Em 22 e 23 de agosto, a capital paulista recebeu as atividades do Fórum do Conselho das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap), que abordou a importância e os desafios das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs).
Vale destacar que as instituições, além de apoiar projetos científicos e tecnológicos, desempenham outro papel no sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação do Brasil: estimular o empreendedorismo tecnológico por meio do financiamento de projetos de startups.
A avaliação foi feita por participantes de uma mesa-redonda sobre inovação, que foi realizada durante o evento que reuniu representantes de FAPs de 23 estados do País. “Temos uma expectativa muito grande em relação ao trabalho que a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a Fapesp, e outras FAPs desempenham em relação ao estímulo ao empreendedorismo tecnológico”, afirmou a secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado, Patricia Ellen, à Agência Fapesp.
“O Pipe, Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas, da Fapesp, tem tido um altíssimo sucesso e contribuído para o surgimento de startups altamente tecnológicas no país, que receberam muito investimento tanto da fundação como de universidades e instituições de pesquisa em São Paulo”, completou.
Recorde
Em 2018, o Brasil registrou um número recorde de “unicórnios”, startups cujo valor de mercado superou US$ 1 bilhão. Ao todo, cinco empresas alcançaram esse patamar. De acordo com Patricia Ellen, alguns dos fundadores dessas empresas como, por exemplo, Guilherme Pinho Bonifácio, da iFood, foram formados em universidades estaduais paulistas.
Em seus 22 anos de existência, o Pipe-Fapesp já apoiou mais de 2,3 mil projetos de pesquisa de micro e pequenas empresas no Estado. As propostas mais promissoras apoiados pelo programa, em termos de potencial de mercado, são aqueles com maior “ciência forte” associada, na avaliação do coordenador-adjunto de Pesquisa para Inovação da Fapesp, Sérgio Robles Reis de Queiroz.
“Nossa experiência com a iniciativa mostra que os projetos apoiados mais promissores, em termos de impacto, são aqueles que têm por trás não só ciência na fronteira do conhecimento, mas também equipes bem treinadas e muito qualificadas”, salientou à Agência Fapesp.
São justamente essas empresas com mais “ciência forte” e equipes bem qualificadas que receberam investimentos do Fundo de Inovação Paulista (FIP), um fundo de capital de risco que conta com aporte de recursos da Fapesp, da Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep), do Sebrae e da Desenvolve SP, ressaltou Francisco Jardim, CEO da SP Ventures, gestora do FIP.
Tecnologias
Juntas, as agências participantes do FIP alocaram nos últimos anos R$ 65 milhões no fundo, direcionado para startups de base tecnológica no Estado, com ênfase nos setores de tecnologias agropecuárias (agritechs), tecnologias em saúde (healthtechs) e tecnologias financeiras (fintechs).
A iniciativa capturou mais de R$ 20 milhões no Brasil e mais o mesmo valor no exterior, o que permitiu aumentar o patrimônio para R$ 105 milhões. “A ideia do fundo se encaixou muito bem com o programa Pipe, da Fapesp, que tem financiado projetos de empresas com maior potencial de ganhar escala”, explicou Francisco Jardim à Agência Fapesp.
De acordo com Ricardo Pelegrini, CEO e cofundador da empresa de consultoria Quantum4 Innovations Solutions, há uma carência de startups com mais “ciência forte” no Brasil para desenvolver projetos com grandes empresas.
“Um dos desafios do empreendedorismo tecnológico no Brasil que impede que ganhe a mesma escala em comparação com outros países é que as grandes empresas estabelecidas no País não estão abrindo as portas para as startups na mesma velocidade com que fazem no exterior pela falta de ciência nos projetos”, disse à Agência Fapesp.
Capacitação
Para Marcelo Nakagawa, professor de empreendedorismo e inovação do Insper e membro da coordenação da área de pesquisa para inovação da Fapesp, também é preciso capacitar os pesquisadores e empreendedores tecnológicos em novas abordagens de desenvolvimento de negócios.
“Há uma série de novos conceitos que os principais empreendedores do mundo já dominam, como design thinking, um conjunto de ideias para abordar problemas, mas que os pesquisadores e empreendedores aqui no Brasil ainda não conhecem”, afirmou.
Na avaliação de Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da Fapesp, outro desafio para o empreendedorismo tecnológico no Brasil está relacionado à propriedade intelectual.
As startups brasileiras têm muito menos patentes e receitas oriundas de propriedade intelectual em comparação com as norte-americanas, por exemplo, em razão da demora do processo de registro no Brasil, disse Pacheco.
“Os fundos de capital de risco não se preocupam mais se as startups no Brasil estão depositando patentes porque, ao demorar 14 anos para obterem a concessão, a patente não tem o menor valor”, ressaltou.