O Governo do Amazonas demonstra sua preocupação com a saúde indígena ao oferecer capacitação para agentes de saúde do interior poderem atuar melhor na área. Por meio do Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam), 1.530 profissionais participaram do segundo módulo do curso de “Qualificação de Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e Agentes Indígenas de Saneamento (Aisan)”. Esse é o primeiro curso do tipo, no Brasil.
O encontro de lideranças indígenas aconteceu durante duas semanas, na Fazenda Experimental da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), no Km 38 da BR-175 (Manaus-Boa Vista). O curso foi possível graças à parceria entre Cetam, Escola Técnica do Sistema Único de Saúde (SUS), Ufam, Ministério da Saúde (MS) e os sete Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) do Amazonas.
Além do aprendizado, a troca de experiências entre diferentes etnias colaborou para o sucesso do evento. A agente indígena de saúde Benedita Parintintim, 35, disse ter aprendido com os professores e também em conversas com colegas de profissão. Ela atua há nove anos na área, no município de Ipixuna (distante 1.366 quilômetros de Manaus em linha reta).
“Nesse segundo módulo, vi que é imprescindível o trabalho coletivo. A equipe de saúde precisa fazer o planejamento das visitas às aldeias e depois repassar tudo ao Dsei”, explicou Benedita, ressaltando que, assim, os dados daquela localidade serão computados e ajudarão nas futuras ações preventivas do MS.
Benedita, bem como outros “parentes” (é assim que se tratam os indígenas, mesmo sem laços sanguíneos), realiza um importante trabalho junto à equipe de médicos, enfermeiros e dentistas. Por dominar a língua indígena, é ela quem traduz os anseios dos 43 indígenas que moram na aldeia Canavial, em Ipixuna. “Conscientizamos o grupo, explicando que a medicina do índio tem que andar junto à medicina do branco”, informou.
Benedita Parintintim frisa que 50% do tratamento na aldeia é feito com remédios naturais. Os 50% restantes têm que ser com remédios adquiridos em farmácia. “Tem males que precisam de drogas específicas, como no caso de cânceres, por exemplo. É essa resistência dos mais velhos que precisamos romper.”
Dados atualizados – A enfermeira Danielle Santos, 36, é instrutora do Cetam e ministrou aulas nas duas semanas de curso na Fazenda Experimental da Ufam. De acordo com ela, o convívio com as diversas lideranças indígenas durante esse período foi extremamente enriquecedor. “Temos agentes com 18 anos de profissão e que não sabiam como o trabalho deles é importante!”
Segundo Danielle, os dados dos índios atendidos precisam estar atualizados para o Ministério da Saúde saber como está, de fato, a situação das etnias na região amazônica. Só assim, poderá corrigir as falhas e determinar ações preventivas ou emergenciais, se for o caso. “É aí que entram os agentes indígenas de saúde. Coletando corretamente os dados e repassando-os aos Dseis, sempre se saberá a realidade de cada aldeia.”
A Escola de Formação Profissional Enfermeira Sanitarista Francisca Saavedra é a unidade do Cetam que oferece os cursos técnicos na área de saúde, na capital. Segundo o diretor do Saavedra, professor Salatiel Gomes, os agentes indígenas são os principais interlocutores do conhecimento tradicional com a medicina ocidental.
“Eles participam ativamente no processo de organização e fortalecimento da atenção primária dos Dseis. Nesse sentido, o Cetam, em parceria com a Ufam, MS e Dseis, busca, por meio desta capacitação, qualificar os processos de trabalho, resultando em melhorias na saúde da população indígena”, diz Salatiel.