O que acontece quando um grupo de alunos resolve documentar a investigação sobre as dores, sofrimentos, obstáculos, omissões, qualidades, riquezas e processos de mudança dos homens na sociedade contemporânea? A resposta é o documentário O silêncio dos homens, que será lançado no segundo semestre de 2019 e teve a participação de alguns estudantes da rede pública de São Paulo.
Tudo começou no projeto Plano de Menino. Quinzenalmente, estudantes da Escola Técnica Estadual (Etec) Profª Drª Doroti Quiomi Kanashiro Toyohara se reuniam numa rodas de conversa sobre temas como masculinidade, violência contra mulher, carreira, relacionamentos e o papel do homem na construção de uma sociedade com mais equidade. A roda era mediada por psicólogos, jornalistas e advogados, entre outros profissionais.
Um desses encontros, com 20 meninos e 5 meninas, foi filmado e incluído no longa-metragem com entrevistas. “A gente pôde documentar como as questões de gênero são trabalhadas com os estudantes no ambiente escolar e mostrar como os jovens estão inseridos nesse tema, quais são as dificuldades e incertezas sobre a masculinidade”, avalia o diretor do filme, Ian Leite.
Essa não é a primeira vez que estudantes da unidade tomam partido na luta por uma sociedade melhor. Há três anos, estudantes participaram do projeto Plano de Menina, que trazia os temas para a perspectiva feminina. Para Eliane Malteze, diretora da unidade, além da melhora no desempenho acadêmico, foi possível perceber que elas estão mais conscientes das possibilidades profissionais e do lugar da mulher na luta pelo fim das desigualdades. “Já dá para notar que os meninos também começam a entender seu papel na sociedade, temos menos comentários machistas e sexistas, as relações entre eles melhoraram muito.”
Criado pela jornalista e empreendedora Viviane Duarte, o Plano de Menina nasceu em 2016 como uma plataforma de protagonismo da mulher. O objetivo era conectar, por meio de workshops, meninas de periferia a mulheres de diversas áreas do conhecimento e conteúdos transformadores. “É importante debater esse movimento de transformação e conscientização começando desde cedo e conectando diferentes gerações”, pondera Érica Miranda, professora da rede.
A versão masculina começou como projeto-piloto na Etec de Pirituba em março. “É importante que eles deixem de ser reféns de um sistema que marginaliza os meninos da periferia e acreditem que a violência e o crime não são a única alternativa”, explica Viviane. “Queremos que eles se tornem homens transformadores e inspiradores para a geração deles”, conclui.