“Pinto o que não pode ser fotografado, algo surgido da imaginação, ou um sonho, ou um impulso do subconsciente. Fotografo as coisas que não quero pintar, coisas que já existem”, dizia Man Ray (1890-1976), que foi tanto pintor quanto fotógrafo, cineasta e escultor, um dos grandes expoentes de movimentos de vanguarda como o Dadaísmo e o Surrealismo. Man Ray é conhecido por explorar a fotografia e elevá-la ao patamar de arte.
Algumas dessas características do artista norte-americano estarão em exposição a partir desta quarta-feira (21) no Centro Cultural Banco do Brasil, no centro da capital paulista. A exposição Man Ray em Paris, gratuita, poderá ser vista até 28 de outubro e tem patrocínio do Ministério da Cidadania e do Banco do Brasil.
É a primeira vez que 255 obras do artista serão apresentadas ao público no Brasil. São objetos, vídeos e fotografias de tamanhos variados, durante os anos em que ele viveu em Paris, entre 1921 e 1940, considerado seu período de maior efervescência criativa. A curadoria é de Emmanuelle de l’Ecotais, especialista no trabalho do artista e responsável por seu Catálogo Raisonée. Todas as obras pertencem a uma coleção particular de Paris.
A exposição
“A exposição é inédita. Nunca foi apresentada em nenhum lugar do mundo. Ela foi criada para o Brasil”, disse Roberto Padilla, da empresa Artepadilla, produtora da exposição. Em entrevista à Agência Brasil, ele afirmou que essa é uma exposição “muito completa” do artista, apresentando muitas de suas principais obras. “Ela abarca todas as obras importantes de Man Ray, principalmente o período em que ele esteve em Paris e que, por acaso, é o período mais prolífico do trabalho dele”, ressaltou.
A mostra foi dividida em duas categorias: a primeira apresenta a fotografia como um instrumento de reprodução da realidade, focando em seus famosos retratos, nos ensaios para a grife de Paul Poiret e nas fotos para reportagens.
A segunda mostra o lado da manipulação da fotografia em laboratório, nos quais ele criava superposições, solarizações e rayografias (termo que ele mesmo criou, que fazia alusão a si mesmo e que consiste em por objetos diretamente sobre um papel sensível e expô-los à luz durante alguns segundos. Ao se revelar o papel, obtém-se uma imagem cujos valores estão invertidos). Nessa segunda categoria, ele inventa a fotografia surrealista. “Após tornar-se rapidamente fotógrafo profissional, sua obra oscila, de maneira contínua, entre o trabalho de encomenda – o retrato, a moda -, de um lado, e o desejo de realizar uma ‘obra artística’, do outro. Em suas palavras, o artista é um ser privilegiado capaz de livrar-se de todas as restrições sociais, cujo objetivo deveria ser alcançar a liberdade e o prazer’”, disse a curadora da mostra.
A exposição é didática e começa pelo quarto andar do prédio, que apresenta fotos de Man Ray tiradas nas ruas de Paris e retratos que fez de Duchamp, Picasso, Jean Cocteau e Gertrude Stein, entre outros. O terceiro andar mostra uma Paris mais atemporal e sua técnica de retrato, na qual ele retoca o negativo e o amplia na impressão, obtendo traços levemente desfocados e dando suavidade à fotografia. Já o segundo andar, o maior deles, apresenta suas fotos mais surrealistas e também as fotos de moda, feitas principalmente para as revistas Vogue e Harper’s Bazaar.
O primeiro andar, por sua vez, apresenta a biografia do artista e algumas de suas esculturas e colagens, além da exibição de um vídeo de 52 minutos sobre Man Ray. Na entrada do museu, os visitantes ainda serão convidados a se fotografar, em imagens que serão exibidas depois em uma tela.
A exposição também destaca as fotos de suas musas: Kiki 1922–1926), Lee Miller (1929–1932), Meret Oppenheim (1933– 1934), Ady (1936–1940) e, enfim, Juliet (a partir de 1941), algumas delas retratadas nuas. Entre essas fotos está a famosa O violino de Ingres (1924). Também estão programadas exibições de filmes assinados por ele, uma palestra com a curadora da mostra e com o fotógrafo Pedro Vasquez.
Depois de São Paulo, a exposição segue para Belo Horizonte.
O artista
Man Ray, pseudônimo de Emmanuel Radnitsky, nasceu na Filadélfia, nos Estados Unidos, no dia 27 de agosto de 1890. Em sua juventude, mudou-se para Nova York, onde iniciou os estudos no The Social Center Academy of Art. Nessa época, conhece Marcel Duchamp e outros artistas que compunham o movimento dadaísta. Em 1921, parte para Paris, onde se insere no movimento surrealista e concilia seu trabalho como fotógrafo de renome com seu lado artístico, manipulando fotos em laboratório para a produção de obras de arte. Com a Segunda Guerra Mundial, volta para os Estados Unidos, passando a fotografar celebridades e fazer fotografias de moda. Com o fim da guerra, retorna a Paris, onde morreu em novembro de 1976.
Edição: Graça Adjuto