A Comissão de Relações Exteriores (CRE) aprovou nesta quinta-feira (12) a indicação do diplomata Ronaldo Costa Filho para a chefia da representação brasileira junto à Organização das Nações Unidas (ONU).
Durante a sabatina, Costa Filho foi indagado pelos senadores Fernando Collor (Pros-AL) e Chico Rodrigues (DEM-RR) sobre a péssima repercussão trazida sobre o Brasil devido às recentes queimadas na Amazônia, e como nosso país deve lidar na gestão desta crise junto à ONU, responsável pelo Acordo de Paris e muitos outros acordos ambientais.
— Não há nenhum dado sério indicando que o que ocorreu este ano esteja fora de um padrão recorrente. Estes números sobem ou caem, mas se você analisa em longo prazo, fica claro que o desmatamento vem diminuindo. As queimadas foram mais intensas agora, mas é bom lembrar que na África e na Rússia também ocorreram em magnitude até maior. Estas queimadas são causa ou consequência do aquecimento global? — questionou.
Críticas à Europa
Costa Filho aproveitou a ocasião para criticar o protecionismo europeu na agricultura. Ele chefiou a delegação brasileira de 2011 a 2018 no acordo Mercosul-União Europeia. Disse que todas as vezes em que as negociações avançavam, surgiam crises e denúncias relacionadas à devastação ambiental no Brasil.
— Isso é uma reação natural, porque ninguém gosta de concorrência. Os europeus temem o grande vigor de nosso agronegócio. Era sempre a mesma coisa, as negociações avançavam e éramos inundados de denúncias na mídia e outros âmbitos. Sempre optamos por ignorar, mas dessa vez não deu, porque se deu ao nível de chefia de Estado. Mas meu papel agora é serenar os ânimos, a crise não é intransponível. A ONU será o fórum onde apresentaremos documentação oficial e buscaremos parcerias. Tudo é motivado pela economia. Se o meio ambiente fosse de fato a prioridade dos críticos, porque há 40 anos bloqueiam o etanol como fonte de combustível? Porque neste caso o ganho não está lá, está aqui — disse.
Brasil devedor
Os senadores também perguntaram sobre a grande dívida que o Brasil acumula junto à ONU. Costa Filho confirmou que o problema é sério, pois a dívida já atingiu U$ 433 milhões. Convertido para o real, estamos devendo quase R$ 2 bilhões. O diplomata alertou que se o Brasil não pagar pelo menos U$ 150 milhões em 2019, perderá o direito de voto nas decisões da ONU.
— Precisamos honrar, ou perderemos o direito de deliberar já em 2020. Vamos nos juntar à Somália, Ilhas Comores e São Tomé e Príncipe neste “grupo seleto”. Peço abertamente socorro ao Congresso Nacional para que atente a isto e destine verba orçamentária para que cumpramos nossa obrigação — explicitou.
Conselho: uma ilusão
Collor também indagou sobre os esforços do G4 (formado por Brasil, Alemanha, Japão e Índia) para que a ONU reforme seu Conselho Permanente de Segurança. Este Conselho é formado desde 1945 por EUA, Rússia, China, França e Grã-Bretanha, e cada um desses países tem poder de veto em qualquer deliberação. Os países do G4 pleiteiam ocupar vagas num conselho reformado, mas Costa Filho não cria expectativas nesse sentido.
— Devemos continuar nos esforçando pela reforma, mas não tenho ilusões a curto ou médio prazo. Faço um paralelo com a economia. O G7 [grupo formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido], que cuidava da governança global da economia, só aceitou compartilhar poder em 2008 porque a crise financeira foi tão violenta que erodiu a capacidade deles responderem sozinhos. Aí eles aceitaram compartilhar a governança na economia com o G-20 [grupo formado por ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia]. Só espero que não haja uma crise semelhante de paz e segurança global para que o Conselho Permanente de Segurança aceite ser atualizado — afirmou.
A análise da indicação de Costa Filho segue agora para o Plenário do Senado.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)