14:04 – 13/11/2019
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Há quatro meses, Defensoria Pública do Estado conta com o trabalho de jovens com Transtorno do Espectro Autista
“A questão não é a limitação, mas como você lida com ela”. A reflexão é de Angélica Landim, mãe da jovem Giovanna, de 19 anos. Giovanna é autista e há quatro meses é estagiária da Defensoria Pública do Estado (DPE-AM). Buscando conscientizar a população sobre a necessidade de inclusão social, desde julho, a Defensoria tem em seu quadro de colaboradores dois estagiários com Transtorno do Espectro Autista.
Além de Giovanna, que atua na Corregedoria, a Defensoria também conta com Nivaldo Neto, 22, estagiando no Centro de Tecnologia da Informação da instituição. “No começo, foi um desafio para nós, por conta do trato e a nossa pouca experiência”, lembra a corregedora geral da DPE-AM, Melissa Borborema, sobre a chegada de Giovanna ao órgão.
Hoje, no entanto, a jovem desempenha plenamente suas funções apesar das dificuldades que tem com números e uso de notebooks, contam os colegas de Corregedoria. “Ela está se saindo bem. Mesmo com algumas limitações, vem cumprindo funções como o arquivamento de documentos e fazendo planilhas para nós. Estamos em um processo de aprendizado com ela. É uma troca”, afirma a assistente técnica Rosenilda Vieira.
Giovanna está cursando o 4º semestre do curso de Ciências Biológicas, na Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Mesmo com a diferença para a graduação que está cursando, já que na Defensoria a jovem trabalha com tarefas administrativas, ela está animada com a oportunidade. “Está sendo muito bom. É diferente do meu curso, mas é legal”, resume.
Ressignificando as limitações – O autismo é um transtorno neurológico caracterizado por comprometimento da interação social, comunicação verbal e não verbal e comportamento restrito e repetitivo. O ingresso de estagiários autistas na Defensoria Pública do Estado foi possível com a realização do projeto “Nosso Coração Também é Azul”, que, além da seleção para estágio, promoveu um seminário sobre o autismo em Manaus no último mês de abril.
Segundo Angélica Landim, mãe de Giovanna, o estágio tem sido importante para o crescimento pessoal da filha. “A gente quer ver se a Giovanna se responsabiliza. Ela fica muito com essa de ‘ah, eu sou deficiente, eu sou limitada’. Nós queremos com esse estágio tirar isso dela. A questão não é a limitação, mas como você lida com ela”, destaca Angélica.
Estagiando na Defensoria, os jovens recebem bolsa mensal de R$ 946,20. A coordenadora do projeto Nosso Coração Também é Azul, defensora pública Flávia Lopes, afirma ser um anseio da DPE-AM que empresas e órgãos públicos contem com mais autistas em seus quadros funcionais.
“É uma grande satisfação constatar que a contratação de estagiários autistas está sendo uma experiência extremamente bem sucedida, configurando uma inclusão real, não se resumindo a apenas um discurso, e tornando o ambiente de trabalho um local onde a diversidade é um fato concreto. O que deveria ser seguido por outras instituições. É preciso destacar que eles são capazes e funcionais”, avalia a defensora.
Surpresa positiva – Há tempos, Nivaldo Neto tem o hábito de levar para casa peças de computador que encontrava. O gosto pela informática levou o jovem a estudar Engenharia Mecatrônica. Hoje, cursando o 9º semestre da graduação na Universidade Paulista (Unip), o jovem está estagiando no Centro de Tecnologia da Informação da Defensoria. “Ele nos surpreendeu positivamente com a capacidade de organização. Logo quando ele entrou na Defensoria, viu alguns equipamentos que ele tinha conhecimento para consertar e já fez a manutenção”, recorda o chefe do Centro, Rudson Nunes.
Nivaldo foi diagnosticado com Síndrome de Asperger, um estado do espectro autista que afeta a forma como as pessoas percebem o mundo e interagem com outras. Como a mãe do rapaz, Cristiane Leão, define, Nivaldo é sério, fechado e concentrado. “Ele é antissocial, mas está se dando bem. Está gostando da Defensoria. No Centro de Tecnologia da Informação, o pessoal é mais concentrado. Como o Nivaldo é mais reservado, gostou”, conta a mãe.
Diante do sucesso da iniciativa, a Defensoria Pública do Estado está finalizando o segundo edital para a contratação de novos estagiários com Transtorno do Espectro Autista. “A Defensoria Pública acertou de mão cheia nessa oportunidade com os autistas. Nós ficamos muito satisfeitos. Realmente, os estagiários estão contribuindo muito com a Defensoria e a população do Amazonas”, comenta o defensor público geral, Rafael Barbosa.
A previsão é de que o novo processo seletivo para autistas seja lançado ainda em 2019.
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