Fazendo coletas no interior e nas capitais dos estados amazônicos, especialistas ampliam o conhecimento de novas espécies para a ciência
Em estudo fomentado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), pesquisadores apontam novas espécies e gêneros de cogumelos coletados na Floresta Amazônica, assim como estudam potenciais espécies comestíveis e antimicrobianas.
Os cogumelos são uma alternativa economicamente viável pelo potencial de uso na indústria alimentícia e por serem fonte promissora de compostos ativos para o desenvolvimento de bioprodutos farmacêuticos. Além disso, podem ser utilizados na produção de artesanato, como é o caso da espécie Perisi, uma estrutura de fungo similar a uma fibra, usada pela comunidade indígena Yanomami da região de Maturacá, no Amazonas, para confeccionar cestarias.
O projeto “Macrofungos da Amazônia: taxonomia e triagem de espécies comestíveis e/ou produtoras de compostos antimicrobianos” foi coordenado pela pesquisadora Noemia Kazue Ishikawa, e desenvolvido, principalmente, no Laboratório de Microbiologia de Alimentos e no Herbário do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), com diversos parceiros no Brasil e de outros países, e amparado pelo Programa de Apoio à Pesquisa (Universal Amazonas), edital nº 030/2013.
Espécies – O estudo teve início com a coleta de mais de 2 mil amostras de cogumelos em várias regiões da Amazônia. Esse trabalho de análise morfológica dos cogumelos foi realizado pelos taxonomistas de fungos do Grupo de Pesquisas Cogumelos da Amazônia do Inpa, Jadson José Souza Oliveira e Tiara Sousa Cabral, entre outros.
Dentre essas 2 mil coletas, o grupo de pesquisa conseguiu identificar dois novos gêneros, Pusillumyces gen.nov. e Sclerocarpum gen.nov., e outras 15 novas espécies de macrofungos. Além de descrever espécies desconhecidas, o grupo estudou 27 espécies de cogumelos comestíveis e 23 espécies com atividade antimicrobiana.
“Entre as espécies isoladas chegamos ao composto sesquiterpeno Hipnofilina, que produz atividade antiprotozoária contra Trypanosoma cruzi e Leishimania amazonenses, segundo Souza-Fagundes et al. 2010”, disse Noemia.
Dentre as espécies comestíveis identificadas, é possível destacar a Lentinula raphanica, que teve o primeiro cultivo em escala experimental, no mundo, realizado no Amazonas, com o intuito de gerar um produto alimentício a partir da biodiversidade da Floresta Amazônica.
Taxonomia – O trabalho dos taxonomistas, especialistas responsáveis por classificar os seres vivos, é muito laborioso e importante para preservar as espécies. Fazem pesquisas de campo em busca de espécies que ainda não foram catalogados pela ciência.
Foi em uma dessas observações em campo que Tiara Cabral identificou uma nova espécie de cogumelo, Geastrum inpaense, coletada no Campus do Inpa em Manaus. A descoberta demonstra que a Floresta Amazônica apresenta grande diversidade de cogumelos ainda desconhecidos, mesmo em lugares inusitados, como ao lado da cantina do Inpa.
“O nome de classificação dado à nova espécie é em homenagem ao local onde foi encontrada, o campus sede do Inpa”, explicou Tiara.
Para Jadson Oliveira, é importante frisar que o conhecimento sobre essa diversidade é útil não somente para a sociedade humana, mas também para se entender o papel que esses organismos desempenham no meio ambiente.
O projeto gerou dados que contribuíram na publicação de 15 artigos e dois livros. Entre estes destaca-se o livro “Ana amopö – Cogumelos Yanomami”, que recebeu o Prêmio Jabuti na categoria Gastronomia, em 2017.
Universal Amazonas – O programa tem o objetivo de financiar atividades de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, ou de transferência tecnológica, em todas as áreas do conhecimento, que representem contribuição significativa para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental do Amazonas, em instituição de pesquisa ou de ensino superior ou centros de pesquisa, públicos ou privados, sem fins lucrativos, com sede ou unidade permanente no estado. A última edição do Programa foi lançada em junho de 2019.