A fundação é a primeira instituição hospitalar do Brasil a aplicar a técnica em crianças. Somente países como Suíça, Alemanha e EUA já utilizam a técnica nesse público
A hipnose clinica já é uma prática comum e bem aceita pelos pacientes da Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam). A prática começou a ser utilizada no ano passado, inicialmente em pacientes adultos com sintomas de dores agudas ou mal-estar provocado pelo tratamento com quimioterapia.
Recentemente, a Fundação Hemoam ampliou esse tratamento e passou a ser a primeira do país a utilizar a técnica em crianças. Somente países como Suíça, Alemanha e EUA aplicam hipnose clínica nesse público.
A prática da hipnose na Fundação Hemoam virou uma terapia auxiliar para as crianças em tratamento da leucemia. Medo, náuseas e as dores intensas são o alvo do psicólogo e hipnoterapeuta da instituição, José Braga. O profissional é gabaritado pelo Instituto Internacional de Hipnologia Clínica e Experimental e pela Omni Hypnosis Training Center (OMNI).
“Aqui, no Hemoam, nós trabalhamos desde os casos mais urgentes, dores, náusea, situações em que o paciente precisa de uma intervenção rápida e até nos casos de medo, angústia e depressão”, explicou.
Entre o casos comuns está o de Clenilton Alfaia Batista, de 9 anos. O menino é do município de Fonte Boa e faz tratamento na Fundação Hemoam há 10 meses. Diagnosticado com Leucemia Linfoide Aguda (LLA), as sessões de hipnose ajudam o garoto em crises de ansiedade e medo, reações consideradas psicossomáticas provocadas pela leucemia.
“A técnica faz com que ele se sinta melhor, fica mais aliviado e relaxado e isso tem ajudado no tratamento. Antes ele tinha muito medo e sempre que precisava ser medicado ficava muito ansioso, e a hipnose tem ajudado bastante”, avaliou a mãe do rapaz, Melcirene Alfaia.
José Braga destaca que a hipnose funciona como uma indução do próprio paciente à auto-cura. “Através da hipnose, eu ativo essa capacidade no paciente e o próprio corpo dele reage produzindo as substancias necessárias para seu bem-estar”, reforçou.
Outro paciente que já experimentou sessões de Hipnose Clínica foi Samuel Oliveira da Costa, de 7 anos, também diagnosticado com Leucemia Linfoide Aguda (LLA) e que faz tratamento há 9 meses no Hemoam. A mãe da criança, Valéria Dias de Oliveira, relata que o filho tem dificuldade para se alimentar e a técnica tem ajudado também na hora de fazer a aplicação da medicação intravenosa, o pesadelo das crianças.
“Com duas sessões de hipnose já percebi melhoras significativas no comportamento dele, tanto na hora de se alimentar quanto na hora de tomar a medicação. Antes da hipnose, ele gritava muito na hora de fazer a medicação, agora ele perdeu aquele pânico”, relata Valéria.
Tratamento da depressão – A hipnose também é utilizada para programar ou reprogramar a mente inconsciente de alguns pacientes quando se trata de crenças que o limitam, tais como medo, angústia e depressão. “Às vezes, esses sentimentos atrapalham muito o tratamento quimioterápico do paciente porque o psicológico do indivíduo está interferindo na interação química da medicação com o próprio organismo”, acrescentou Braga.
Procedimento legalizado – No Brasil, o uso da hipnose clínica é regulamentado. O Conselho Federal de Medicina validou a hipnose e existe um decreto que autoriza a utilização dessa técnica de forma ética, em casos clínicos e terapêuticos em adultos e crianças. A modalidade clínica ainda é pouco difundida no país. Algumas localidades como Suíça, Alemanha e EUA já utilizam hipnose em adultos e crianças.
“O que temos visto aqui na Fundação Hemoam nos últimos dois anos é que a hipnose aumenta a autoestima do paciente, o encoraja a fazer o tratamento e a ter uma qualidade de vida melhor, principalmente no aspecto psíquico”, avalia o especialista.