12/09/19 14h40
ProtecPesquisadores de 30 países estão elaborando uma proposta com uma série de sugestões estratégicas para facilitar o acesso de produtos tecnológicos a mercados estrangeiros, a internacionalização de startups, a atração de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e a mobilização de pesquisadores que atuam fora de seu país de origem.
O intuito do documento, intitulado “São Paulo Framework of Innovation Diplomacy”, é pavimentar futuros estudos acadêmicos, estratégias de negócios e políticas relacionadas à diplomacia da inovação, que, embora tenha atividades práticas consolidadas, ainda é um termo recente no campo teórico e acadêmico.
O documento começou a ser elaborado durante a São Paulo School of Advanced Science on Science Diplomacy and Innovation Diplomacy , realizada no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), entre 21 e 30 de agosto.
O evento, organizado pelo Instituto de Relações Internacionais (IRI-USP), sob a coordenação acadêmica de Amâncio Jorge de Oliveira , teve apoio da FAPESP, na modalidade Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA), e reuniu 80 pesquisadores de diversas áreas do conhecimento para debater um tema que congrega a academia, empresas e o interesse dos países.
“O documento está passando por um processo de revisão e será aberto para consulta entre os participantes até ser divulgado oficialmente, a partir de outubro, no site da Escola”, disse Pedro Ivo Ferraz da Silva, um dos coordenadores do evento realizado na USP. Silva é diplomata de carreira e chefe do setor de Energia, Meio Ambiente e Ciência, Tecnologia e Inovação da Embaixada do Brasil em Nova Délhi, na Índia.
O tema já tem sido tratado no Itamaraty. “As embaixadas têm promovido missões de startups com o intuito de facilitar o acesso de empresas tecnológicas no exterior, processo conhecido como internacionalização. Há ainda a atividade que a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos [Apex-Brasil] faz para a atração de investimentos voltados especificamente à pesquisa e desenvolvimento”, disse Silva.
Diplomacia científica
A Escola abordou ainda a diplomacia científica, tema já estabelecido na academia e que vem ganhando relevância. Tanto que as diretrizes para a diplomacia da inovação seguem os passos de outro documento, sobre a diplomacia científica, criado em 2010 pela American Association for the Advancement of Science (AAAS), dos Estados Unidos, e pela Royal Society, do Reino Unido.
“A diplomacia científica está limitada à questão da pesquisa, sem pensar em impacto mercadológico, patentes, mediação técnica, comércio ou marketing internacional comum. Isso tudo é incorporado pela diplomacia da inovação de uma maneira sistemática. Portanto, colocar a diplomacia da inovação como um objeto central nesta Escola permite dar um salto em termos de impacto”, disse Oliveira.
Tradicionalmente, a diplomacia científica pode ser dividida em três aspectos. A primeira e mais comum delas, chamada de Science in diplomacy, ocorre quando a ciência serve de base para negociações diplomáticas. Entre os principais exemplos estão o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, da sigla em inglês) ou a Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, da sigla em inglês).
Um segundo aspecto diz respeito à criação de acordos de colaboração científica e pode ter a finalidade de resolver problemas comuns e construir parcerias internacionais construtivas. É a chamada Diplomacy for science.
“Há ainda um terceiro aspecto, e talvez mais original e difícil de ser atingido, que é a Science for diplomacy , quando a cooperação científica entre países ajuda na relação internacional e no diálogo político”, disse Pierre Bruno Ruffin, da Universidade de La Havre, França, durante apresentação na ESPCA.
Independentemente de qual interesse ou objetivo, para que esses três aspectos ocorram é preciso construir conexões entre ciência e diplomacia. “A comunidade científica não necessariamente conhece política externa, nem os diplomatas sabem como a ciência pode ser afetada ou beneficiada pelas relações internacionais e a situação geopolítica internacional”, disse Marga Gual Soler, conselheira em diplomacia científica para o EU Research & Innovation Commissioner.
Para Soler, essa falta de conexão e treinamento nas duas comunidades cria uma série de problemas no mundo atual. “Hoje temos desafios globais, como as mudanças climáticas. E temos tecnologias disruptivas, como inteligência artificial, blockchain, machine learning. Nesse cenário, novos atores vêm para a diplomacia, as empresas privadas, o que está mudando o cenário por completo”, disse Soler.