Em audiência pública promovida pela Subcomissão Temporária de Doenças Raras (Casdrar) nesta quarta-feira (11), profissionais da área de saúde defenderam a necessidade de se aprimorar no país o processo de formação de médicos com relação à doenças raras, especialmente as causadas por problemas genéticos. O debate foi presidido pelo senador Romário (Podemos-RJ).
De acordo com a médica geneticista Débora Gusmão Melo, representante da Sociedade Brasileira de Genética Médica e professora da Universidade Federal de São Carlos, um dos maiores obstáculos para se implementar a política do SUS para atendimento a pacientes com doença genética se refere à escassez e a distribuição desigual de especialistas no Brasil.
— A gente pensa como implantar uma política de doenças raras no Brasil, que tem dimensão continental, e a força de trabalho para implantação dessa política é composta de apenas 305 profissionais. Isso é inviável, é infactível. Não tem como a gente pensar uma política de doenças raras centralizada exclusivamente em 305 pessoas num país do tamanho do Brasil — disse.
Na avaliação da médica, uma solução para contornar essa dificuldade seria aprimorar, nos cursos de graduação, a formação geral dos profissionais de saúde em genética.
— Hoje é impossível se pensar um profissional da área de saúde que não tenha um conhecimento mínimo em relação à doença genética. Porque a doença genética é prevalente, tem impacto na mortalidade infantil, e a gente tem uma política de doenças raras que não vai se sustentar a curto e médio prazo no país se os profissionais não especialistas em genética não tiverem minimamente uma formação relacionada à área — afirmou Débora, destacando que no Brasil as doenças genéticas ocupam, desde 2001, o segundo lugar entre as causas de mortalidade infantil.
Coordenador do Observatório de Doenças Raras da Universidade de Brasília (UnB), Natan Monsores de Sá teceu críticas ao modelo de ensino adotado em muitos cursos de graduação em medicina no país, que não permite uma formação adequada desses profissionais.
— Parece que há uma ênfase excessiva em tecnologias educacionais ativas, e não no bom sentido, mas no mau sentido. Às vezes há uma confiança extremada de que uma formação tecnológica do estudante em conhecer equipamentos e técnicas seria suficiente para garantir uma formação médica completa, uma formação de pesquisador completa — criticou.
O professor da UnB observou também que o ensino de genética em muitas escolas de medicina do país apresenta conteúdos como uma panaceia que não resolve parte da prática necessária no atendimento ou no cuidado de pacientes com doenças raras.
O diretor-presidente da Associação Brasileira de Educação Médica, Nildo Alves Batista, reconheceu a necessidade de adequação curricular, a fim de que as faculdades de medicina possam formar profissionais aptos a realizar o atendimento básico de portadores de doenças genéticas. Ele ponderou, no entanto, que mesmo a formação de bons generalistas nos cursos de graduação é um objetivo difícil de ser alcançado.
— Formar um generalista tem toda uma preocupação por trás, pois já é uma nova especialidade. Já é formar um médico de família e comunidade. Que precisa ter uma formação para além da graduação. Só a graduação não dá conta. Então o que caberia à graduação? Por isso nossa proposta é trocar o nome. Não formar o generalista, mas dar uma formação geral ao médico que possibilite a ele, lá na atenção básica, primeiro dar conta dos 80% do conhecimento que precisa adquirir — disse.
Já a bióloga Regina Célia Mingroni Netto, representante da Sociedade Brasileira de Genética, falou sobre as diversas disciplinas na área de genética oferecidas pelo Departamento de Genética no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo aos cursos de graduação na área de saúde.
Segundo ela, entre os principais objetivos de tais disciplinas, está capacitar os profissionais de saúde para reconhecer pacientes e famílias que devem ser encaminhados a serviços especializados de genética e aconselhamento genético, bem como informá-los sobre os principais tipos de exames genéticos, suas principais indicações e princípios básicos de detecção de alterações genéticas.
A subcomissão funciona no âmbito da Comissão de Assuntos Sociais (CAS).
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)