Criado em 28/07/16 17h48
e atualizado em 29/07/16 09h43
Por Leyberson Pedrosa | Colaborou: Lia Magalhães
Edição:Líria Jade
Fonte:Portal EBC
Enquanto os fãs da animação japonesa esperam pela chegada do Pokémon GO no Brasil, o ilustrador Cezar Souza vê a repercussão do seu trabalho ganhar proporções não imaginadas. Souza fez uma série de desenhos que misturam a fauna e flora da Amazônia com os monstrinhos do Pokémon. Contudo, se engana quem acha que ele escolheu os Pokémons por causa do jogo:
“Na verdade, esse projeto está em desenvolvimento desde 2013. Foi uma feliz coincidência a finalização dele ocorrer em plena nova febre pokémon.”
Recentemente, o manauara apresentou um artbook (espécie de álbum de ilustrações) como trabalho de conclusão do curso de Design na Faculdade Fucapi (AM) onde usa a biodiversidade para criar “pokémons amazônicos”. Confira:
Mashups, pokebolas e biodiversidade; confira a entrevista
Inicialmente, o objetivo de Cezar com o TCC era provar que a técnica Mashup poderia ser reconhecida como uma ferramenta do processo criativo de design. Mas o resultado das ilustrações encantou o desenhista que pretende fazer mestrado. Ele diz, ainda, que irá batizar suas criações e criar seu próprio jogo.
“Mashup é uma técnica que mistura elementos para se obter algo novo, porém, sem que as característica individuais dos elementos se percam. Isso começou no meio musical, mas logo foi incorporado em diversos segmentos como artes plásticas, aplicações para web, culinária, literatura e em várias áreas do design também.”
Até lá, ele aproveita as coincidências com o lançamento do Pokémon GO para “brincar” e divulgar a diversidade amazonense aos brasileiros e, quem sabe, para fãs de pokémons que vivem em outras partes do mundo.
“Quando se faz representações da fauna e flora amazônica, dificilmente saem da representação literal dos elementos. Não existia esse tipo de representação de forma tão lúdica”, destaca.
Na sequência, você confere um bate-papo que tivemos com Cezar sobre as influências da animação em seu trabalho e como ele conseguiu a façanha de transformar o fruto de um tucumã em uma pokebola.
Qual era a sua ideia ao misturar elementos da Amazônia com a animação Pokémon?
Esse projeto está em desenvolvimento desde 2013. Foi uma feliz coincidência a finalização ter se dado neste momento, em plena nova febre Pokémon. A ideia toda girava em torno de cinco elementos: Mashup, Elementos Amazônicos, Pokémon, Processo Criativo e Design.
Então, por que você tinha escolhido o Pokémon?
A escolha do Pokémon como elemento cultural externo se deu pela popularidade assustadora que ele tem. Afinal, quem não conhece Pokémon? (brinca). Sempre me incomodou como uma cultura absorve rapidamente um elemento cultural exterior. E achei que seria interessante fazer com que um elemento externo absorvesse características regionais da minha região.
Quais critérios você usou para associar cada pokémon a um elemento amazônico?
Em primeiro lugar, foi uma tarefa cruel selecionar esses elementos amazônicos, devido à grande diversidade que possuímos. Separei as ilustrações em quatro categorias: Aquáticos, Terrestres, Plantas e Voadores, tomando como base três características para realizar essa escolha: popularidade, estética exuberância e viabilidade de produção. Assim, pude selecionar 60 elementos para o projeto. Já a escolha do Pokémon equivalente foi meramente estética.
E qual foi o elemento amazônico mais desafiador no seu trabalho?
Cara, o que mais me deu trabalho foi a Ariranha. Essa me deu muita dor de cabeça. da primeira vez que a fiz, parecia mais pokémon que Ariranha. Da segunda, parecia mais ariranha que Pokémon. Só depois que troquei o Pokémon-Base que tudo deu certo.
O Pokémon Go usa realidade aumentada e geolocalização para que as pessoas corram atrás de criaturas virtuais. Para desenvolver o seu trabalho, você teve contato real esses animais amazonenses?
Já, em diversas situações. Quando servi o Exército, tive contato com onças, jibóias, macacos, até com o terrível gato-Maracajá. Quando fui técnico em segurança do trabalho (trabalhava na província de Urucu), tive contato com Jacarés-açu e com a maioria das aves do compêndio.
Você esculpiu um fruto em forma de pokebola. Como foi sair da representação (desenho) para o real?
Ah, o Tucumã…Eu queria algo inesperado e que causasse grande impacto visual. Muita gente acha que aquilo foi Photoshop. Houve, sim, algumas manipulações, mas somente para reparos e melhorar as cores. Muita gente me pergunta se a história com o feirante era verdade. E foi, discutimos por quase cinco minutos porque ele queria me vender os tucumãs descascados.
Recentemente, uma onça pintada teve que ser sacrificada em Manaus. Como você analisa isso?
Foi uma infeliz fatalidade. Quando aconteceu não imaginei o tamanho da bronca que aquilo virou. É uma pena que os olhares para a fauna amazônica tenham sido atraídos por esse acontecimento. E é uma lástima ver o que grandes corporações estão fazendo com fauna e flora. O agronegócio, a introdução de peixes não-nativos na região, a construção civil avançando na floresta etc…
Como está a repercussão do seu trabalho após a defesa do TCC?
Desde então me procuram pra entrevistas. Sites e redes locais, agora vocês. Estou bastante empolgado. No caso do artbook, já imaginava que quando crianças reconhecessem os pokémons – mas não o elemento amazônico – isso significasse o aumento da procura por parques e zoológicos da região.
Para terminar, quais são suas pretensões com esse projeto?
Minha intenção é de seguir com o projeto para o mestrado. Dessa vez, concluindo a ideia original de 60 personagens, assim como a elaboração dos nomes de cada um e uma possível aplicação em um jogo de cartas ou eletrônico.
Na minha defesa do TCC eu disse que se conseguir o mestrado com esse projeto, serei “mestre pokémon” antes do Ash (o que rendeu boas risadas da banca).
Creative Commons – CC BY 3.0
Deixe seu comentário