservas ambientais”, explica o docente.
O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), localizado na reserva Mamirauá, é parceiro do projeto. São realizados no local os primeiros testes de pesquisas científicas relacionadas à Amazônia.
O projeto da construção e operação do dirigível é uma iniciativa do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI). De acordo com o professor, o grupo da Unicamp é responsável pelo software de controle e guiamento automático do dirigível. O CTI-Renato Archer e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) são os responsáveis pelo sistema eletrônico e de comunicação embarcados.
“No simulador, já obtivemos resultados do controle de voo completo, com o dirigível subindo e descendo na vertical e percorrendo os pontos de observação. A próxima etapa será embarcar o sistema no dirigível efetivamente. Estamos em fase de transição do projeto para a Universidade Federal do Amazonas e corrigindo um pequeno problema de excesso de peso para que o dirigível voe com o máximo de autonomia”, ressalta o professor ao Jornal da Unicamp.
Rastreamento
O projeto Noamay já rendeu duas teses de doutorado na Unicamp, a última delas defendida neste mês por Henrique de Souza Vieira, aluno de Ely Paiva que trabalhou com os controles para o rastreamento de trajetória do dirigível.
“Para um voo autônomo completo, que inclua decolar, pairar sobre um ponto escolhido e fazer o pouso, existem grandes desafios no que diz respeito ao controle. A tese aborda o seguimento da trajetória, controle de posicionamento e navegação de um dirigível robótico com propulsores elétricos orientáveis, usando técnicas de controle não linear”, salienta o autor da pesquisa ao Jornal da Unicamp.
Ely Paiva explica que o projeto temático é conduzido pela USP de São Carlos, sob a coordenação do professor Marco Henrique Terra, e está focado principalmente em robótica móvel.
“Temos os robôs subaquáticos, com os pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, os robôs terrestres, com USP e Unicamp, e também os drones, com UFMG e USP-São Carlos, além de outros parceiros”, diz o professor.
“O projeto do dirigível, na verdade, é a continuação do projeto Droni, coordenado pelo pesquisador Samuel Bueno, que se aposentou recentemente”, acrescenta Ely Carneiro de Paiva.
Estrutura
O dirigível de concepção inovadora foi projetado e construído pela empresa Omega AeroSystems, do Paraná, que também integra a iniciativa Droni e corrige o problema de excesso de peso para os testes com o sistema embarcado na reserva Marirauá.
O dirigível mede 11 metros de comprimento, com diâmetro de 2,5 metros na parte central, pesando 38 quilos sem o gás hélio (apenas com os equipamentos para voo) e capacidade para mais 6 quilos de carga útil. Vazio e dobrado, ele cabe dentro de uma mala grande de viagem.
O docente da FEM acrescenta que o Noamay é um projeto piloto e, por isso, tem autonomia para ficar uma hora no ar, sendo que a ideia é construir um segundo dirigível, de tamanho maior e que poderia pairar o dia inteiro sobre um ponto de observação, consumindo energia apenas para se deslocar.
Monitoramento
Na opinião do pesquisador, o dirigível é o veículo ideal para monitoramento na Amazônia, não apenas por ser silencioso, mas também porque a região possui a menor média de ventos do Brasil.
O professor da Unicamp salienta que há muitas pesquisas em andamento também com o chamado UAV (sigla em inglês para veículo aéreo não tripulado), tanto na agricultura como no monitoramento de linhas de transmissão de energia e gasodutos.
Os pesquisadores do projeto Noamay estão trabalhando com dirigíveis há mais de 20 anos e o professor Ely Paiva participa dos projetos desde o início, quando uma parceria entre o CTI (então Centro de Pesquisas Renato Archer – CenPRA) e o Instituto Superior Técnico (IST) de Lisboa resultou no primeiro voo autônomo de um dirigível no mundo, em 4 de março de 2000.