Mar del Plata, 2003: “Eu lembro de muito frio. A gente não tinha nem agasalho adequado. Hoje, recrutamos uma excelente equipe de apoio”, diz a atleta Edênia Garcia, ao lembrar o primeiro título dessa série. Ela acrescenta que hoje, aos 32 anos, consegue desfrutar mais o título. “Tentar entender o que está acontecendo comigo. Quando eu era mais nova, só pensava em ganhar. Quanto mais medalha, melhor.”
A atleta fez história em Lima com o pentacampeonato dos 50 metros costas da classe S3, cravando 57 segundos e dois centésimos (recorde do campeonato).
No pódio, a nadadora, que nasceu com polineuropatia sensitiva motora, doença progressiva que traz dificuldades de movimentos, chorou. “Os últimos três anos foram muito pesados para mim. Perdi o meu pai, não tive bom desempenho nos Jogos do Rio de Janeiro. Saí com algumas sequelas de todo esse processo. Aqui mesmo em Lima, sofri muito de ansiedade antes da prova dos 50 metros livre. Mas estamos começando a melhorar.”
Já são dois anos de acompanhamento direto com um médico. E as orientações seguidas pela nadadora são mais intensidade e menos metragem. “A ideia é não repetir o overtraining que passei no período da Rio 2016. Perdi movimentos do polegar da mão esquerda, tenho bastante fadiga muscular durante os treinos. O meu diafragma também sofre muitas vezes. Por isso, agora estou priorizando mais qualidade de vida”.
Londres 2019
A cearense da cidade de Crato já escreveu também o seu nome da história dos campeonatos mundiais de natação. É a primeira brasileira tricampeã, ao conquistar o ouro em Eindhoven, na Holanda, em 2010. Tem também três medalhas paralímpicas; uma delas é a prata em Londres 2012, na mesma piscina que será utilizada no Campeonato Mundial, de 9 a 15 de setembro, no Parque Olímpico Rainha Elizabeth. “ Naquela época, eu nadava ainda como S4. E, quando eu soube que ia ser em Londres, falei para todo mundo que o meu grande objetivo é refazer a foto que eu tenho com aquela prata, mas com a medalha dourada dessa vez”, diz a nadadora, uma das vinte e seis integrantes da delegação brasileira que viaja nesse domingo para a capital da Inglaterra.
Liderança
Com o tempo de 55 seg e 98 centésimos, Edênia apareceu na liderança do ranking mundial de junho, nos 50 metros costas da classe S3. Isso não acontecia desde 2010, às vésperas da conquista do tricampeonato. Mas ela aposta na cautela. “Eu comecei muito cedo na natação. Aos 15 anos, já era favorita. Agora, estou indo para o meu sétimo campeonato mundial como favorita novamente. Tudo aconteceu muito rápido nesses últimos três anos. Ainda prefiro tentar entender melhor o que está acontecendo.
Reclassificação
Edênia Garcia foi reclassificada no Brasil durante o ano de 2017 e desceu de classe, saindo da S4 para a S3. “Para quem tem esse tipo de síndrome, baixar de categoria quer dizer que a minha saúde está piorando. Mas, para o esporte paralímpico, essa mudança me deixou muito mais competitiva. Na S4, não estava há bastante tempo entre a sétima e a oitava posição do ranking. Não ia ganhar medalha em nenhum campeonato. Na S3, já comecei como terceira e, em menos de dois anos já lidero o ranking mundial.”
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Edição: Graça Adjuto