Projeto inédito no país segue modelo educativo adotado em unidades prisionais da Espanha e Portugal
A Penitenciária I de Serra Azul incluiu aulas de Filosofia Aplicada na grade de 80 alunos dos ensinos Fundamental e Médio. Eles tiveram acesso a oficinas de filosofia e inglês por meio do projeto “Boécio e Filosofia”, desenvolvido em parceria com o Centro Universitário Claretiano.
A proposta é resgatar a capacidade crítica e relações interpessoais, conciliar sentimento, pensamentos e ações.
“É uma iniciativa importante dentro da unidade prisional porque os exercícios de reflexão servem para que os sentenciados busquem entendimento do próprio comportamento, ou seja, a arte de viver com serenidade e equilíbrio. Desta forma, o projeto proporciona maior autoconhecimento e desenvolve nos participantes o controle das emoções e aprimoramento da sabedoria”, destaca o diretor substituto da unidade prisional, Kelson Pimentel Alvim.
Segundo ele, trata-se de um estudo multicêntrico iniciado há duas décadas na Universidade de Sevilha (Espanha) e desenvolvido em prisões da Espanha, México, Portugal e Brasil através de convênio firmado entre o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (Feder), ligado à Universidade de Sevilha, e o Centro Universitário Claretiano de Batatais. A iniciativa tem como objetivo levar a Filosofia Aplicada em informação, reflexão e desenvolvimento pessoal a detentos.
O projeto original foi elaborado e incrementado pelo professor José Barrientos Rastrojo, da Universidade de Sevilha. Inédito no Brasil, o programa está sob orientação do professor Edson Renato Nardi, coordenador do curso de Filosofia Presencial e EAD (ensino a distância) do Centro Universitário Claretiano.
Início em 2018
A pesquisa na Penitenciária I de Serra Azul teve início em outubro de 2018 e foi finalizada em maio deste ano. Nesse período, equipes do Claretiano, composta pelo professor Edson, profissionais da psicologia, sociologia e de outras disciplinas aplicaram oficinas de filosofia e inglês na unidade, semanalmente.
“Foram ações multidisciplinares utilizadas para o despertar, o resgatar da capacidade crítica; as relações interpessoais; a limitação da agressividade; o governo das emoções, como as paixões; as virtudes éticas; o pensamento crítico e o desenvolvimento das virtudes noéticas-intelectuais”, detalha Nardi.
Ele explica que, durante as oficinas, foram realizadas avaliações empíricas, qualitativas e quantitativas de resultados por meio de exercícios de pensamento crítico e criativo, além de autoavaliação subjetiva com teste que situa a sabedoria em três dimensões: elementos cognitivos, reflexivos e emocionais. Foi aplicado, ainda, método que avalia experiência, regulação emocional, reflexão e humor.
“Para tanto, foram utilizadas duas metodologias: a realização de exercícios filosóficos extraídos da tradição sapiencial (relacionada à sabedoria) e a prática de literaturas filosóficas diárias, que serviram para reforçar o treinamento”, finaliza o professor.