24/09/19 14h59
Mesmo diante da desaceleração econômica, hoje, o Brasil conta com 12.763 empresas nascentes, sendo oito delas as chamadas unicórnios, avaliadas em mais de US$ 1 bilhão
DCI
As startups nacionais têm ganhado cada vez mais mercado e a confiança dos grandes players. Mesmo em um cenário de desaceleração econômica, desde 2015, o número de empresas nascentes cresceu 207%. Além disso, hoje, o País conta com oito unicórnios – empresas com preço de mercado de mais de US$ 1 bilhão – cenário que há quatro anos não existia.
“O ecossistema empreendedor anda descolado da macroeconomia, o que explica o avanço da inovação nos últimos anos”, afirma a head de ecossistema e startups no Cubo Itaú, Renata Zanuto. Segundo ela, foi justamente a crise que beneficiou as empresas nascentes. Isso porque, as grandes corporações começaram a buscar competitividade e inovação com menor custo, abrindo espaço para as startups, explica.
A taxa acumulada do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2014, quando a economia ainda sinalizava crescimento, era de 3,2%. A partir daí, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as variações trimestrais da atividade econômica oscilaram entre o positivo e o negativo. O último registro, do período entre janeiro e março de 2009, a economia avaçou 0,9%.
Para as startups, entretanto, o crescimento tem sido exponencial. Em 2015, havia 4.151 empresas nascentes, segundo as informações da Associação Brasileira de Startups (ABStartups). Neste ano, o Brasil conta com 12.763, o que representa um aumento de 207% no período.
Presidente da ABStartups, Amure Pinho destaca que somente nos últimos quatro anos que o Brasil ganhou unicórnios, como o iFood e o Nubank Legenda: Presidente da ABStartups, Amure Pinho destaca que somente nos últimos quatro anos que o Brasil ganhou unicórnios, como o iFood e o Nubank. Foto: Divulgação
Além disso, foi somente nos últimos quatro anos que o Brasil ganhou unicórnios, como o iFood e o Nubank, segundo o presidente da ABStartups, Amure Pinho. De acordo com a associação, atualmente, o País conta com oito empresas com valor de mercado de mais de US$ 1 bilhão.
Assim como Renata, o presidente da ABStartups também considera que a desaceleração econômica favoreceu o empreendedorismo. Ele explica que, hoje, as empresas nascentes contam com mais apoio das grandes e mais captação de investimentos – tanto de fundos quanto de investidores anjos – do que há cinco anos.
O diretor-executivo do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), Sérgio Risola, também concorda que o interesse pelas startups evoluiu bastante nos últimos cinco anos. “A cada dia tem uma grande corporação se envolvendo com esse universo, seja abrindo o próprio Lab [laboratório de inovação para parceria com empresas nascentes ou pedindo o auxílio de incubadoras e aceleradoras, como a Liga Ventures”, afirma.
Entretanto, para Risola, o segmento ainda precisa se desprender de “penduricários”, como a burocracia, para se alavancar de fato. “Para as startups de tecnologia, como as fintechs, os últimos anos têm sido muito promissores. Mas as outras áreas ainda precisam vencer obstáculos.”
Diretor-executivo do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), Sérgio Risola considera que as grandes corporações ainda estão aprendendo a trabalhar junto às empresas nascentes Legenda: Diretor-executivo do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), Sérgio Risola considera que as grandes corporações ainda estão aprendendo a trabalhar junto às empresas nascentes Foto: Divulgação
Desafios
Segundo o diretor-executivo do Cietec, para as empresas nascentes com foco em ciência e pesquisa e desenvolvimento, o dia a dia tem sido mais difícil nos últimos anos. Ele explica que essas companhias precisam de mais investimentos, além de responder às agências reguladoras, o que acaba demandando mais tempo para desenvolver ou lançar um produto.
Além disso, Risola considera que as grandes corporações ainda estão aprendendo a trabalhar junto às empresas nascentes. “As organizações estão chegando com um apetite grande por inovação, mas ainda sem definir o que fazer com as startups.”
Risola considera que, para o segmento manter o forte crescimento nos próximos anos, é preciso “misturar” melhor as corporações, as empresas nascentes, as incubadoras e aceleradoras, e os investidores. “Todos saem ganhando”, pondera.
Em linha com Risola, a diretora do fundo de aceleração 500 Startups no Brasil, Itali Collini, também acredita que o relacionamento das corporações com as startups ainda precisa melhorar. “É preciso fazer as grandes enxergarem a importância dessa aproximação, fazendo programas de inovação ou se tornando clientes”, explica.
Outro desafio apontado por Itali são os investimentos e a insegurança do investidor diante do cenário de crise dos últimos anos. “Ainda temos investidores em ambiente de incertezas e que querem somente a garantia de retorno, algo complicado quando se trata de empresas que estão começando”, explica.
Por isso, para os próximos anos, Itali avalia que algo que pode favorecer o cenário brasileiro de inovação é fazer com que o empreendedor esteja preparado para explorar o mercado internacional. “Expandir as operações para outros países pode atrair o olhar de fundos e investidores estrangeiros.”
Mesmo que ainda tenham desafios a serem vencidos, os especialistas seguem confiantes. Para Renata, do Cubo Itaú, tendo em vista o rápido crescimento do número de unicórnios nos últimos anos, a tendência é que o mercado para as startups continue promissor.
“Agora são mais investidores estrangeiros olhando para o País, são mais startups interessadas em ganhar o mercado exterior e mais empreendedores com vontade de compartilhar ideias e experiências.”