Dois jogos e uma semana de treinos foram suficientes para Pia Sundhage tirar as primeiras conclusões para a sequência do trabalho no comando da seleção feminina de futebol. Depois da goleada por 5 a 0 sobre a Argentina, na última quinta-feira (29), as brasileiras não repetiram o bom futebol no domingo (1º), debaixo de muita chuva, contra o Chile. Após um empate sem gols no tempo normal, o Brasil perdeu nos pênaltis por 5 a 4 e ficou com o vice do Torneio Internacional de Futebol Feminino, no Pacaembu, em São Paulo.
A sueca entende que o grupo precisa de lideranças dentro de campo que ajudem o time a mudar o panorama de uma partida em condições adversas. “No início do jogo (contra as chilenas), por exemplo, o gramado estava ruim e o futebol das nossas jogadoras não fluía. Isso não estava bom. Era preciso jogar diferente, e uma líder para isso. Tentamos mostrar que, naquelas condições, era óbvio não atuar pelo meio. Depois, a condição do gramado mudou, e aí é claro que deveríamos explorar o meio”, explicou.
“O que acontece em uma partida é complexo, por isso é importante encontrarmos uma líder na defesa, uma no meio, talvez uma mais à frente. Ou seja: ter ao menos três jogadoras que espalhem a mensagem às demais”, completou a treinadora, que é bicampeã olímpica dirigindo a seleção dos Estados Unidos.
A competição disputada em São Paulo teve caráter amistoso. O primeiro grande desafio de Pia será mesmo a Olimpíada de Tóquio, no ano que vem. Apesar do pouco tempo com a nova técnica, algumas das principais jogadoras da Seleção estão otimistas com o trabalho até os Jogos no Japão.
“Acho que esse jogo (com o Chile) não reflete o que ela nos vinha mostrando. A partir daqui, vocês verão que estamos tendo uma grande evolução, até já nos próximos amistosos. Ela teve só uma semana para nos preparar e já deu para ver a mudança. Imaginem então até a Olimpíada? Sabemos do potencial dela, que vai buscar o melhor de cada jogadora. E (a derrota para o Chile) vai ser bom, pois acredito que ela também odeie perder, então verá onde ela errou, onde nós erramos, e vamos nos acertar”, disse a atacante Andressa Alves.
“Ela simplifica bastante, faz com que peguemos rápido o que ela passa. Claro, tem a vontade de todas quererem aprender. Mesmo com a derrota (nos pênaltis), temos totais motivos para comemorar. Acreditamos no trabalho dela, que chegaremos bem em Tóquio. Temos uma treinadora top, uma baita bagagem, que vai ajudar o futebol feminino no Brasil”, acrescentou a meia Formiga, de 41 anos e a caminho da sétima Olimpíada pelo Brasil.
No caminho até Tóquio, a Seleção tem, por enquanto, dois amistosos pela frente, contra Inglaterra e Polônia, além de um torneio amistoso na China — as datas ainda não estão definidas. A expectativa é que Pia possa observar jogadoras que não estiveram nessa primeira convocação e atletas que foram chamadas, mas ainda não tiveram oportunidades. Caso das jovens Yayá, meia de 17 anos que defende o São Paulo, e Victoria Albuquerque, 21 anos, atacante do Corinthians.
“Elas estarem aqui as encoraja para que sigam trabalhando em seus clubes e as coloca em vantagem em relação a outras meninas. Sabemos da nossa importância para essas meninas, de ajudá-las a continuar acreditando. Daqui alguns anos, eu não estarei mais na Seleção, nem Marta e Cristiane. Então, elas realmente precisam dessas oportunidades. E se a Pia resolver trazer mais meninas na idade delas, é bom. Mesmo não jogando, elas pegam experiência, vão se adaptando ao ambiente”, concluiu Formiga.
Edição: Verônica Dalcanal