O atendimento humanizado aos pacientes com câncer em cuidados paliativos – aqueles prestados quando já se esgotaram as possibilidades clínicas de cura – e aos seus familiares foi o tema central da abertura do 5º Congresso Pan-Amazônico de Oncologia, nesta terça-feira (17/09), em Manaus. Com o tema “Esperança e desespero em pacientes no final da vida – como cuidar?”, a médica geriatra e especialista em Cuidados Paliativos e Suporte ao Luto, Ana Cláudia Quintana Arantes, abriu o ciclo de palestras do evento organizado pela Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon).
A abertura do congresso, que acontece até a próxima sexta-feira (20/09), no Centro de Convenções do Amazonas Vasco Vasques, na avenida Constantino Nery, 5.001, contou com a presença do secretário estadual de saúde, Rodrigo Tobias de Sousa e da diretora-presidente da Fundação de Amparo a Pesquisa do Amazonas (Fapeam), Márcia Peráles.
“Os nossos olhos precisam ser faróis quando encontram os olhos de alguém com desesperança”, disse Ana Cláudia Quintana Arantes. A médica é autora do livro “A Morte é um dia que vale a pena viver” e pós-graduada em Psicologia – Intervenções em Luto e em Cuidados Paliativos pelo Instituto Pallium e Universidade de Oxford. A palestra dela atraiu grande público ao evento.
Tema difícil de se tratar com pacientes e seus familiares, Quintana explicou como o cuidado do profissional da saúde, seja ele médico, enfermeiro ou um técnico de enfermagem, é essencial para pacientes paliativos.
“Cuidar é o ato mais sublime da conexão humana. O convite que eu faço quando vocês estão diante dessa expectativa de milagre é dizer ao paciente ‘você quer minha companhia, quer que eu te ajude a ser um pouco mais feliz até que o milagre não chega’”?, disse Quintana, ao destacar que é papel da equipe médica permitir ao paciente ter esperança.
Um abraço, um sorriso, um olhar podem ser horizontes ao coração dos pacientes, segundo Quintana. “Os nossos olhos precisam ser faróis quando encontram os olhos de alguém com desesperança”, disse a especialista em Cuidados Paliativos e Suporte ao Luto, que lida com pacientes em estado terminal diariamente.
Olhar do paciente – Outra palestra que emocionou a plateia foi o retrato da jornalista Ana Michelle de Sousa Soares, paciente de câncer de mama metastático que dá palestras pelo Brasil falando sobre como lidar com a doença, especialmente em estado avançado.
A jornalista criou no Instagram o perfil @paliAtivas, no qual compartilha a rotina do próprio tratamento.
“Estou vivendo os últimos dias, meses, anos da minha vida, mas decidi que faria o melhor com isso. Me falaram que eu poderia viver até morrer ou morrer estando viva. Preferi a primeira opção”, afirmou a jornalista.
Durante a palestra, Ana Michelle falou sobre a importância dos pacientes em ter o melhor cuidado paliativo possível em processos em que não há mais chances de cura clínica.
Humanização – O direito do paciente oncológico de ser tratado de maneira multidisciplinar, mas com humanização foi um dos destaques levantados pela presidente do congresso e Diretora de Ensino e Pesquisa (DEP) da FCecon, Kátia Torres.
“A discussão sobre o câncer é uma discussão que temos obrigação de trazer. Esse é um evento humano. Além de temas técnicos, vamos discutir a base, que é a humanização de trabalhar com câncer. O principal de tudo é saber lidar com pessoas”, salientou Torres durante discurso de abertura.
Para o diretor-presidente da FCecon, mastologista Gerson Mourão, o Pan mostrará a complexidade com que trabalha a Fundação. “Temos um poderoso grupo assistencial dentro da Fundação, e esse congresso traz a oportunidade grandiosa de mostrar a complexidade com que trabalha a Fundação”, avaliou.
Manaus protagonista – Durante o Congresso Pan-Amazônico, Manaus é a capital da discussão sobre a Oncologia no Brasil e nas Américas, segundo o secretário de Saúde, Rodrigo Tobias. “É um motivo de muito orgulho, na medida em que a gente congrega um conjunto de pesquisadores, de médicos e de todos os profissionais que tratam o câncer como um problema de saúde pública”, afirmou.
A Susam, segundo Tobias, precisava inevitavelmente estar “nesse momento para consagrar a possibilidade de maiores debates no campo da ciência e, sobretudo, na reorganização do serviço de saúde no Estado para melhorar o acesso ao serviço de saúde”.
Programação – O 5º Congresso Pan-Amazônico de Oncologia, maior evento na região Norte sobre o tema, vai até sexta-feira (20/09), com 195 palestras na programação e vários eventos paralelos com as temáticas Enfermagem Oncológica, Cuidados Paliativos, Anestesia e Dor, Câncer de Colo de Útero e Lesões Precursoras, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Rede Feminina Nacional de Combate ao Câncer, Nutrição Oncológica, Radiologia e Ética/Bioética.
O 5º Pan-Amazônico tem 1.500 participantes confirmados e 228 palestrantes, sendo 45 de fora do estado do Amazonas e três internacionais.
Apoio – O 5º Pan-Amazônico tem parceria com a Fapeam, por meio do Programa de Apoio à Realização de Eventos Científicos e Tecnológicos no Estado do Amazonas (Parev), e da Secretaria de Cultura (SEC), além de outras instituições e empresas.